Editorial: Escravo de ilusões

No dia 7 de setembro, o Brasil comemora os 201 anos de sua independência. Foi em 1822, que o país deixou de ser colônia de Portugal para servir aos interesses de outras potências. Primeiro, a Inglaterra; em seguida, os Estados Unidos. Muita coisa mudou de lá pra cá, mas a herança daquela época ainda segue viva nos nossos dias. O grito de Dom Pedro às margens do rio Ipiranga, de “independência ou morte” ecoa no tempo, e traz grandes reflexões. Dentre elas, a principal: somos livres? A resposta, talvez, seja mais simples e clara do que parece. Afinal, basta olhar ao redor e ver que a luta por igualdade, por equidade, justiça e independência continua tão viva quanto em 1822. A grande verdade é que o povo nunca esteve tão preso, tão dependente quanto agora. As amarras do ego e da vaidade cegam a população e os representantes do povo, que seguem em um ciclo vicioso, sem data para acabar, e o pior, que apenas traz o caos para a nação. Para quem não sabe, até se chegar naquele 7 de setembro de 1822, várias revoluções, como a Inconfidência Mineira, em 1789, foram feitas anteriormente. 

A comprovação de que a herança daquela época está mais presente do que nunca, é o fato de que as reivindicações estavam relacionadas às altas taxas que a coroa portuguesa cobrava da população em forma de impostos. 201 anos depois, eis que a população segue com as mesmas insatisfações. O Brasil pode até ter se tornado um país “independente”, mas seu povo não. Amarrada em ilusões, em discursos bonitos, em utopias, a população apenas sobrevive, e segue, em partes como em 1822. Mais de 200 anos se passaram, e o país pouco evoluiu neste sentido, afinal, o estudo feito pelo Instituto Brasileiro de Planejamento Tributário (IBPT) mostrou que, dentre 30 países pesquisados, o Brasil é que oferece o pior retorno em benefícios à população dos valores arrecadados por meio dos impostos. A verdade é que somos escravos de ilusões, egos e vaidades. Tão dependentes quanto há 201 anos. O grito ecoa com o tempo, mas a liberdade de seu povo, que viria com ele, não chegou. 

Talvez, como forma de sobreviver a esta herança, a população apenas se conformou. Afinal, o desejo de libertação e independência apenas segue ao lado do dever – e instinto – de sobrevivência. E, o que restou ao brasileiro neste tempo foi apenas a conformação, pois a verdade é que todos seguem tão presos quanto em 1822. Iludidos e apaixonados, talvez esta seja a definição perfeita para este 7 de setembro. Talvez, acreditar que político X ou Y seja o “Dom Pedro do século 21”, e torne tudo mais fácil. Talvez, acreditar nesta narrativa seja o que encha o coração do povo de esperança, e crie a sensação de que o tempo passou, e tudo evoluiu. Ainda não há resposta certa para isso, mas a única saída é seguir, sobrevivendo, lutando, e com o peito cheio de esperança de que, quem sabe, talvez, um dia, de fato essa independência venha acompanhada de evolução. Até lá, seguimos de cá, com a herança dos tempos longínquos.

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