Editorial: Revolta seletiva

 

A sociedade tem tido dificuldades em lidar com a realidade. Criar fantasias, cenários hipotéticos, narrativas que só acontecem no “fantástico mundo de Bobby” tem se tornado um dos hobbies preferidos de parte da humanidade. Ainda não é possível dizer exatamente quando isso aconteceu, ou o que desencadeou este fenômeno na sociedade, mas está cada dia mais nítido que o povo tem tido dificuldades reais em lidar com fatos. A popularização das redes sociais, o acesso à internet, onde o real é deixado de lado, e cada um se mostra de acordo com aquilo que lhe convém e deseja pode ter sido um dos fatores primordiais para que este movimento fosse desencadeado de forma desenfreada. E, no meio de tudo isso, como se fosse uma consequência deste fenômeno iniciaram os ataques à imprensa. A coisa tem funcionado mais ou menos assim. Se a imprensa noticia algum fato, acontecimento, que vai contra aquilo que alguém acredita, pronto, é motivo para ataques e mais ataques. Como se fosse uma revolta seletiva, que leva automaticamente ao questionamento: como evoluir se a humanidade não aceita o contraditório? Como desenvolver se o povo só acredita naquilo que lhe convém? 

O que mais impressiona é como este movimento de revolta seletiva tem tomado conta da política, e vindo como uma avalanche “de cima para baixo”, ou seja, dos políticos para o povo. É fato que o quê o povo quer é ver alguém com os mesmos valores, pensamentos e ideais lhe representando no poder público. Mas, é fato também que muitas vezes essa representação além de rasa, traz prejuízos incalculáveis para o coletivo, afinal, a humanidade é feita da pluralidade. Em Divinópolis, por exemplo, como relatado anteriormente o imbróglio foi entre os vereadores Anderson da Academia e Edsom Sousa, envolvendo a CPI da Permuta do Terreno Frontal do Guarani. Quando questionado pela imprensa o motivo de ter recusado de forma unilateral uma solicitação de Sousa, o presidente da CPI preferiu se calar, a se posicionar, a justificar para o povo a sua decisão. Difícil. Afinal de contas, quando é de seus interesses os parlamentares procuram os veículos de comunicação para tentar se “autopromoverem”.

Sempre em busca de destaques, este tipo de comportamento assusta, pois como legítimos representantes do povo, o mínimo que eles devem é satisfação daquilo que eles fazem quando estão no exercício de suas funções. Talvez aquele ditado “quem cala consente” faça muito sentido em situações como esta. Afinal, quando se é eleito um representante do povo não lhe é dado o “privilégio” de falar apenas o que quer, quando quer, e quando lhes convém. Atacar a imprensa, distorcer fatos, permanecer em silêncio são táticas que têm sido usadas por aqueles que realmente não conseguem lidar com o real, com o contraditório, com a pluralidade, resumindo, com a função que lhes foi dada. Mas, é como dizem por aí, a verdade sempre aparece e prevalece, e uma fake news não aguenta um segundo de um jornalismo sério e bem apurado.

 

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