Editorial: Eterna campanha

 

Mais ano eleitoral se aproxima. Desta vez, os brasileiros irão às urnas para escolher seus vereadores e prefeitos. Apesar de ainda faltarem meses para a disputa, muita gente sequer saiu da campanha passada. Essa é a mais pura verdade. Esse “fenômeno”, se é que podemos chamar assim, tem dominado o Brasil na última década. A cada dois anos, mesmo depois de eleitos, os candidatos simplesmente continuam em plena campanha eleitoral. Discursos inflamados, apaixonados, com direito a muito sensacionalismo são a marca registrada de quem está no poder e segue fazendo campanha. Do presidente ao vereador, não há quem escape. Mesmo eleitos, eles seguem em suas costumeiras trocas de acusações, amadorismo, sensacionalismo, ganhando palco de todos os lados. Afinal, o que importa é o show, e plateia tem para todos os gostos. Com as cenas combinadas com suas assessorias e os celulares sempre a postos. Apontam problemas e mais problemas, quase nunca as soluções. O que vale é apontar para a situação não resolvida há anos e buscar culpados, com afirmações genéricas e ultrapassadas. O teatro todos já sabem de cor e salteado. 

Em meio a essa eterna campanha, o povo, que segue acreditando que uma hora a situação vai melhorar. Talvez seja exatamente este desejo que mantenha o brasileiro de pé, carregando o Brasil nas costas. Encarar a realidade talvez seja doloroso demais. Ver que tudo não passa de um grande espetáculo e de uma eterna campanha eleitoral talvez seja muito para processar. A paixão cega, por qual lado seja, junto com o desejo inenarrável de ver este país crescer é o que tem sustentado o povo. Tirar a venda dos olhos e ver que tudo não passa de um enorme teatro é muito. Beira o insustentável, pois a esperança segue sendo a “mãe” deste povo calejado. Acreditar que tem alguém trabalhando para que um dia a Unidade de Pronto Atendimento não esteja superlotada, que o atendimento seja digno e humano, que o poder de compra seja suficiente para planejar o amanhã e não apenas limitar o hoje, de ter acesso a serviços básicos de qualidade e até mesmo conquistar a tão sonhada casa própria. Encher o coração de sonhos e alma de esperança de que há um trabalho sério sendo feito pelos eleitos pelo povo é menos difícil do que enxergar que tudo não passa de uma eterna campanha eleitoral. 

É como já foi dito anteriormente: “ah, se o povo brasileiro desse apenas uma volta nos bastidores políticos, onde o Brasil de fato acontece e pudesse ver a realidade”. Acreditar piamente que há alguém trabalhando contra a corrupção sem se corromper, defendendo os seus interesses e os seus direitos é menos doloroso. Apesar de necessário, encarar a realidade talvez não seja o ideal para este povo que carrega um país nas costas. Até este tempo chegar, o jeito é viver nesta eterna campanha eleitoral.

 

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