Editorial: Flores em vida

 A única coisa neste mundo que não se tem solução é a morte. Sim, é verdade. Mas a grande questão é: nunca se sabe quando será o último adeus. Às vezes, ele vem de uma vez. Aquela pessoa amada, querida, é arrancada de seus amigos e familiares de forma abrupta. Acidente, infarto, mal súbito… Algo inesperado acontece e quem amamos vai embora sem ao menos ter a chance da despedida. Em um minuto, ela estava ali. No instante seguinte, não está mais. Já para outras pessoas, a oportunidade da despedida de seus entes queridos é dada. Uma doença, que muitas vezes é tida como o fim – e realmente é –, está disfarçada de um adeus que traz a chance de ser regado por amor e carinho. A verdade é que, de uma forma ou de outra, a humanidade não está preparada para a morte. Mesmo sabendo da finitude da vida, vivemos como se fosse infinito. Dinheiro, status e luxo ganharam prioridade ao longo do tempo, e o que realmente importa fica em segundo plano. O ter muitas vezes ganha o lugar do ser, e só damos conta de que nada disso importa quando a morte bate à porta. 

Os cafunés que viviam ali já não existem mais. As longas conversas ao telefone foram levadas e nunca mais voltarão. A vida definitivamente para e a rota precisa ser recalculada. É necessário construir um novo eu diante da perda. E, em alguns casos, o amor que poderia ter sido dado a tempo ou a mais e não foi. Aquela reunião que poderia ter sido adiada para que houvesse uma conversa banal ou apenas a troca de um olhar, para dar e receber o carinho daquela pessoa amada ocupam um espaço enorme. Espaço esse que pode ser chamado de falta ou remorso. A verdade é que a humanidade vive como se sempre houvesse tempo, mas muitas vezes não há. Muitas vezes não há o minuto seguinte, a próxima ligação ou conversa. Simplesmente não há. Vivemos como se tudo fosse  para sempre, quando na verdade não temos sequer a garantia do amanhã. Algumas vezes as mudanças acontecem na marra. Uma guilhotina afiada corta as nossas mãos, e todas as rédeas escapam. É o que pensamos ter acontecido, até que a gente se dá conta de que nunca houve rédeas. Ninguém monta na vida. Brincamos de escolher, brincamos de poder conduzir o destino.

Hoje, Feriado de Finados, é impossível não refletir sobre a vida. Sobre viver. Afinal, de fato, a morte é a única certeza que todos têm na vida. Essa é a única garantia. Mas o que não se tem é o “quando”. E, a falta da garantia deste “quando” é que nos convida a pensar sobre o tempo e o amor, e a forma como eles são “gastos”. Você tem gastado o seu tempo da forma certa? Pois é possível fazer outra afirmação: além da morte, a única certeza que se tem é que depois de morto já não há mais tempo para amar, e a única coisa que resta são as lembranças. As memórias do cheiro, do som da risada, das broncas, das comidas, daquilo que um dia foi tudo e que hoje perdeu-se no espaço chamado tempo. Por isso, flores em vida!

 

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