Editorial: quem será o próximo?

Para subir ao trono, primeiro é preciso derrubar o rei. Quem acompanha a política de perto sabe: as campanhas não começam apenas nos meses que antecedem o período eleitoral. Elas são iniciadas bem antes, entre articulações, negociatas e discursos. Pedir voto e se autopromover em panfletos, nas ruas ou nas propagandas na televisão e rádio é apenas uma fração pequena desse processo. Se observarmos o comportamento de determinados políticos logo depois que assumem seus cargos, ficam claras suas intenções e manobras. Práticas que se intensificam dois anos antes do processo. Ou seja, termina uma eleição, a mira já é na próxima. 

Na política, há, sim, articulações veladas, de bastidores, conversas em salas de portas fechadas; mas há também movimentos explícitos e públicos, na tentativa de não apenas criar uma narrativa, mas de fixá-la e torná-la convincente — e, mais do que isso, conveniente. E o que se vê em Divinópolis é justamente isso. Como disse um vereador no início da atual legislatura, no primeiro ano, Executivo e Legislativo vivem uma “lua de mel”, depois é cada um por si. Os parlamentares possuem seu interesse próprio de permanecer ou subir na política. E, para isso, cada um adota sua estratégia. Assim como no futebol, é preciso atacar para ganhar. Esse é o mesmo conceito aplicado por alguns deles. Acreditam que, para chegar ao seu objetivo, é preciso derrubar quem está acima. O trabalho se tornou não mais apresentar suas qualificações para assumir o cargo, mas apontar possíveis erros e defeitos dos outros. 

Neste ano, é ainda mais perceptível observar que vários vereadores subiram o tom contra secretários, assuntos que dão ibope, prefeito e outros membros do Executivo. As cobranças ficaram mais firmes e as críticas, mais duras. O rompimento entre as partes é notório. Determinadas atitudes e discursos revelam, para quem acompanha o cenário há mais tempo, intenções políticas claras: o cargo máximo da administração municipal em 2024. Para esses políticos, as eleições já começaram. Já estão imersos no jogo de poder, com o único objetivo de atacar quem está no topo da cadeia municipal, aquele que, naturalmente, é mais vulnerável e suscetível às críticas. 

Parte dos vereadores se aproveita de assuntos, inclusive já encerrados, para, gradativamente, desgastar a imagem do prefeito. Críticas, fiscalizações e cobranças são obrigação e válidas, desde que sejam fundamentadas em fatos e não apenas ambições pessoais. Se no ano passado o principal alvo de críticas foi a secretária de Educação, por todo contexto envolvido, hoje a mira se volta para o secretário de Saúde. Curiosamente, duas das maiores pastas de qualquer cidade e, consequentemente, as que mais movimentam recursos e são mais visíveis à opinião pública.

Infelizmente, o que tem se visto na cidade é pouca política e muito ego. Longos monólogos e curtos diálogos. Interesses pessoais que se sobrepõem aos coletivos. Uma vontade de discursar frases de efeitos, publicar vídeos, caçar curtidas e criar espetáculos em cima de temas importantes e sensíveis. Políticos que enxergam a política apenas com uma escada que leve a mais poder e, consequentemente, dinheiro. Passada a eleição, se mira apenas na próxima, e na seguinte… O compromisso de “união”, tão reforçado após a consagração nas urnas, se perde em meio à cegueira da ascensão. Não existe o interesse de resolver o problema agora, apenas de criticá-los para, nos meses de campanha, prometer a solução que não ajudou a construir quando já era representante do povo e seu dever. 

A Saúde é o alvo da vez. É claro que o setor precisa de melhorias e avanços, mas isso não virá da noite para o dia, especialmente se tratando de problemas que se arrastam por anos e de gestões anteriores. Desde a sua inauguração, as administrações da UPA são criticadas e motivo de denúncias. Superlotação não é uma situação inédita, também de responsabilidade estadual dado o sistema de regulação. Nos postos de saúde, as ausências de médicos e os apontamentos de estrutura precária também não são recentes, basta pesquisar para se encontrar resultados iguais ou semelhantes. O Hospital Regional, desde seu anúncio há mais de dez anos, ainda não se concretizou — apesar de, agora, voltar a caminhar. Por qual motivo, afinal, a cobrança parece maior e mais energética agora? Porque, lamentavelmente, para alguns, o interesse não é necessariamente melhorar a qualidade do atendimento na Saúde ou derrubar o secretário. A intenção é, ao longo dos próximos meses, desgastar a imagem do Executivo através de pastas maiores e com mais visibilidade, criando um falso cenário de desestabilização. É uma busca constante por alvo. 

Quem será o próximo? O que, direta ou indiretamente, afetar Gleidson Azevedo. O desenho já está pronto e montado, só falta ir colorindo as partes. 





Comentários