Editorial: presença na ausência

Se existe algo que paralisa a humanidade é o medo. Esse sentimento faz com que as pessoas percam oportunidades incríveis pelo simples fato de temerem. Sempre as piores previsões e, claro, não há nada mais paralisante do que as incertezas acerca de um mercado de atuação, uma carreira, a compra de uma casa ou uma simples escolha, seja no âmbito pessoal ou profissional. No jornalismo, então, nem se fala. Por aqui, os profissionais e os empresários do ramo estão acostumados a lidar com isso, mas o mais importante, nesse contexto, é que seja de um lado ou de outro, ambas as partes não se deixam vencer pelo medo, pelas piores previsões e seguem lutando, mostrando a dia a dia, que não há nada mais poderoso no mundo do que a informação correta, de qualidade, com respeito, responsabilidade e credibilidade. Com o “boom” da internet, em meados de 2016, pouco depois de o diploma de jornalismo deixar de ser obrigatório, o que mais se viu foram as piores perspectivas possíveis. A situação era de “o mercado acabou”. Afinal, qualquer um poderia montar um site, colocá-lo no ar e pronto, supostamente estaria “fazendo” jornalismo. 

Esse, talvez, foi um dos maiores enganos da modernidade em tempos de era digital. Em tempos de blogueiros, fake news, sites de fofoca se dizendo de notícias, o jornalismo se mostrou rei e provou, por A + B, que nada, absolutamente nada, é capaz de substituir uma informação apurada com qualidade e imparcialidade. Das piores previsões à necessidade diária. Assim se fez o jornalismo na era digital. Com a popularização da internet, da criação e do compartilhamento desenfreado de notícias falsas, o jornalismo de qualidade “bebia da água limpa”, se mantinha são e, por mais difícil que fosse, não se deixava levar pelas fakes news que levaram milhares de vidas, por disseminar o ódio, a ignorância e o retrocesso. Apesar do negacionismo, da pressão pelo consumo imediato de informações, a verdade é que o jornalismo se fez presente na ausência. Afinal, é fato: uma notícia falsa não aguenta um minuto de um jornalismo sério e comprometido. Não há blogueiro que resista, não há sociedade que sobreviva a notícias rasas, sem responsabilidade. 

Mesmo com o imediatismo exigido pelo consumidor atualmente, pela necessidade cada vez maior de informações a todo tempo, em um mundo acelerado, foi esse jornalismo sério que “segurou” a democracia brasileira, enquanto os blogs brincavam de informar. A verdade é que a previsão pode ser a pior possível, e podem até tentar substituir, fazer com que um público se contente com algo superficial, mas o raso não é suficiente, não alimenta, não nutre. O povo sempre o quer lá, fazendo o seu papel de informar e provar, por mais um dia, que a sua ausência se faz presente. E que não há absolutamente nada maior do que uma informação bem apurada, feita com respeito e credibilidade. A ausência do jornalismo grita onde ele não está presente, e é ali que a sua presença se faz mais forte ainda.

 

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