Espino chora ao repercutir pedido de cassação: ‘manipulação suja’

Vereador se emocionou e garantiu que nada ficará escondido; denúncia protocolada por Flávio Marra o acusa de quebra de decoro parlamentar

 

Da Redação

A denúncia protocolada por Flávio Marra (Patriota) contra Diego Espino (PSC) por infração político-administrativa repercutiu na Câmara de Divinópolis. Durante seu pronunciamento na tarde de ontem, o vereador acusado se emocionou e disse que a situação é uma verdadeira “manipulação suja” contra seu mandato.

Marra acusa Espino de quebra de decoro parlamentar em ao menos seis situações, que incluem constrangimento de servidores, acusações aos vereadores de ligação com ilegalidades, atuação política fora de Divinópolis, intimidação de profissionais da imprensa, ataque à honra da família de vereadora e agressão verbal contra os colegas da Casa. 

 

‘Inverdades’

De acordo com Diego Espino (PSC), as denúncias feitas por seu colega parlamentar são inverdades. O vereador chorou ao contar que seu pai passou mal após escutar a entrevista de Marra em um veículo de imprensa local.

— Não estou pensando em política. Vou mostrar para vocês no futuro. Vocês vão ter que me engolir. Minha tia está em estado terminal no Panamá. Meu pai, a mesma coisa. Não estou falando isso para ser tachado como coitado. Esse cidadão [se referindo a Flávio Marra] foi na rádio e falou de mim. Meu pai escutou e passou mal. Se ele estivesse falando a verdade, eu aceitava. Mas não, só foram inverdades — disse.

 

O parlamentar definiu a denúncia como uma “manipulação suja” contra seu mandato. Ele garante que seu único objetivo como político é melhorar a cidade.

 — Se eu sair daqui, saio de cabeça erguida. Eu não acho que vou sair, mas isso é uma manipulação suja. Eu vou sempre brigar pela população. Eles não querem e não gostam do meu jeito. Não quero “teta”, quero fazer uma nova Divinópolis com o prefeito Gleidson Azevedo [PSC]. Enquanto tinha gente querendo fechar o comércio, nós estávamos brigando (...) —  pontuou.

 

‘Nada fica escondido’

Espino voltou a dizer que é constantemente atacado para deixar o cargo de vereador. Eleito com quase 900 votos na eleição passada, o parlamentar ressaltou que as verdades sobre o fato vão aparecer.

— As cartas vão aparecer na mesa. Nada fica escondido. Eu sou manipulado e atacado para sair dessa casa sempre. Graças a Deus é minoria, 1%, que está desde o começo do mandato articulando a minha saída. Pode averiguar se eu tenho algo a dever (...) —  acrescentou.

 

Mais calmo, o parlamentar cobrou ética na política e pediu que a população analise melhor seus candidatos nas próximas eleições: “Muita gente está clamando a ética na política. Eu sou 100% ética. Essa palavra não é só no palanque. É na vida”, elencou.

— Analisem a partir de agora, a fundo, quem vocês irão colocar no poder. Analisem o passado das pessoas. A história conta pra nós quem são as pessoas que julgavam as outras. Nós não podemos usar as pessoas para fazer política. Temos que ter responsabilidade. Meu jeito "turrão” é para mostrar que nós temos que servir. Estou para servir e não para ser servido. Esse é o lema do meu ídolo, Cleitinho [PSC] — ressaltou.

 

O vereador, de origem panamenha, voltou a dizer que está fazendo o melhor para a cidade e, novamente emocionado, revelou que seu pai está doente.

— Fizemos uma pesquisa na internet e observamos que meu perfil nas redes sociais tem apenas 10 mil seguidores de Divinópolis. O restante é de Belo Horizonte, outras cidades de Minas e, principalmente, do Panamá. Meu pai está com câncer [choro]. Ele me pediu para ir embora daqui. Eu estou fazendo o bem e o melhor para Divinópolis — concluiu.

 

Processo

A denúncia contra Diego Espino contém mais de 30 páginas e inclui diversas testemunhas, incluindo oito vereadores do Legislativo: o presidente da Câmara, Eduardo Print Jr. (PSDB), Ana Paula do Quintino (PSC), Edsom de Sousa (Cidadania), Hilton de Aguiar (MDB), Josafá (Cidadania), Rodrigo Kaboja (PSD), Eduardo Azevedo (PSC) e Lohanna França (PV). 

O trâmite do processo começa na próxima terça com a leitura da denúncia. Depois, os parlamentares votam pela admissibilidade ou rejeição do processo. A votação necessária para avançar é maioria simples. Caso seja aceita, a Câmara formará uma Comissão Processante para apurar os fatos apontados no documento e coletar os depoimentos dos envolvidos e das testemunhas. Ao fim, o relatório final será apresentado e uma reunião convocada para julgamento. É preciso dois terços, ou seja, 12 votos, para a cassação do mandato. 

Para evitar conflitos de interesse, apenas Ademir Silva (MDB), Israel da Farmácia (PDT), Ney Burguer (PSB), Rodyson do Zé Milton (PV), Roger Viegas (Republicanos), Wesley Jarbas (Republicanos) e Zé Braz (PV) podem fazer parte da Comissão Processante, a ser formada para apuração das denúncias e coleta dos depoimentos.

A investigação, caso seja aceita, pode durar até seis meses.

 

Justificativa

Segundo o denunciante, Marra, o “dossiê” foi apresentado devido às sucessivas ofensas comportamentais e verbais aos integrantes da Câmara.

— Não sei se é por essa fixação por likes que ele tem na cabeça, de curtidas, de visualizações, de rede social, e ele está vendendo isso a qualquer preço. (...) Eu acredito que a maioria dos vereadores entraram com o propósito de querer melhorar a cidade, em busca de coisas boas para a cidade, pois vivíamos em um retrocesso. Mas o Diego Espino vem na contramão disso — afirma.

 

Marra relembrou que, anteriormente, nove vereadores assinaram uma representação contra Espino. O texto tramita na Comissão de Ética. O autor da denúncia também afastou a possibilidade de intriga política. Ambos são pré-candidatos a deputado federal neste ano. 

— Não estamos julgando a votação que ele teve, se ganhou com mais ou menos votos, isso não vem ao caso. Ele é um vereador como nós e justamente por isso ele tem que respeitar nós igual respeitamos ele e isso não vem acontecendo. Ele não respeita a Casa, os vereadores e os servidores — concluiu. 

 

Rapidez

Além do choro de Espino, a 19ª reunião da Câmara de 2022 ficou marcada como a mais rápida do ano. O encontro, que começou às 14h, teve duração de 1h18. Segundo o Regimento Interno, as reuniões têm previsão de terminar às 18h.

Após a leitura de indicações e a participação do tribuno livre, o presidente da Câmara, Eduardo Print Júnior (PSDB), convidou os vereadores inscritos para o uso da palavra no plenário. Josafá Anderson (CDN), Diego Espino (PSC), Lohanna França (PV) e Ney Burguer (PSB) falaram. 

No entanto, eles foram os únicos. Roger Viegas (Republicanos), vice-presidente da Casa, foi surpreendido ao perceber que nenhum dos próximos inscritos para usar a tribuna estava em Plenário. Em sessões normais do Legislativo, entre 10 a 15 parlamentares discursam. Sem a presença dos colegas, Roger convidou os edis para a votação dos projetos. Porém, com sobrestamento, retirada e ausência de autor, nenhuma pauta foi apreciada.

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