Editorial: Espetacularização
A sociedade vive, desde o crescimento massivo do uso das redes sociais, o constante efeito da espetacularização. Nada é feito para ser vivido, mas para ser postado. O real já não existe mais. As sensações e experiências passam a ser divididas entre aquelas que são publicáveis ou não. Tudo integra o grande espetáculo chamado rede social. Espaços onde todos são mais felizes, têm mais amigos, a família perfeita, o melhor carro, a casa dos sonhos, as roupas da moda. A linha entre o real e a espetacularização, porém, é tênue e, em diversas situações, ultrapassa os limites da noção e do respeito.
Enquanto de um lado há a glamourização da vida, do outro essa linha se rompe quando pessoas em situações vulneráveis são expostas na busca por likes, compartilhamentos e até mesmo crédito. Quando pessoas são filmadas em brigas, acidentes, machucadas ou até mesmo mortas, logo em seguida este conteúdo viraliza, sempre visando likes. Em algumas gravações é possível ver que a prioridade é filmar, e não ajudar. Esse ponto mostra o quanto a sociedade está adoecida, efeito da espetacularização.
Quando esse fenômeno cruza com o real, o resultado impactante é a quebra do que a tela esconde. Todos querem ser vistos lindos, arrumados, com filtros, bem e felizes nas redes sociais. Quando o real é captado, divulgado e a pessoa é colocada na vitrine da vulnerabilidade, a situação muda completamente. É quando todo este contexto nos leva ao questionamento: o que leva uma pessoa a filmar outra em uma situação vulnerável? Qual o ganho disso? Qual o preço da espetacularização? Talvez agora a conta esteja chegando. Afinal, além das fake news, que trouxeram e ainda trazem prejuízos enormes para o coletivo, a humanidade começa a entender que é preciso ter postura, mesmo quando os celulares não estão gravando, para que não seja o próximo a pagar a conta da espetacularização. Hoje, todos têm seu comportamento e sua existência julgados no tribunal da internet.
Tudo tem seu preço. E a consequência da falta de maturidade para lidar com a internet é esta: exposição excessiva, descabida e, muitas vezes, desnecessária. Há aqueles que acreditam que tudo é permitido no meio digital, afinal a internet é uma terra sem lei. Todos estão conectados, porém sem a inteligência e empatia necessárias para entender como aquilo que está sendo gravado e publicado afeta quem está do outro lado da tela. Todos paguem a conta no final. A rede social pode até ser gratuita, mas a espetacularização, não. Essa tem um preço, que pode ser alto, quando o limite do respeito e da noção é rompido. Como nem tudo está ao nosso controle, é preciso viver dentro dos limites da sociedade, da racionalidade, para não ser a próxima vítima. Pois, se tem algo que internet não tem é perdão. Todos estão no mesmo barco, pagando a mesma conta. Então sorria, você está sendo filmado.