Do tamanho dos nossos sonhos

Laiz Soares 

Do tamanho dos nossos sonhos

Nossa cidade já ousou sonhar grande. Houve um tempo em que os visionários desta terra falavam alto e eram ouvidos ‒ muitos, como Antônio Martins, chegaram a ser escolhidos para liderar o futuro da cidade e da região. Hoje, infelizmente, uma parte da cidade está surda e não consegue ouvir, e muito menos compreender a voz de quem tem visão de futuro para nossa Divinópolis. 

Uma coisa que me entristece é ver que uma parte da população se contenta com pouco e espera muito pouco da cidade. Muitos desistiram, jogaram a toalha, e só querem sobreviver, já que a vida é mesmo muito dura, principalmente para quem mora em condições difíceis, em locais afastados, sem saneamento, sem infraestrutura, sem o básico. Mas muitos ainda vivem, pulsam, inovam, criam, fazem acontecer: no comércio, na moda, no setor de beleza, na cultura, em qualquer meio. Aqueles que têm acesso a oportunidades fazem essa cidade ainda brilhar. 

Divinópolis é criativa com perfil empreendedor. Mas muitas vezes se porta como aquele empreendedor com ideias geniais que deixa de ter sucesso porque tem medo do desconhecido, não tem coragem de ousar, tem receio de arriscar e perder o pouco, ou quase nada que tem. E, assim, deixa de conquistar muito para garantir o mínimo, e faz daquelas migalhas uma festa.

Para mim, nossa cidade tem muito do que ela precisa para realizar seus sonhos de voltar a ser grande, pujante, relevante econômica e politicamente no país. A princesinha do oeste, no momento, perdeu seu brilho e seu reinado ‒ está mais parecida com qualquer coisa que não seja uma princesa e aparece no noticiário nacional para passar vergonha. O problema é que a gente tem pensado pequeno, agido pequeno e se contentado com pouco. Aí fica difícil crescer, fica difícil brilhar. É impossível alguém conseguir grandes coisas quando se pensa pequeno. Se você pensa pequeno, você age pequeno, escolhe pequeno, planeja pequeno e é pequeno. 

Existe um mundo a ser conquistado para além da MG- 050, mas a gente não parece estar muito disposto a desbravar o novo, ficamos presos àquilo que nos passa segurança, que parece mais confortável e confiável. Meu pai sempre me ensinou: na vida, às vezes, “o cavalo só passa arriado uma vez”. Nosso espírito receoso e conservador pode estar nos impedindo de montar no cavalo do futuro, do progresso e da esperança de uma vida melhor para todos nós.

Enquanto isso, vivemos um período que considero de relativa decadência comparado ao que já fomos e ao que podemos ser. Paira no ar uma decadência social, cultural e até mesmo moral e ética. Uma cidade em que parte escolheu levar na brincadeira coisas sérias como a política e a pandemia. Uma cidade em que muitos não respeitam a vida dos outros. 

Mesmo assim, encarando a dura realidade, muita coisa me traz esperança. Eu acredito demais no futuro da nossa cidade e pretendo continuar lutando por ele. Ninguém é feliz longe de casa, das suas origens, da sua terra. Uma vez ouvi isso quando morava fora e disse que queria voltar para cá. Podemos até ser felizes quando estamos longe, mas não completamente, nem por muito tempo. O que me fez querer sair foi o mesmo que me fez voltar: grandes sonhos a realizar. Ter a ousadia e a coragem de sonhar muito, sonhar grande, querer muito mais do que me era oferecido e do que é oferecido a todos como alternativa e possibilidade de vida. 

Eu sempre fui uma inconformada, insatisfeita com as coisas como eram e questionadora desde criança. Mas também sempre fui uma otimista e acreditava em possibilidades que todos ao meu redor consideravam impossível. Ariano Suassuna dizia que o otimista é um tolo. O pessimista, um chato. Bom mesmo é ser um realista esperançoso. Sonhar com os pés no chão, mas sonhar, olhando e nos nivelando para cima, subindo a régua, e não olhando para baixo nem para trás. Que a gente queira muito mais para Divinópolis do que nos contentamos em querer hoje. Afinal, só poderemos ser do tamanho dos nossos sonhos.

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