Editorial: filho feio

 

Inaugurada no dia 27 de março de 2014, a unidade de Pronto Atendimento Padre Roberto (UPA 24h) era a grande promessa de melhorias na saúde pública de Divinópolis. Hoje, quase nove anos depois, o que se vê é totalmente contrário às promessas. No papel, o paciente daria entrada na unidade e lá permaneceria por até 24h. Ou seja, a porta de entrada. Se preciso, seria transferido para um hospital.  No entanto, o que se tem é uma unidade superlotada, sucateada e com profissionais sobrecarregados. A estrutura apenas resiste às terceirizações, foi a assim desde a sua criação. Pela terceira vez, uma gestora da unidade será investigada pelo Município. Pela terceira vez, uma administradora é ouvida pelos vereadores por causa do caos. Pacientes nos corredores, falta de insumos e medicamentos, profissionais sobrecarregados, falta de profissionais são a ‘marca registrada’ da unidade desde a sua implantação. A UPA apenas resiste, porque tem que resistir, porque tem que existir. A unidade apenas resiste à falta de administração e de capacidade técnica de gestores de fazê-la funcionar como se deve. Sem pai, sem mãe, apenas segue sem um plano que a faça cumprir o papel para o qual foi idealizada. É como diz um velho ditado: “filho feio não tem pai”. 

Os vereadores fazem apenas o que estão acostumados a fazer quando alguma situação aperta em Divinópolis. Nada! Aliás, fazem sim: vídeos, audiências públicas, e volta e meia instauram uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI). Porém, nada disso traz efeito nenhum. A unidade continua como sempre esteve. Muitas vezes, é mais fácil dizer que  a culpa é de fulano Beltrano, do que  realmente assumir a sua responsabilidade. Foi o que disse o secretário de Saúde, Alan Rodrigo, durante a audiência na Câmara para discutir a superlotação da unidade. Disse que a atual gestão  pegou um cenário caótico de saúde pública. Certíssimo. Mas qual gestão não pegou? Não é fácil, nem aqui, nem em qualquer outra cidade brasileira, porém,  é neste momento que se costuma fazer a diferença. Ainda mais se tratando do atual secretário que é muito competente no que faz.  Já passou da hora de se ter um Plano Municipal de Saúde e mostrar realmente que esta administração veio para fazer diferente.  Para isso, a criação deste plano é primordial e urgente. Além disso, investir ainda mais na Atenção Primária. Só isso será capaz de pelo menos amenizar “o cenário caótico”, citado pelo secretário. Não se tem tempo mais só de apontar onde foi ou está o erro, é preciso ação. 

Como se toda esta confusão na UPA não fosse suficiente, a intenção do Governo do Estado é seguir o mesmo modelo de terceirização no Hospital Regional, ou seja, contratar uma Organização Social via licitação. É possível  que nunca tenham ouvido a frase: nada é tão ruim que não possa piorar. Se hoje o que não faltam são pais para a obra, quando tudo estiver no mais absoluto e verdadeiro caos, não vai se achar um sequer para assumir a responsabilidade. Aí, o filho feio não vai ter pai. E haja pai, pois o que mais se tem por aqui, é filho feio.

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