Gleidson e Print prometem melhor relação entre Prefeitura e Câmara

Apesar disso, prefeito critica atuação de vereadores: “é fácil aparecer na terça e na quinta e só descer o cacete”

 

Bruno Bueno

2022 foi um ano com atritos entre a Câmara e a Prefeitura. Salvo os vereadores da base, o prefeito Gleidson Azevedo (PSC) recebeu críticas por muitos parlamentares, incluindo o presidente do Legislativo, Eduardo Print Júnior (PSDB).

Os dois representantes participaram, na última semana, da mesa redonda promovida pelo Jornal Agora para fazerem o balanço do ano na política. Entre críticas e sugestões, a meta estipulada por ambos é clara: melhorar a relação entre os poderes. 

Print elogia Gleidson: “amadureceu”

 

Apesar de ter feito inúmeras críticas ao prefeito durante o ano passado, Print Júnior reconhece que, em sua opinião, o chefe do Executivo  amadureceu em relação a 2021.

— No decorrer do mandato isso já vem acontecendo. 2021 foi marcado por discussões bem mais acaloradas. O próprio prefeito, na sua inexperiência, falou algo que deixou mágoas e cicatrizes em um ou outro vereador. Em 2022 ele teve mais zelo em usar as palavras. Eu reconheço isso. O Gleidson teve esse amadurecimento — pontua.

O presidente do Legislativo Municipal quer um terceiro ano mais tranquilo para trabalhar por Divinópolis.

— 2023 é um ano ímpar, de experiência e sem eleição, portanto tem tudo para ser mais tranquilo para se trabalhar — completa.

Gleidson quer relação boa, mas critica vereadores

O prefeito da maior cidade do Centro-Oeste mineiro também se comprometeu a melhorar a relação entre Executivo e Legislativo. 

— De minha parte, com certeza. Sou o cara mais humilde. O Executivo sempre estará de portas abertas para todos os 17 [vereadores]. Eu só acho que a Câmara deveria ser mais séria. (...) É um lugar para criar projetos, ajudar o prefeito a governar a cidade. Um prefeito sozinho não vai dar conta. Fiscalizar o que tem que ser fiscalizado — ressalta.

Contudo, ele não poupou críticas à atuação de alguns vereadores.  Gleidson citou o exemplo da área da Saúde, chefiada pelo secretário Alan Rodrigo. 

— O que as vezes eu fico nervoso é que para o vereador é muito bom. Terça e quinta é só descer o cacete, mas nunca ouve o outro lado. O pessoal fala muito do secretário. Eu não estou dizendo que ele é santo, mas é muito técnico. Às vezes, a demanda que chega é política e eles ficam nervosos quando não são atendidos — opina.

“Vereadores têm que ter mais responsabilidade”

O chefe do Executivo também pediu que os vereadores concedessem direito de resposta para a Prefeitura quando fizessem alguma crítica. Ainda citou, por exemplo, a emenda apresentada pelo vereador Flávio Marra (Patriota) ao projeto que concedeu 99% de desconto em juros e multas de tributos municipais.

— Um projeto de anistia, que é para ajudar a população, virou isso. Quis me prejudicar, mas quase prejudicou a cidade. Alguém já viu algum prefeito enviar proposição para diminuir imposto em Divinópolis? Eu já mandei duas vezes e, mesmo assim, um vereador quis jogar um projeto em cima do meu, mesmo o procurador da Câmara dizendo que sua emenda era ilegal — explica. 

Por fim, Gleidson disse que os vereadores precisam ter mais responsabilidade fiscal com os recursos da Prefeitura.

— São R$ 41 milhões para a Câmara, R$ 20 milhões de folha de pagamento e demanda 24 horas dos parlamentares e da população. Tem que ter esse diálogo para levar a informação certa para os divinopolitanos — finaliza.

Desentendimento 

Durante o debate, Gleidson (G) e Print (P) tiveram um desentendimento sobre o valor exato de recursos enviados pela Prefeitura para a Câmara. O prefeito afirmou que foram R$ 77 milhões em dois anos, mas Print alega ser R$ 41 milhões. 

G: — Você sabe quanto dinheiro a Câmara recebeu da Prefeitura nestes dois anos?

P: — R$ 40 milhões.

G: — R$ 77 milhões. Eu acho que esse valor para a Câmara Municipal…

P: — Não, não. Em 2021, foram R$ 21 milhões. Em 2022, também.

G: — É só você somar o orçamento. Mas, de qualquer maneira…

P: — É 6% do orçamento. Mas eu não pedi para você fazer complemento. Usei, em 2021, R$ 20 milhões e alguma coisa. Em 2022, fechei com R$ 21 milhões em alguma coisa. Eu poderia ter requerido até mais, porém não fiz. Eu realizei dentro do planejamento.

G: — Eu estou falando que a Prefeitura envia muito recurso para que alguns vereadores, por exemplo, marquem de brigar em frente ao Poliesportivo. 

Opinião de fora

Deputado federal reeleito, Domingos Sávio (PL) também participou do debate e opinou sobre a discussão. Vale lembrar que o político já foi vereador e prefeito de Divinópolis na década de 90.

— Ouço com serenidade e acho que nós vamos ter que continuar tendo essa palavra de conciliação. Já procurei trazer isso, tanto conversando com o prefeito quanto com os vereadores. Já estive dos dois lados, fui vereador e prefeito. É preciso deixar claro: para conseguir o equilíbrio, é preciso respeitar os dois lados — opina.

Na vida política há quase 30 anos, Domingos garante que é impossível dizer que um cargo tem mais importância que o outro.

— Não dá para imaginar uma cidade sem Câmara. Seria voltar ao atraso do coronelismo de antigamente, onde um decide e impõe para os outros. Imagina isso aqui? O papel do prefeito é importantíssimo, pois representa os anseios da população. O papel do vereador também, pois ele é o elemento de contato diário com os moradores — explica.

O deputado também aproveitou a oportunidade para criticar a fala de Gleidson.

— Às vezes, Gleidson, você pensa isso por não ter passado pela Câmara. Mas é preciso que fique claro: o vereador não trabalha só terça e quinta. (...) Eles trabalham muito mais fora da Câmara. Dentro do Legislativo é uma rotina. Você tem que estar lá, dar parecer, votar e cumprir o ritual. As demandas aparecem fora da Câmara — finaliza.

Gleidson não rebateu, mas levantou um debate sobre a necessidade de uma reforma política no Brasil: 

—  Antes de ser vereador, o político tem que ser prefeito. Para ver o que um chefe do Executivo passa — defendeu.

Domingo finalizou afirmando que precisa ser ao contrário. A primeira experiência tem que ser como vereador.

 

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