Especialistas elencam melhores prefeitos da história

Construções históricas estão na memória do divinopolitanos

 

 

Bruno Bueno

Primeiro de junho de 1912. Antônio Olímpio de Morais, que hoje dá nome a uma das principais avenidas da cidade, toma posse como primeiro prefeito de Divinópolis. Desde então, foram 39 mandatos e 27 nomes diferentes até a chegada de Gleidson Azevedo (PSC), atual chefe do Executivo.

Muitos estão marcados na história da cidade por suas ações de desenvolvimento técnico, econômico e sociocultural. O Agora ouviu especialistas histórico-políticos do município que elencaram, em suas avaliações, os melhores prefeitos da história de Divinópolis e as obras que estão na memória dos moradores.

 

Ponte do Niterói

Sociólogo e pensador, José Heleno Ferreira baseou sua resposta em um trabalho realizado com adolescentes no ano do centenário de Divinópolis. A ponte do bairro Niterói, para ele, é uma obra que marcará a história da Cidade do Divino por muitos anos. 

— Em 2012, realizamos um trabalho com adolescentes do ensino fundamental e médio. Cada fez um mapa mental da cidade tal como ele/a via e outro tal como ele/a gostaria que a cidade fosse. Foram produzidos mais de 2.400 mapas mentais. A ponte do bairro Niterói está entre os pontos mais citados pelos e pelas adolescentes como uma marca da cidade — relata.

A instalação da ponte aconteceu em 1939, durante o governo de Antônio Gonçalves de Matos. 

— O rio Itapecerica é, de longe, o item mais lembrado. Mas, nesse caso, não se trata de algo construído. Citei a questão porque acredito que a referência ao pontilhão como um marco está relacionada à importância do rio no imaginário e na vida das pessoas — aponta.

No entanto, o pensador considera Aristides Salgado como um dos melhores prefeitos da história de Divinópolis. Seu primeiro mandato ocorreu entre 1983 e 1989.

 

— Vivíamos, no Brasil, um processo de desgaste da ditadura civil-militar e fortalecimento dos movimentos sociais e populares. O governo Aristides, ainda que com muitos conflitos e muitos problemas, conseguiu imprimir uma marca de novos ventos sobre a cidade —  pontua.

José alerta para a necessidade de os divinopolitanos construírem a memória social da cidade, por meio das minorias, como mulheres, negros e pobres.

— Penso que vale a pena ressaltar o fato de que temos uma história a ser escrita. Os nossos memorialistas, ainda que tenham nos deixado um importante legado, sempre contaram da história dos "grandes vultos". Mulheres, a negritude, os povos originários, os pobres, de forma geral, estão fora das páginas de nossa história escrita. E precisam ser reconhecidos. Inclusive como protagonistas da história — finaliza.

 

Ferrovia

O historiador Welber Tonhá acredita que a ferrovia é, sem dúvidas, a principal obra de Divinópolis. Para ele, o desenvolvimento da cidade é fruto da chegada das instalações, que partiram na administração de Antônio Olímpio de Morais, com a enorme parceria de Pedro X. Gontijo e coronel João Epifânio, em 1916.

— O bairro Esplanada foi construído para os ferroviários e suas famílias. Tinha igreja, escola e muitos outros. Eles se preocupavam com a parte social. Muitas esposas de funcionários começaram com a confecção, que iniciou a indústria têxtil. Além disso, muitas metalúrgicas surgiram da própria ferrovia, já que eles preparavam a criança e o adolescente, ensinando a profissão e fazendo a partir das suas próprias ferramentas — enfatiza.

Tonhá elenca três prefeitos que, na sua opinião, foram os mais importantes para o desenvolvimento da cidade.

— Jovelino Rabelo, que esteve na época do Aeroporto Brigadeiro Cabral; Antônio Martins, o JK de Divinópolis, que transformou a cidade comum em uma metrópole; e Vladimir Azevedo, que, apesar de uma rejeição grande, eu como historiador considero um dos prefeitos que mais fez pela cidade. É só pegar os dados das obras e ações culturais — acrescenta.

 

Ideia, impulso e reforma

O especialista político José Elísio Batista também aponta três administradores que, em sua opinião, são essenciais para contar a história de Divinópolis. Pedro X. Gontijo, o idealizador; Jovelino Rabelo, o impulsionador; e Antônio Martins, o reformador.

Pedro X.Gontijo não era prefeito em 1916, quando Antônio Olímpio de Morais estava à frente. No entanto, o homem, que assumiu o cargo máximo do Executivo em 1930, foi, na opinião de José Elísio, essencial para o início do desenvolvimento urbano de Divinópolis com a chegada da ferrovia. O especialista, contudo, aponta outra personalidade que teve papel chave no trabalho de Pedro.

— Coronel João Epifânio, que nunca chegou a ser prefeito de Divinópolis, é, muita das vezes, esquecido pelos historiadores. No entanto, ele foi um dos principais responsáveis pela chegada da ferrovia à cidade. Em conjunto com Pedro X. Gontijo, o oficial é o idealizador da Cidade do Divino — opina.

Jovelino Rabelo, prefeito de Divinópolis entre 1947 e 1951 e vice em outras duas oportunidades, também é destacado pelo especialista, que o define como impulsionador do município.

 

— Jovelino Rabelo é o cara que industrializou Divinópolis. Ele pegou o capital acumulado dos empresários locais, uniu a tecnologia da ferrovia e trouxe, através das oficinas com a presença do minério de ferro de cidades vizinhas, a indústria siderúrgica. Ele era conhecido como o “capitão da indústria” — esclarece.

Antônio Martins, prefeito entre 1973 e 1977, completa o ciclo de Elísio sendo, em sua opinião, o reformador de Divinópolis.

— Quando ele assumiu, Divinópolis tinha 80 mil habitantes. Ele fez reformas urbanas de saneamento, saúde e muitas outras áreas. Foi uma revolução histórica que será lembrada por muitas gerações — discute.

 

O melhor

Questionado pela reportagem sobre o melhor prefeito da história de Divinópolis, o especialista, com certa dificuldade, escolhe Jovelino Rabelo, mas alerta sobre a importância dos outros dois.

 

— Todos foram muito bons. No aspecto da ideia, temos o Pedro; no segmento do impulsionamento, temos Jovelino; já na reforma, destacamos o Antônio. Os três têm grande papel na história da cidade — finaliza.

O especialista aproveitou a oportunidade para destacar a importância da construção do Hospital São João de Deus, inaugurado em 1968 durante o mandato de Walchir Jesus de Resende Costa. 

— Diversificou a economia e transformou Divinópolis em referência nacional na saúde — aponta.

 

Outros 

Não citados pelos especialistas, outros prefeitos também marcaram a história de Divinópolis. Galileu Machado foi o gestor com mais mandatos da cidade, assumindo pela primeira vez em 1982, após a morte de Fábio Notini. Ele também dirigiu a cidade em 1989, 2001 e 2016.

Domingos Sávio (PL) esteve à frente do Município entre 1997 e 2000. Seu mandato trouxe grande desenvolvimento econômico para a cidade. Demetrius Pereira, eleito em 2004, tem a viabilização do campus da Universidade Federal de São João del-Rei (UFSJ) como seu principal feito. 

Gleidson Azevedo (PSC), atual prefeito de Divinópolis, foi responsável por administrar a cidade durante a maior crise sanitária do século. No ano passado, o município chegou a registrar cerca de 121 mortes por covid em apenas 30 dias. A Unidade de Pronto Atendimento (UPA) Padre Roberto alcançou 300% de ocupação. Milhares de vidas divinopolitanas foram ceifadas pela pandemia.

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