Editorial: o dever é de todos

Ser consciente e estar consciente. A diferença, para além das palavras, significa a capacidade de distinguir o certo do errado. Ter consciência dos seus atos, de como eles impactam não só o indivíduo, mas também o coletivo, é primordial para a tão sonhada, cobrada e esperada evolução. O governo federal, junto com Organizações Não-Governamentais (ONGs), associações e federações lançam, a cada mês, uma campanha aliada a uma cor e um tema de conscientização. A tentativa, a cada 30 dias, é que a população se atente sobre como determinadas mudanças de comportamentos podem influenciar de forma positiva ou negativa no coletivo. Nas entrelinhas, a mensagem de que a sociedade só vai evoluir se cada um fizer a sua parte. Em agosto, o tema abordado foi o combate à violência contra a mulher, o conhecido “Agosto Lilás”. Agora, em setembro, além de ser abordada a prevenção ao suicídio, também é feita a Semana Nacional do Trânsito (SNT), que tem como objetivo promover a reflexão sobre a forma como os cidadãos se deslocam nas cidades e os enormes problemas que o uso excessivo dos veículos pode causar ao meio ambiente e ao bem-estar da sociedade.

Com o tema “No trânsito, escolha a vida”, a mensagem para as campanhas educativas  deste ano direciona as atividades da SNT para a mobilização da sociedade em busca de uma cultura de segurança no trânsito mais sólida e consistente. A cada nova campanha é impossível não se deparar com o questionamento: cada um está fazendo a sua parte? A resposta, talvez, seja mais clara, simples e pessimista do que se imagina: não. Afinal, se cada um estivesse fazendo o “seu dever de casa” não seriam necessárias ações como essas. Se o indivíduo fizer o que lhe cabe, ter consciência da importância de um comportamento responsável, os governos não estariam empenhados em ensinar o brasileiro como se portar perante o coletivo. Muito além de simples campanhas que trazem temas importantes, as ações remetem a outra pergunta: como o Brasil vai evoluir se o povo não evolui? Como acreditar que um dia o país será desenvolvido, se a própria população não ajuda?

Apesar de já ter 11 anos e ser considerado um dos melhores do mundo, o Código de Trânsito Brasileiro (CTB) entrou em vigor quatro meses depois de sua promulgação, em janeiro de 1998. Veio com a promessa de mais rigor e educação no trânsito, além de trazer a esperança de reduzir o número de mortos nas cidades e estradas. Uma década depois, a situação, infelizmente, permanece caótica e a divulgação de 33 mil mortes no trânsito por ano parece não assustar. As multas pesadas e o medo de perder a carteira que ganharam o respeito da população se limitou aos primeiros meses e logo caíram no descrédito diante de fatores como a impunidade. De nada adiantam leis pesadas e campanhas preventivas se a sociedade não tem algo tão simples: consciência.

 

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