Editorial: Não é não!

 

A semana mal começou e mais uma vez os brasileiros têm um fato de repercussão internacional para tirar de lição: o julgamento de Daniel Alves, ex-jogador de futebol, que é acusado de estupro, na Espanha. O primeiro dia, ontem, de audiência vem, por coincidência, com a proximidade do carnaval no Brasil, onde os registros de importunação sexual, agressão, assédio e crimes desta natureza têm um aumento considerável. As campanhas para evitar este tipo de situação estão por todos os lados. Vídeos, cartilhas, outdoors, panfletos... O que não falta é material, e profissionais orientando sobre o que pode, o que não pode, o que é, e o que não é. Tudo com o intuito de evitar que mais mulheres se tornem vítimas deste crime, e tenham suas vidas marcadas “a ferro” por homens que não respeitam limites, que não sabem o que é isso, que o “não é não”, e que depois do “não” tudo é assédio. Enquanto você lê essas linhas, Daniel Alves responde por este crime horrendo, mas por um único fato: ele está em um país que tem leis, que tem punição. 

Paralelo a isso, enquanto você e Daniel é julgado por seu crime, neste mesmo momento uma mulher está sendo vítima de agressão sexual no Brasil, e o seu algoz sairá livre, impune... E, o que confirma é o Anuário Brasileiro de Segurança Pública 2023. O levantamento mostrou que o país registrou, em 2022, o maior número de vítimas de estupro da história. Foram 74.930 casos de violência sexual, o que representa um crescimento de 8,2%, em comparação a 2021. Segundo o fórum, mais da metade (61,4%) das vítimas tinham no máximo 13 anos, sendo que 10,4% eram bebês e crianças, entre 0 e 4 anos; 17,7% tinham entre 5 e 9 anos e 33,2% entre 10 e 13 anos. Sim, os dados assustam. Como assustam. Mas, por aqui, infelizmente são apenas dados que mostram o crescimento descontrolado. Afinal, onde está o  erro? Talvez, para esta pergunta a resposta seja simples: punição. 

Tão simples, tão claro quanto o sol do meio dia. Não há punição na maioria dos casos. O levantamento do anuário mostra a realidade doída. Em pleno século 21, ainda existem pessoas andando por aí cometendo este crime e saindo impunes. O pior, vitimando mais mulheres. Por aqui, a certeza da impunidade é tanta que até o jogador Robinho, que teria cometido o mesmo crime que Daniel Alves, só não foi preso na Itália porque fugiu para o Brasil, e responde em liberdade. Ser mulher já não é fácil, mas aqui a situação consegue ficar ainda pior. O beco escuro aumenta. Infelizmente, com as leis brandas do país, o “respeita as minas” fica só no papel, no vídeo, na campanha. Na ação, no dia a dia, é cada uma por si, contando com a própria sorte. Mas, como a vida é feita de escolhas, o desejo é que neste carnaval os homens escolham respeitar “as minas”, e entender que depois do não tudo é assédio. E que a  lei do homem pode ser até falhar, mas Divina, jamais!

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