Fim do palanque?

Editorial

Sem sombra de dúvidas a pandemia da covid-19 trouxe danos irreparáveis para todos os brasileiros, aliás, para a humanidade. Não haverá um ser humano no mundo que sairá disso sem ter sido atingido, seja financeiramente, seja com a perda de familiares e/ou amigos próximos ou ainda com a saúde mental desgastada. Não existem palavras capazes de mensurar o que o brasileiro especificamente está passando e não existe sequer previsão para os próximos meses, anos, e como tudo isso será superado. Mas, em meio ao caos instalado pela falta de gestão pandêmica, Divinópolis terá algo positivo: a – possível – conclusão do Hospital Público Regional Divino Espírito Santo. Caso o Governo do Estado cumpra a sua promessa e faça o repasse dos R$ 3,6 milhões para a conclusão da obra – que será transformada em um hospital de campanha para receber pacientes covid –, este, sim, será um ganho que é possível mensurar o seu tamanho. 

Em junho, a construção completa 11 anos desde seu início – já o mês de abril marca cinco anos de interrupção da obra. E não é possível contar nos dedos quantos políticos utilizaram a construção como palanque. Não dá para contar quantos votos aquele hospital parado rendeu e, ainda, quantas pessoas acreditaram piamente que algum candidato estava falando a verdade. Agora, com a real possibilidade de a obra ser concluída, a única previsão possível de se fazer neste momento é: vai ter muito político órfão de obra na próxima eleição. Muitos dizem por aí que o Brasil é um projeto que tem dado certo sim: o país não passa de um enorme projeto da classe política que pensa apenas em si mesma. Começar grandes obras e deixá-las pela metade não é nada mais que estratégia política. Afinal, alguém tem que ser o “pai” da construção e conseguir tirar durante anos a fio o máximo possível de votos que ela der. 

Investimentos na saúde, na educação, na infraestrutura são suficientes para garantir a continuidade deste grande plano orquestrado, que muitas vezes parece teoria da conspiração. Mas, se olhar bem, com muito cuidado, ele não é tão mirabolante assim e é mais real do que muita gente imagina. O caos instalado obrigou o Governo do Estado a dar um rumo àquela obra – que até então estava fadada a continuar abandonada por no mínimo dois anos –, para que a catástrofe não seja ainda maior. O pior momento da pandemia obrigou as autoridades a tomarem decisões que trarão impactos políticos ainda imensuráveis e derrubar uma ponte política muito bem estabelecida, muito sólida. Como dizia o poeta: “nada é perdido, de tudo tira-se experiência”. Sim! É verdade! Caso o Executivo Estadual cumpra a sua promessa e coloque abaixo a ponte eleitoral instalada há 11 anos no bairro Realengo, nem tudo foi apenas dor e sofrimento. 

Vivemos tempos difíceis, sombrios, mas capazes de causar transformações gigantescas. O desejo para hoje é que esta ponte política seja quebrada e o Hospital Regional seja finalizado para enfim cumprir o papel que lhe cabe: salvar vidas! Se não foi por “amor”, que infelizmente seja pela “dor”. No mais, aguardamos ansiosamente os discursos políticos sem obra para ser concluída. 

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