Espino é derrotado em votação apertada

Vereador será investigado e pode perder o mandato; Marra, autor da denúncia, acusa prefeito de “comprar” votos para Diego com vídeos e promessas

Bruno Bueno

12 de abril de 2022. O que foi uma simples terça-feira para muitos divinopolitanos se tornou uma data que será lembrada por muito tempo na Câmara. Os vereadores aprovaram ontem a admissibilidade da denúncia protocolada por Flávio Marra (Patriota) contra Diego Espino (PSC). Ele é acusado de infração político-administrativa por quebra de decoro parlamentar.

Após a leitura da denúncia que, somada aos anexos (fotos, arquivos de site de notícias e um Boletim de Ocorrência), contém 33 páginas, a votação começou. A disputa foi acirrada e estava empatada em oito votos para cada lado. Eduardo Print Júnior (PSDB), presidente da Casa, desempatou o confronto e decidiu pela continuidade do processo.

 

Denúncia

Entre os pontos da denúncia estão o constrangimento de servidores, acusações aos vereadores de ligação com ilegalidades, atuação política fora de Divinópolis, intimidação de profissionais da imprensa, ataque à honra da família de vereadora e agressão verbal contra os colegas da Casa. 

Marra argumenta que protocolou a denúncia após observar diversas irregularidades que teriam sido cometidas por Diego Espino. O parlamentar acusado, por sua vez, classifica o episódio como “vingança pessoal”.

 

Votos

A votação acirrada terminou em 9 a 8. Ademir Silva (MDB), Eduardo Augusto (PSL), Hilton de Aguiar (MDB), Israel da Farmácia (PDT), Lohanna França (PV), Ney Burguer (PSB), Roger Viegas (Republicanos), Sargento Ronaldo (Patriota) e Eduardo Print Júnior (PSDB) votaram a favor da admissibilidade da denúncia.

Ana Paula do Quintino (PSC), Edsom Sousa (CDN), Eduardo Azevedo (PSC), Josafá Anderson (CDN), Rodrigo Kaboja (PSD), Rodyson do Zé Milton (PV), Wesley Jarbas (Republicanos) e Zé Braz (PV) votaram contra a continuidade da denúncia.

No começo do ano, nove vereadores assinaram uma representação protocolada na Comissão de Ética contra Diego Espino: Marra, Josafá, Ney, Zé, Lohanna, Print, Hilton, Roger e Ademir. Desses, apenas Ney Burguer e Zé Braz se manifestaram pela rejeição da denúncia.

 

Suplentes

Envolvidos diretamente com o processo, os vereadores Flávio Marra (Patriota) e Diego Espino (PSC) não participaram da votação. Suplentes diretos, Sargento Ronaldo (Patriota) e Eduardo Augusto (PSL, partido pelo qual Espino foi eleito) foram convocados a comparecer no Legislativo Municipal. Ambos votaram favoráveis à admissibilidade da denúncia.

Ronaldo Jardim, sargento da Polícia Militar, recebeu 790 votos nas últimas eleições e é suplente de Marra. Eduardo Augusto, por sua vez, é advogado e recebeu 644 votos. Ele será o substituto caso Diego Espino perca o mandato. Após a votação, ambos se retiraram do plenário.

 

Nas redes sociais, Eduardo Augusto justificou seu voto favorável.

— Tem políticos em Divinópolis que pregam a mudança, o fim da política velha, mas queriam que eu arquivasse a denúncia. Repensem para que vieram. Arquivar o procedimento é um ato imoral. Tem o denunciado, agora, o direito à ampla defesa e contraditório. Ao fim, vota-se sua manutenção ou sua condenação. Isso é o certo, correto, ético e moral — afirmou.

 

Flávio Marra

O autor da denúncia, Flávio Marra, ressaltou que várias denúncias  contra Diego Espino foram protocoladas na Comissão de Ética desde o início da atual legislatura.

— É uma série de denúncias que já foram feitas na Comissão de Ética desta Casa. Quatro delas foram feitas, não só por mim, mas por outros vereadores. Inclusive, essa última denúncia teve assinatura de nove dos 17 vereadores pedindo à Comissão de Ética uma atitude em resposta à conduta de Diego Espino — disse. 

 

Marra criticou o posicionamento da Comissão de Ética em relação às denúncias e disse que não encontrou outra saída que não envolvesse o pedido de cassação.

— São várias irregularidades que eu posso falar com muita tranquilidade sobre a falta de ética que está tendo pelo vereador e nenhuma atitude foi tomada pela Comissão. A gente não viu outra saída a não ser entrar com esse pedido de cassação. (...) Não estamos lutando para cassar o Espino, mas, sim, votando pela admissibilidade da denúncia — afirmou.

 

Após a votação, Marra se mostrou surpreso com o posicionamento de quatro vereadores que, segundo ele, assinaram uma representação contra Espino e, mesmo assim, votaram contra o prosseguimento da denúncia.

— Estou com a consciência tranquila e agora cabe aos vereadores, através da Comissão, analisar se houve ou não irregularidades. Eu vou acompanhar sem forçar. (...) Quatro colegas vereadores me surpreenderam. Assinaram uma representação contra o vereador na Comissão de Ética e hoje votaram a favor dele. Fico me perguntando o que tem por trás — concluiu.

 

Interferência de Gleidson?

Marra também acusou o prefeito Gleidson Azevedo (PSC) de interferir diretamente na votação. Segundo o vereador, o chefe do Executivo ofereceu vídeos e recapeamento asfáltico em locais estratégicos a vereadores em troca de votos contra a admissibilidade do processo.

— Eu fico muito triste.  Já vi, na gestão passada do ex-prefeito Galileu, trocar voto por cargo a troco de obras, mas agora o prefeito Gleidson foi além. O prefeito está trocando voto de alguns vereadores, inclusive que assinaram a representação, por vídeo — pontuou.

 

O parlamentar definiu a suposta interferência de Gleidson como “manobra política”.

— O prefeito foi em três bairros da cidade falando que vai asfaltar. Isso não é de graça. A gente fica triste em saber que o prefeito interferiu em uma manobra política. Logo ele, que fala que não é político, mas interferiu de uma maneira política para beneficiar um amigo, o colega Diego Espino — ressaltou.

 

Marra garante que não realizou manobras em busca de votos favoráveis à admissibilidade da denúncia.

— Eu tenho a cabeça bem tranquila de que eu não fiz nenhum tipo de manobra. Não fui em nenhum gabinete pedir voto a favor ou contra, não liguei pra nenhum vereador, não mandei nenhuma mensagem. Estou vendo meu suplente agora pela primeira vez. O voto é do vereador e não devemos interferir nisso. O que votamos hoje vai ficar nos anais desta Casa e na cabeça da população de Divinópolis — acrescentou.

 

Prefeitura

Questionada pela reportagem, a Prefeitura de Divinópolis negou que os vídeos feitos pelo prefeito sejam usados como moeda de troca.

— O prefeito Gleidson, desde que tenha fundamento, grava vídeos com todos os vereadores e com todas as pessoas que o procuram, com caráter meramente informativo. Os vídeos feitos pelo Prefeito não são exclusivos a algumas pessoas ou vereadores, como pode ser acompanhado nas redes sociais do Prefeito. Tais vídeos não constituem qualquer tipo de "moeda de troca" ou vinculação a quem quer que seja a favores — ressaltou.

 

A assessoria do Executivo Municipal também afastou a ideia que obras realizadas pelo Executivo são decorrentes de negociações.

— Com relação às obras públicas na cidade, são realizadas através de emendas parlamentares e transferências de recursos, e as decisões para determinação daquelas que serão executadas dependem da existência de recursos e de prévia análise técnica, por equipe de engenharia da Prefeitura, a qual segue todos os critérios de viabilidade, urgência, disponibilidade de recursos, legalidade, dentre outros — esclareceu.

 

Diego Espino

A reportagem também conversou com Diego Espino. Ele garantiu que está tranquilo com a investigação e prometeu continuar defendendo a população. Espino afirmou ser "imbatível" e que continuará falando sobre as coisas que classifica como erradas.

— Eu entrei na política para fazer a diferença. Eu sou imbatível e vou pra cima do sistema mesmo. Posso dizer que eu sou inconformado com a política. Estou como político, mas sou cidadão. Estou aqui para defender a população e falar sobre as coisas erradas que acontecem aqui. Se eles querem me tirar, que me tirem. Mas eu vou continuar indo para cima deles sempre — pontuou.

 

Perseguição

Espino diz ser vítima de perseguição na Câmara pela forma como trabalha no Legislativo Municipal. Para ele, o tempo mostrará a realidade dos fatos.

— Existe um político que é tranquilo ao ver situações e existe o Diego Espino que não se cala a determinadas situações. O tempo trará justiça. Ética eu tenho como pessoa, mas, quando se trata de pessoas, lugares, eu não costumo ficar calado e disposto a defender o povo. Que fique bem claro: eu não estou sendo cassado porque roubei ou fiz outro delito, estou sendo cassado porque sofro uma perseguição — afirmou.

 

Espino acrescentou que, em quase dois anos como político, não se arrependeu de suas ações e não tem vergonha do seu trabalho.

— Me arrepender? Hora nenhuma. Não me arrependo de nada. A gente tem que se arrepender de matar, fazer conchavo político, usar o sistema e outros. Isso que devemos ter vergonha e eu não tenho vergonha de nada. Eu estou limpo e fui eleito pelo voto. Isso não é cassação, é um pedido de cassação. Mais à frente toda a população vai saber o porquê disso tudo — ressaltou.

Após a votação, Espino realizou uma live nas redes sociais e voltou a dizer que é vítima de perseguição, ataque pessoal e vingança. Ele também prometeu divulgar uma série de vídeos que comprovam sua inocência. 

 

Transparência

Responsável pelo voto de minerva, o presidente da Câmara Municipal de Divinópolis (CMD), vereador Eduardo Print Júnior (PSDB), justificou sua decisão favorável alegando transparência.

 — Nossa decisão pelo sim busca exigir transparência. Não podemos ignorar os fatos ali mostrados como se nada tivesse acontecido. Queremos saber o que realmente aconteceu nos fatos. (...) Fico triste pelo fato de um vereador ter denunciado outro vereador. Esse espaço é para vivenciar o melhor para Divinópolis. Nós tivemos que parar uma sessão para resolver isso. É triste — disse em entrevista após a votação.

 

A denúncia acusa Espino de constranger servidores do Legislativo nas dependências da Câmara de Divinópolis. O presidente confirmou que recebeu relatos de funcionários.

— Eu acredito que esses servidores serão chamados para esclarecer os fatos e contar o que realmente aconteceu. Nos corredores nós já ouvimos e, inclusive, chamamos os vereadores envolvidos para conversar — afirmou.

 

Print também detalhou os próximos passos da investigação.

— Dentro de cinco dias, a Comissão precisa dar direito de resposta ao denunciado e, após outros 10 dias, a pasta receberá a defesa do Espino por meio de testemunhas e, a partir disso, o processo segue — concluiu.

 

Comissão de Ética

A Comissão de Ética, liderada pelo vereador Edsom Sousa (CDN), foi alvo de críticas de alguns vereadores do Legislativo pela suposta omissão nas denúncias antigas do vereador Diego Espino. Israel da Farmácia (PDT), membro da pasta, defendeu o órgão e questionou os vereadores que a criticam.

— Os vereadores têm que entender que a Comissão de Ética é imparcial. Nós trabalhamos em cima de fatos e provas. Como vamos condenar se não tem prova? Todas que apareceram não tinham provas. A Comissão é formada por pessoas competentes — discutiu.

 

Rodyson do Zé Milton (PV), terceiro membro da Comissão, pediu a palavra ao vereador Edsom Sousa e também defendeu a pasta.

— A Comissão de Ética tem que ser imparcial para ser validada pelos órgãos judiciais competentes. Ela tem que ser regulamentada no regimento interno. Nós fazemos com tranquilidade. Trabalhamos com transparência. Posso não concordar do ponto de vista pessoal, mas, juridicamente, tenho que analisar da forma correta. Estou com a consciência tranquila — apontou.

 

Próximos passos

Acatada a denúncia, o Legislativo formou uma Comissão Processante para investigar os fatos apontados por Flávio Marra. Escolhidos por meio de sorteio, Ademir Silva (MDB), Wesley Jarbas (Republicanos) e Israel da Farmácia (PDT) têm a responsabilidade de dar continuidade ao processo, como ouvir testemunhas e analisar as acusações.

Ao término da investigação, que pode durar até seis meses, o relatório final será apresentado e uma reunião convocada para julgamento. Espino perderá o mandato se receber 12 votos. Ele é pré-candidato a deputado federal pelo PSC.

Durante seu pronunciamento, o vereador Edsom Sousa (PSC) disse que Israel da Farmácia não poderia participar da apuração já que faz parte de outras comissões. Em resposta ao Agora, a assessoria da presidência da Câmara negou que a composição da Comissão Processante sofrerá alguma alteração.

 

 

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