Eu amo Divinópolis

Augusto Fidelis

 

Eu amo Divinópolis

No fim de abril de 1976, eu havia retornado a Carmo da Mata depois de uma temporada de nove meses na cidade de Bom Jardim de Minas, onde experimentei o meu primeiro emprego. Minha mãe encontrava-se em Belo Horizonte em tratamento de câncer no útero; minha irmã entregue aos cuidados de pessoas amigas; um irmão cuidava da casa e os outros mundo afora, cada um na sua lida em busca do pão.

Carmo da Mata não me oferecia nenhuma condição de permanência, então aonde ir? No início de maio, na busca frenética por uma nova ocupação, mas sem saber o que fazer, adentrei à igreja de Nossa Senhora do Carmo a fim de pedir ajuda e proteção. Quando saí, encontrei-me com uma senhora chamada Jandira, que fora cantineira do Grupo Escola Silviano Brandão, onde concluí o quarto ano do ensino fundamental.

Jandira quis saber o que se passava comigo e, ao ouvir o meu relato, deu-me um norte: vir a Divinópolis procurar a sua sobrinha, a professora Lazinha, que conhecia muita gente, talvez pudesse me ajudar. De posse do endereço, vim, Lazinha me recebeu, porém, disse que não havia como me ajudar, no entanto, encaminhou-me para o padre Miguel, que conhecia muito mais gente. Padre Miguel me pediu para retornar na quarta-feira seguinte, deu-me uma carta para ser levada ao Sr. Nícolas, na Pains, solicitando-o que me ajudasse, caso fosse possível. 

No dia 25 de maio, cheguei a esta cidade para morar, sem saber por quanto tempo, mas pude ficar na Pains por cinco anos e três meses. Como copeiro, nunca neguei um cafezinho a quem pedisse e, com isso, fiz amizades sólidas, que ainda se mantêm. Eu morava num dos quartos de fundo de uma pensão na rua Rio de Janeiro, onde hoje se encontra o JB Palace Hotel. O quarto era muito pequeno, eu não tinha como virar a cama em dias de chuva, o que me obrigava a dormir sentado nos pés devido a uma enorme goteira na cabeceira. 

Apesar de muitas dificuldades, nunca tive de dormir na rua e nem passei fome, apesar de que, em determinado tempo, não pude mais jantar, pois o dinheiro dava apenas para o almoço. Eu persisti e esta cidade me deu trabalho, dois cursos superiores, casa, carro e o mais precioso: muitos amigos. Divinópolis é o oásis que eu encontrei quando me perambulava pelo deserto da minha existência. Divinópolis é meu porto seguro em meio às tempestades que assolam o oceano.

Não sendo eu nativo, Divinópolis fez de mim um cidadão honorário e me empresta seus adornos de pedras preciosas, para que eu brilhe tal qual um divinopolitano da melhor estirpe. Divinópolis é o torrão maravilhoso que me oferece encantos mil, cidade oficina, de filhos leais, que me acalenta e me faz tão feliz. Eu amo Divinópolis! Para sempre hei de amá-la! Rogo a Deus que derrame sobre si bênçãos sobre bênçãos nestes 110 anos de emancipação.

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