Em que ponto estamos?

EM QUE PONTO ESTAMOS?

Nesta semana em que se comemora o Dia Internacional da Mulher, me peguei pensando em que ponto estamos, na luta pelo espaço feminino. 

Me transportei a 1911, quando Marie Curie, pesquisadora polonesa que conduziu estudos pioneiros sobre radioatividade, ganhou seu segundo prêmio Nobel, sendo este de química. Me refiro à única pessoa a ganhar dois prêmios Nobel em duas ciências (física e química), feito, até os dias de hoje, tão inédito quanto estarrecedor. Marie transpôs barreiras até hoje não equiparadas, em um universo absolutamente fundamentado no patriarcado. 

O primeiro prêmio, Marie ganhou juntamente com seu marido e o segundo, sozinha. Isso me remete à evidência de que somos capazes de dividir para somar ou vencermos em voo solo. Em essência livres para decidirmos.

 

Sim, somos capazes!

Trazendo para os dias atuais, tenho percebido um desvio nesse sentido, quando vejo homens e mulheres em uma entediante guerra por poder, levando ambos a desencontros amargos, uma insatisfação generalizada e inquietante solidão. 

Na luta por espaços de dignidade, reconhecimento e respeito, através das competências próprias da natureza feminina no acolher, no cuidar, na leveza e inteligência sensível, chegamos à vice-presidência da maior potência mundial, por meio da figura de Kamala Harris. O que vem nos mostrar que, sim, podemos ser presidentes, cientistas, militares, ministras, motoristas, CEOs, filósofas, artistas, engenheiras, astronautas e o que mais desejarmos.

É preciso seguir na luta por nossos espaços, por mim, por você, pelas gerações futuras e em honra à luta de todas que nos antecederam, como nossas avós, que precisavam da autorização dos maridos para estudar, não podiam dirigir, viajar sozinhas, votar... Enfim, não podiam existir sem a chancela de seus pais ou esposos.

Arrancar as raízes do patriarcado é um trabalho árduo, concordo. Muitas vezes, cansativo e sem esperança na próxima curva, mas o conhecimento amplia a consciência e nos mantém em movimento rumo à liberdade de podermos ser nós mesmas, maquiadas ou de cara lavada, lavando louças em casa ou ocupando cargos públicos, simples assim. Olharmos umas para as outras com mais amorosidade e sororidade, com olhares menos julgadores e condenatórios, pode ser um bom início a caminho da união de forças. Não tenho dúvidas, quando mulheres se unem por um propósito comum, nasce uma força titânica.

 

Há muito pela frente. 

Ainda que tenhamos caminhado bastante, todas as campanhas e conquistas não apagam dados de um estupro a cada dez minutos e um feminicídio a cada sete horas no Brasil, o que não nos aponta muito a comemorar, a não ser a maravilha de sermos donas de poderes únicos, usá-los com inteligência a nosso favor e termos a “estranha mania de ter fé na vida”. 

Que usemos, pois, nossos poderes, cada dia mais unidos nessa força única que nos faz fêmeas. 

Telma Aparecida Rodrigues. Advogada. Presidente da Comissão da Mulher Advogada da 48ª Subseção da OAB. Vice- presidente da Associação Meu Amar. Membro do Conselho Municipal dos  Direitos da Mulher de  Divinópolis. Membro da Comissão da AACO. Especialista em direito das mulheres  e famílias. E-mail: [email protected]




Comentários