Encontro

João Carlos Ramos

"Todos os inimigos se encontram no Nilo." A famosa frase é um provérbio da antiguidade romana, que, no decorrer dos séculos, sempre permaneceu atualizada. Sabemos que os encontros são múltiplos e, da mesma forma, os objetivos e consequências. Por exemplo: a reunião entre dois amantes objetivam o encontro de prazeres, tanto físicos quanto mentais, e por que não dizer espirituais.

O encontro das águas dos rios Negro e Solimôes é um espetáculo à parte, pois elas não se misturam devido à disparidade de velocidade entre ambos. Os turistas se banham também na emoção sublime, quando se aproximam de tal visão paradisíaca. Há o encontro entre os saudosos da pátria, após o exílio, quando as lágrimas inundam o lugar. Há o encontro da chuva com a sequiosa mãe terra ansiosamente aguardada por todos.

Poderíamos enumerar inúmeros outros encontros, contudo quero meditar sobre um encontro específico entre a ferida e a cura, oriundo de atitudes de pessoas que agindo de forma leviana, esquecem que "tudo volta para nós, o bem e o mal...". O livro “Pérolas Esparsas” registra o encontro de um soldado cruel, ferido no campo de batalha durante a Segunda Guerra Mundial. O encontro foi exatamente com o enfermeiro de campo, que, por coincidência ou não, ouviu os gemidos dele dentro de uma barraca, pedindo água “pelo amor de Deus”. Imediatamente, aquele homem, que há mais de vinte anos lhe havia sido negado água pelo agora moribundo infeliz, lhe acudiu com uma botija de água fresca, enquanto os canhões e bombas, explodem no espaço... Naquele instante, ouve-se um diálogo:

— Não é você o homem que há mais de vinte anos eu neguei água, humilhando-o?

— Sim! Contudo, eu o procurava, em vão, para oferecer-lhe o meu perdão. Eu o perdoo! 

(...Se abraçaram, naquele último instante, enquanto o desenlace do invólucro carnal do moribundo era real...)

Assim é a vida! Todas as nossas ações, boas ou más, retornam para nós. O crime não compensa! O ódio não compensa! Todas as maldades não compensam. Compensam apenas as boas ações, pois certamente colheremos todos os frutos da árvore do bem. Jamais devemos negar o pão para os famintos, a água para os sedentos e o carinho para os carentes. 

Uma vez mais, recordo do poema “Se”, de Rudyard Kipling:

"Se és capaz de manter a tua calma,

quando todo o mundo a perdeu e te culpa,de crer em ti,

quando estão todos duvidando.

Se és capaz de esperar, sem te desesperares,

ou enganado não mentir ao mentiroso

ou sendo odiado, sempre ao ódio te esquivares

e não parecer bom demais, nem pretensioso...".

 

O poema segue sua trajetória triunfal, desembocando como um rio de amor em nosso coração desesperado.

Sejamos bondosos, caridosos, crendo que o ser humano é a imagem do divino e não podemos desprezá-lo.

A semeadura é opcional (sabemos disso), mas a colheita é fatal!

Que Deus vos ilumine!

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