Divinópolis tem 22 casos suspeitos de febre maculosa

Notificações cresceram no último mês; bactéria circula em Minas e preocupa especialistas

 

 

Bruno Bueno

Autoridades sanitárias ainda se preocupam com a febre maculosa em Divinópolis. Dados da Secretaria Municipal de Saúde (Semusa), divulgados nesta semana, mostram que a pasta analisa 22 casos suspeitos na cidade. Levantamento do Agora também mostra que o número de notificações dobrou no município em relação ao mês passado.

Números

De acordo com a Prefeitura, 44 notificações já foram contabilizadas neste ano. 19 registros foram descartados, 22 estão em análise e três já foram confirmados. Quatro pessoas precisaram ser hospitalizadas. Infelizmente, uma pessoa morreu com complicações da doença.

68% dos casos notificados foram registrados em homens. O restante, que corresponde a 32% do total, foi contabilizado em mulheres. Crianças e adolescentes entre 10 a 19 anos correspondem a faixa etária com mais notificações (17). A lista segue com: 20 a 39 anos (14), 1 a 9 anos (7), 40 a 59 anos (4) e 60 ou mais (2).

Mais dados

34 das 44 pessoas que tiveram sintomas identificaram a presença de carrapatos. Oito com cães e/ou gatos. Cinco com capivaras e também cinco com cavalos. É importante ressaltar que algumas pessoas tiveram contato com mais de um animal. 

Ainda segundo a Semusa, 80% das vítimas notificadas (34) frequentaram matas ou rios. 

Comparativo

O último balanço da febre maculosa havia sido divulgado no dia 8 de agosto. Na época, a cidade tinha 19 notificações. Hoje, tem 44. O aumento foi de 131%. 

A primeira análise mostrou que 8 casos estavam sendo investigados. O número atual é de 22, ou seja, um crescimento de quase 200%. 

Minas

A preocupação também atinge outras regiões de Minas Gerais. A Fundação Ezequiel Dias (Funed) identificou nesta semana que a bactéria que transmite a febre maculosa circula pelo Norte do Estado. Municípios da região receberam alerta do Centro de Informações Estratégicas em Vigilância em Saúde (Cievs), sediado na Superintendência Regional de Saúde de Montes Claros (SRS).

A bactéria foi encontrada em amostras de carrapatos recolhidas em agosto. A coordenadora do Cievs Regional de Montes Claros e da Coordenadoria de Vigilância em Saúde da SRS, Agna Soares da Silva Menezes, detalhou o procedimento.

— O alerta de risco tem como objetivo a divulgação rápida e eficaz de conhecimento à população e instituições parceiras da área da saúde, possibilitando o acesso a informações fidedignas que possam auxiliar nos diálogos para tomada de medidas de proteção e controle em situações de emergência em saúde pública — explica.

Casos da doença já haviam sido registrados em pessoas que estavam em um mesmo lugar em Campinas, no interior de SP. Três delas morreram. 

— O resultado detectável em duas amostras de carrapatos indica a presença da bactéria no meio ambiente, escolhido aleatoriamente, e que os vetores podem ser transportados de forma passiva — pontua a especialista.

Ações em Divinópolis

A Semusa trabalha para conter a disseminação da doença. As ações começaram em novembro de 2022 em quatro locais. O Parque da Ilha, um dos espaços visitados, registrou a presença do carrapato.

As operações foram interrompidas e voltaram no meio de junho de 2023. 

Fiscalização na cidade

Quinze locais foram vistoriados neste mês e dois testaram positivo para a febre: o Clube dos Servidores e o calçadão ao lado do Hotel Imperador, no Porto Velho. 

— No final do mês de julho e início de agosto, foi efetuada uma nova varredura do campo de futebol do Clube dos Servidores. Além deste local, a atividade também aconteceu nos campos dos bairros Manoel Valinhas e Candelária, no Centro Industrial e no calçadão — explicou a Prefeitura em nota.

Um “arrastão” também foi realizado nesta semana nos arredores da casa da primeira vítima fatal de febre maculosa da cidade.

— Um carrapato foi coletado e será enviado para análise de especialistas. Os agentes de combate a endemias farão uma força tarefa no bairro Candelária orientando a toda população 

Morte

O município confirmou, em agosto,  a primeira morte por febre maculosa em 2023. Trata-se de um homem de 77 anos, que faleceu dia 25 de julho. O  falecimento estava sendo investigado desde então. 

Segundo a Prefeitura, a vítima chegou na Unidade de Pronto Atendimento (UPA) no dia 22 de julho com febre, dores na nuca e mal-estar.

— Ele melhorou e foi liberado. No dia seguinte, retornou com febre e confuso. Na segunda, um carrapato foi encontrado em seu corpo no hospital. No dia seguinte, infelizmente, o paciente morreu — ressaltou a Prefeitura em nota.

As pessoas que moravam com a vítima não tiveram os sintomas.

— As atividades de combate à febre maculosa continuam de forma intensificada, com os tratamentos de prevenção contra a disseminação da doença pela cidade sendo realizados nos pontos de foco, onde o risco de propagação é maior — acrescenta a Semusa.

A secretaria registrou, no ano passado, 24 notificações da doença, sendo seis confirmações e três mortes.

Relembre

A febre maculosa já causou vários problemas nos últimos anos em Divinópolis. De acordo com a Semusa, 24 notificações, seis confirmações e três mortes foram registradas em 2018. 

13 notificações, 1 confirmação e nenhum óbito foram registrados no ano seguinte.

Risco

Alguns locais são conhecidos pela contaminação por febre maculosa em Divinópolis.

O Parque da Ilha, por exemplo, foi interditado duas vezes em 2019 devido ao alto risco de proliferação da doença. A Praça Candidés também tem histórico de alta presença do carrapato-estrela, assim como alguns pontos que beiram o rio Itapecerica.

Os campos de futebol que não recebem manutenção regular também são perigosos.

O que é?

A febre maculosa é uma doença febril aguda, que afeta a pessoa de diversas formas. Os sintomas podem ser leves ou graves, levando, inclusive, à morte. A doença é causada por bactérias do gênero Rickettsia e transmitida pela picada de carrapatos infectados. 

Em Minas, o vetor da doença é o carrapato-estrela, também conhecido como carrapato de cavalo ou "rodoleiro". Já o agente etiológico mais frequente é a bactéria Rickettsia rickettsii, responsável por produzir os casos mais graves da doença.

Como se prevenir?

A SES-MG publicou uma cartilha divulgando detalhes de prevenção contra a febre maculosa.  

  • Use repelentes contra carrapatos;
  • use roupas de cor clara, vestimentas longas, calçados fechados;
  • use equipamentos de proteção individual ao limpar pastos;
  • evite sentar-se em gramados durante caminhadas, piqueniques, etc;
  • examine o corpo: retire os carrapatos com torções e auxílio de pinça;
  • nunca use as unhas e esmague o animal;
  • utilize carrapaticidas em cães, cavalos e bois;
  • limpe áreas de vegetação regularmente.

 

 

Comentários