E ele se foi

E ele se foi

Este é o editorial mais difícil de escrever, por nunca pensar que seria necessário, pois sempre imaginei que o Coronel Faria seria imortal. E este espaço pertenceu a ele por anos e anos, onde discorria sobre um dos seus temas preferidos, a política. Talvez não seja um editorial exatamente este de hoje, mas é o local em que posso abrir o meu coração, que está sangrando.

Um homem que conheci há quase 30 anos e que, desde seu primeiro olhar, eu senti um aconchego e uma seriedade no trabalho e em tudo que fez. A primeira frase que disse, quando fui apresentada a ele, foi: “Olá, Janiene com dois enes”, e isso se repetia sempre. Aos poucos, já estava envolvida com toda a família jornal Agora. O tempo, como sempre, passa muito rápido, e não damos conta de senti-lo. Ele sempre me confiando mais e mais responsabilidades. Tivemos dias difíceis, dias fáceis, dias que pareciam que não iríamos vencer, mas, sempre com um sorriso do tamanho da alma, ele dizia: “calma, filha, vai dar tudo certo”. Esse “filha” me colocava para cima e, de certa forma, eu sentia vontade de ir sempre além, sem nunca decepcioná-lo.

 Como é difícil e faltam as palavras certas para expressar esses quase 30 anos de convivência. Jamais imaginava que a responsabilidade maior de todas estava por vir ‒ ele, ao longo desse tempo, fez um intensivo comigo e me ensinou cada detalhe de como vender, aprender a ouvir as duas partes, pois um pré-julgamento era impossível para ele, sua honestidade não permitia. Então, com a vinda de sua filha Daniela Faria para o jornal para ajudá-lo, acabou de me dar o intensivo, pois ela, em dois anos, fez com que eu praticasse e acreditasse que eu seria a pessoa mais certa para continuar o trabalho dele de quase meio século. 

Com a morte do meu pai, Dejair Faria, perguntei a ele se poderia ser meu segundo pai por ter perdido essa referência. Ele aceitou imediatamente com aquele olhar de: “tudo bem, minha filha”. E assim foi e será a minha gratidão e consideração por ele. 

Conforme te disse no domingo, apesar de os seus ouvidos já não me ouvirem mais, deixo registrado aqui que honrarei o teu nome e o nome do jornal o qual me confiou. Pois foi exemplo de vida, de superação e de uma trajetória invejável. Contou, narrou e escreveu muitas histórias.

 

Um editorial que não é um editorial, e sim um desabafo, um grito de gratidão e que precisava encorajar outras pessoas a buscar sempre o que está além, e acreditar que tudo podemos, basta nos permitirmos. 

Saudade eterna, meu chefe, meu pai, meu amigo, Coronel Faria,

"Janiene com dois enes"

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