Educação: é tudo para ontem

Educação: é tudo para ontem

Por Laiz Soares*

No último mês assisti um vídeo que me marcou muito. Nele, uma criança chorava enquanto contava como foi difícil ficar longe da escola durante a pandemia. A menina de 7 anos dizia: “eu acabei ficando muito sozinha, não tinha amigos". Após assisti-lo, pensei sobre como seu pai e sua mãe deveriam estar ao ver a filha tão nova e com sentimentos tão fortes.                                                                                                                     

No vídeo, ela foi vacinada e, com esperança, completou: “agora eu sei que quando eu tomar a segunda dose, e até a terceira, eu vou voltar para escola e eu vou fazer novos amigos e eu vou ser mais feliz”. Essa menina me tocou. Vi nela uma tristeza muito grande de quem perdeu parte de sua infância nesta pandemia.                                                                                                                            

Quando recebi no dia 23 de janeiro a notícia de que as aulas das escolas públicas integrais de Divinópolis foram adiadas, lembrei rapidamente dessa menina chorando pela falta de amigos. Como seus pais explicariam que a escola não voltará agora? Como explicar para um jovem que nossa situação ainda se encontra crítica? Mesmo após dois anos de pandemia, não houve um preparo qualificado para receber essas crianças e jovens na volta às aulas!                                                                                                                                      

Eu, como adulta, também não encontro justificativa, não vejo explicação além da negligência de nosso Estado para com a educação. Em 2020, a pasta para Educação tinha um orçamento de R$ 48,2 bilhões, mas gastou apenas R$ 32,5 bilhões, o menor valor registrado em uma década. Para o ano de 2021, o governo federal ainda bloqueou quase 20% do orçamento da Educação.                                                                                                                     

Nosso país se destacou na falta de investimento na educação e fomos na contramão da Cooperação e Desenvolvimento Econômico, em que a maioria dos países membros e parceiros aumentaram o orçamento destinado às escolas de ensino fundamental para ajudá-las a lidar com a crise de 2020.

Toda falta de investimento e de gestão afetou não só a saúde mental, mas também o futuro de milhares de crianças e adolescentes. Segundo a Unicef, pelo menos 5 milhões de crianças e adolescentes, entre 6 e 17 anos, não tiveram acesso à educação durante o mês de novembro de 2020, o pior resultado registrado em duas décadas. Além disso, 4 milhões de estudantes matriculados em escolas não tiveram acesso a qualquer tipo de ensino, seja remoto ou presencial.

De acordo com dados do Censo Escolar 2021, o Brasil perdeu mais de 650 mil matrículas de estudantes na educação infantil durante a pandemia. Segundo o levantamento, 1,2 milhão de alunos deixaram a educação básica desde 2019. Há dois anos, o número de matrículas, somando a educação infantil, o ensino fundamental e o ensino médio, foi de 47.874.246; em 2021, o número caiu para 46.668.401.

Vimos nos últimos anos um aumento no analfabetismo, na evasão escolar, além do crescimento das desigualdades de acesso à educação pelo número de estudantes sem rede de internet, o que dificultou o ensino remoto para alunos de 86% das escolas do país. As consequências dessa negligência à educação afetarão o desenvolvimento social de uma geração!

Quando olhamos para os abismos sociais, o ensino público parece sempre ficar aquém. Segundo o Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação, na rede pública, o número de escolas que apresentaram dificuldades pela falta de internet, celular e computador sobe para 93% nas municipais e 95% nas estaduais. Nas particulares, o número cai para 58%.

A escola é um lugar de aprendizagem e de relacionamento. Nela não desenvolvemos apenas nossas habilidades para como futuros profissionais, mas também como cidadãos. Criamos nossos primeiros vínculos de amizade, temos nossas primeiras conquistas. Tirar a educação é tirar a dignidade. Já perdemos demais nesses dois anos, agora é tudo para ontem.

 

*Laiz Soares é formada em relações internacionais pela PUC Minas e pela Essca na França. Atuou liderando equipes e projetos no setor privado, em ONGs e no Congresso Nacional. Idealizadora da Escola de Líderes.

 



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