Editorial: na vitrine

 

O período eleitoral já bate à porta e traz consigo inúmeras responsabilidades. Apesar de ser um ano de extrema importância para os brasileiros, muitos insistem em seguir como se as eleições fossem apenas brincadeira ou troca-troca. As campanhas de conscientização sobre a importância do voto responsável estão por todos os lados, mas parece que nada é capaz de fazer com que o brasileiro desperte para a seriedade do seu voto. A verdade, nua e crua, é que os eleitores estão na vitrine com os seus votos à venda, esperando o maior lance. Um asfalto na porta de casa, cesta básica, consulta, castração de animais, capina, poda de árvore e tantas outras demandas. 

Diante o cenário que começa a se formar do “mercado de voto” é impossível não citar a música “A carne”, brilhantemente interpretada por Elza Soares, que em seu refrão traz “A carne mais barata do mercado é a carne negra”. A música tem o seu significado, representatividade e peso, mas é possível fazer um paralelo. Afinal, a cada ano eleitoral “a carne mais barata do mercado é a do eleitor”. Sim! É triste constatar isso, mas esta é a realidade sem maquiagem. E, assim, neste ritmo os brasileiros falham em construir o Brasil, com suas paixões eleitorais e políticos idolatrados. 

Ao invés de sentar e refletir sobre trocar seu voto pela simples garantia de um direito, de um dever de seu representante, o povo prefere seguir com o mesmo comportamento, financiando o sistema que privilegia apenas uma parte e condiciona a outra a permanecer no mesmo lugar: à espera da vitrine de votos, do leilão de votos. O eleitor tem a ilusão de ter o poder sobre aquele que é o maior beneficiado de tudo isso. Como em uma engrenagem, tudo funciona perfeitamente. Voto vendido, cargo prometido, consulta realizada, asfalto na porta, fim da eleição e tudo volta à sua rotina, e assim, o eleitor volta para o seu lugar de sempre, o de mero espectador da bagunça, e que quando revoltado grava um vídeo reclamando da falta de leitos hospitalares, de vagas nas escola, da precariedade do transporte público, e por aí vai. Isento de qualquer responsabilidade neste sistema arcaico, que funciona financiado por ele mesmo. 

Basta esperar dois anos para voltar à vitrine, leiloar seu voto e, claro, cobrar por evolução, criticar a corrupção, acreditar no discurso mais fácil, que mais lhe agrada e esperar que o Brasil seja um país melhor. Afinal de contas, sempre foi assim, a vitrine sempre está lá, não tem gigante capaz de quebrá-la.

 

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