Espino não foi notificado em processo de cassação

Vereador aguarda Comissão Processante; em discurso surpreendente ontem, agradeceu Flávio Marra, autor da denúncia

 

Bruno Bueno

O vereador Diego Espino (PSC) ainda não apresentou defesa no processo que pede sua cassação na Câmara de Divinópolis. A informação foi confirmada pela assessoria do parlamentar nesta semana. Conforme as informações, o vereador aguarda ser notificado pela Comissão Processante do caso.

Espino foi denunciado por Flávio Marra (Patriota) no início do mês. O vereador do PSC é acusado de infração político-administrativa por quebra de decoro parlamentar. A admissibilidade do processo foi aprovada pela Câmara na semana passada.

 

Fim da briga?

Espino surpreendeu ao usar a tribuna da Câmara na tarde de ontem. O vereador contou aos colegas que voltou a ter uma experiência religiosa, parabenizou os políticos que votaram a favor da admissibilidade da denúncia e agradeceu Flávio Marra, seu principal desafeto no Legislativo.

— Eu tive um relacionamento de dez anos onde eu aprendi a conhecer o amor de Cristo. Quando eu perdi esse relacionamento, também perdi a minha estadia na igreja. Eu só tenho que te agradecer, vereador Flávio Marra. Essa nossa briga me fez voltar ao berço de Deus e conhecer o amor divino. (...) A partir de hoje não vou mais buscar os defeitos dos homens, vou deixar isso para Deus — afirmou.

 

Comissão

A Comissão Processante, responsável pela condução da investigação, é formada pelos vereadores Ademir Silva (MDB), presidente; Israel da Farmácia (PDT), secretário; e Wesley Jarbas (Republicanos), membro da pasta. 

De acordo com a assessoria da Presidência da Câmara, a Comissão já se reuniu duas vezes para formular a notificação oficial, que será direcionada a Espino.

— Já tiveram duas reuniões. A notificação feita pela Comissão está sendo redigida. Assim que ficar pronta, o próximo passo é aguardar a apresentação da defesa do Espino — informou à reportagem.

 

Defesa

Em nota enviada ao Agora, a assessoria do vereador Diego Espino (PSC) detalhou os próximos passos da condução do processo. 

— Estamos aguardando a notificação para apresentarmos a defesa escrita. Depois de notificado, o vereador tem 10 dias para apresentar sua defesa prévia — pontuou.

Os trâmites já haviam sido descritos pelo presidente da Câmara, vereador Eduardo Print Júnior (PSDB), em entrevista ao Agora na semana passada.

— Dentro de cinco dias, a Comissão precisa dar direito de resposta ao denunciado e, após outros 10 dias, a pasta receberá a defesa do Espino por meio de testemunhas e, a partir disso, o processo segue — afirmou.

 

Denúncia

Entre os pontos da denúncia protocolada por Marra estão o constrangimento de servidores, acusações aos vereadores de ligação com ilegalidades, atuação política fora de Divinópolis, intimidação de profissionais da imprensa, ataque à honra da família da vereadora e agressão verbal contra os colegas da Casa. 

Marra argumenta que protocolou a denúncia após observar diversas irregularidades que teriam sido cometidas por Diego Espino. O parlamentar acusado, por sua vez, classifica o episódio como “vingança pessoal” e afirma ser perseguido no Legislativo. 

Antes do processo de cassação, Espino foi alvo de cinco denúncias na Câmara. Todas foram arquivadas pela Comissão de Ética.

 

Votação e acusações

A votação que aprovou a admissibilidade do processo terminou em 9 a 8. A maioria foi composta por: Ademir Silva (MDB), Eduardo Augusto (PSL), Hilton de Aguiar (MDB), Israel da Farmácia (PDT), Lohanna França (PV), Ney Burguer (PSB), Roger Viegas (Republicanos), Sargento Ronaldo (Patriota) e Eduardo Print Júnior (PSDB).

Ana Paula do Quintino (PSC), Edsom Sousa (CDN), Eduardo Azevedo (PSC), Josafá Anderson (CDN), Rodrigo Kaboja (PSD), Rodyson do Zé Milton (PV), Wesley Jarbas (Republicanos) e Zé Braz (PV) votaram contra a continuidade da denúncia.

Marra acusou o prefeito Gleidson Azevedo (PSC) de interferir diretamente na votação. Segundo o vereador, o chefe do Executivo ofereceu vídeos e recapeamento asfáltico em locais estratégicos a vereadores em troca de votos contra a admissibilidade do processo.

— Eu fico muito triste.  Já vi, na gestão passada do ex-prefeito Galileu, trocar voto por cargo a troco de obras, mas agora o prefeito Gleidson foi além. O prefeito está trocando voto de alguns vereadores, inclusive que assinaram a representação, por vídeo — pontuou.

Questionada pela reportagem, a Prefeitura de Divinópolis negou que os vídeos feitos pelo prefeito sejam usados como moeda de troca.

— O prefeito Gleidson, desde que tenha fundamento, grava vídeos com todos os vereadores e com todas as pessoas que o procuram, com caráter meramente informativo. Os vídeos feitos pelo prefeito não são exclusivos a algumas pessoas ou vereadores, como pode ser acompanhado nas redes sociais do prefeito. Tais vídeos não constituem qualquer tipo de "moeda de troca" ou vinculação a quem quer que seja a favores — ressaltou.

 

Mais farpas

Indignado com o resultado da votação, Diego Espino prometeu “revelar a verdade dos fatos” por meio de vídeos que supostamente comprovam sua inocência. O primeiro deles foi divulgado na última sexta. Além de explicar sua versão da história, Espino denunciou que os assessores de Flávio Marra trabalhavam na loja do vereador durante o horário em que eles deveriam estar na sede do Legislativo. 

— Me chamou a atenção porque em diversas vezes eu vi assessores do parlamentar trabalhando no local. Um dia eu avistei o chefe de gabinete no estabelecimento e posso confirmar que ele estava trabalhando lá — denunciou.

Marra rebateu as acusações e disse que o vídeo divulgado pelo colega foi editado de forma tendenciosa. 

— Recebi esse vídeo do outro vereador e fiquei espantado pela edição muito mal feita que ele fez com vários cortes. Eu tenho um vídeo que mostra o que realmente aconteceu naquele dia. (...) A verdade dos fatos tem que ser apurada — afirmou ao Agora.

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