Editorial: Mundo real

Quem viveu sua infância, sua adolescência nos anos 70, 80, 90, sem dúvidas vai lembrar das previsões que falavam de um futuro evoluído, vida mais fácil, tecnologia, e inúmeras outras “facilidades”. Doce ilusão. Quem viveu naquela época se depara e tem que se contentar em viver em um mundo raso, superficial, e pior: lidar com a inversão de valores. Com a “sociedade do espetáculo” na vitrine, um bom trabalho, um bom profissional, por inúmeras vezes são trocados por números nas redes sociais. A quantidade de seguidores hoje vale mais do que um trabalho bem feito, bem desenvolvido. Mas, claro, como existe a “lei da ação e reação”, uma hora a conta chega. Lembrando que rede social é apenas um “recorte” da vida real, a humanidade vem se perdendo cada vez mais. E, na pior das hipóteses, talvez o caminho de volta possa nunca ser encontrado. Vivendo na superfície, a “sociedade do espetáculo” quer o raso, o fácil, o pouco, e se contenta com o que é manipulado na internet. 

Divinópolis, como sempre, tem o seu exemplo de como viver na razoabilidade pode custar caro. Há quase um ano a cidade foi impactada pelo caso da mulher que morreu em um consultório de biomedicina, após se submeter a um procedimento estético. Longe de fazer julgamentos, até porque tudo já está na Justiça, mas talvez um dos principais pontos nesta situação foi o fato de que na internet tudo é lindo, é perfeito. Os números são altos, os comentários são lindos, os vídeos são super produzidos, as fotos são perfeitas. Mas aqui, no mundo real, a coisa muda, e é como dizem por aí: “o filho chora e a mãe não vê”. Aqui, onde a vida acontece minuto a minuto, segundo a segundo, o engajamento é deixado de lado, e nada disso importa. No instagram o anúncio era: “lipo sem cortes, sem dor, sem centro cirúrgico, sem internação”. Na realidade, segundo as palavras do próprio delegado do caso registrado em Divinópolis: o consultório era um açougue. E, foi por talvez acreditar no mundo perfeito pintado e bordado na internet, é que o sonho virou pesadelo, e uma família foi destroçada. O pior de tudo é constatar que, situações como essa, onde pessoas se contentam com o que é montado na rede social, se estendem para diversos setores profissionais, e milhares de vítimas são feitas todos os dias. 

Definitivamente, os carros voadores, a sociedade evoluída, a humanidade mais responsável, a vida mais fácil, tudo isso ficou apenas na ilusão. A verdade é que a situação está tão crítica, que um número na rede social vale muito mais do que um trabalho sério, bem feito, comprometido, que preza pela qualidade. E, tudo isso leva algumas perguntas, que talvez não tenham respostas: onde esse caminho vai levar? Ele tem volta? Quando a sociedade voltará ao eixo do respeito, dos valores, do compromisso, e o principal, de prezar sempre pela qualidade? Quando um número voltará a ser apenas um número, e não a realidade? Talvez o caminho superficial não seja o que a humanidade precisa para cumprir sequer 1/3 das previsões feitas lá atrás. A vida, o mundo real, pedem um pouco mais.

 

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