Editorial Não fecha
Se tem algo que é inegável é que com os surgimentos das redes sociais, o acesso à informação ficou muito fácil. Aliás, até ultrapassou o “ponto” saudável, porque ao mesmo tempo em que foi facilitado, criou-se também o fenômeno da “enxurrada de informações”. Até quem não conhece, não tem estudo, ou sequer entendimento do processo para se “fazer” uma notícia, tornou-se produtor de conteúdo. E, é justamente neste ponto que a sociedade precisou encarar outro fenômeno trazido pela popularização da internet, pois, o povo simplesmente começou a achar que opinião era fato. Resumindo, se um acontecimento não fosse da forma como eu acredito, de acordo com os meus valores, pronto: um prato cheio para as milhares de opiniões e distorções do fato. Isso, sem contar na abertura do caminho das fake news, que sem dúvidas são divisores de água para a humanidade. Com esta série de acontecimentos, o resultado foi catastrófico. Boa parte da população começou a se “informar” em qualquer lugar, com fontes duvidosas, e o pior, sem a mínima capacidade de entender, ou estar aberto ao entendimento. O lema tornou-se um só “se essa informação está de acordo com o que eu acredito, então é essa que está certa, se a outra informação contraria o que eu acredito, então ela não vale”.
O caso do transplante de coração ao qual o apresentador Fausto Silva se submeteu neste domingo, 27, mostra este processo de forma clara. Dono de uma fortuna de R$ 1,1 bilhão, o jornalista está internado no Hospital Albert Einstein, em São Paulo, desde o dia 5 de agosto, tratando uma insuficiência cardíaca e fazendo diálise, quando na última semana entrou para a fila de transplante de coração, no Sistema Único de Saúde. O quadro de saúde de Fausto Silva o colocava como prioridade na fila de transplantes, o que se comprovou com a rapidez da chegada do novo órgão. Bastou a notícia ser divulgada para que o tribunal da internet entrasse em ação. Sem qualquer tipo de entendimento de como funciona a fila de transplante, ou até mesmo o SUS, os “especialistas” no assunto começaram a disseminar ódio, informações falsas, e claro, levantar todo tipo de suspeita possível de que o apresentador tinha passado na frente de outros pacientes que também aguardam um coração.
Para quem não sabe, de acordo com o manual do paciente de transplante de coração feito pela Secretaria da Saúde de São Paulo, para ser colocado como preferencial na lista de distribuição de órgãos é levado em consideração a "gravidade do quadro clínico em que se encontra o paciente e segue critérios bem estabelecidos e predeterminados pelo Ministério da Saúde”. Mas, como por aqui o que vale são opiniões e não fatos, o povo simplesmente se nega a aceitar a realidade. O transplante de coração do jornalista ganhou destaque na semana passada, e junto a ele trouxe um debate de suma importância para a sociedade. Até quando a população vai se recusar a entender que opinião não é fato? E, o principal, que para evoluir é preciso estar aberto ao entendimento. Claro, como mudar, como evoluir, quando na verdade o que querem é enxergar apenas aquilo que lhes favorece ou se quer ver? Essa é mais uma conta que definitivamente não fecha.