Discussão entre servidores e vereador provoca confusão em reunião da Câmara

Membros do sindicato municipal se desentenderam com Eduardo Azevedo após o parlamentar dizer que reivindicação por reajuste salarial é politicagem

Bruno Bueno

Um debate acalorado marcou a 51ª Reunião Ordinária da Câmara de Divinópolis, realizada na tarde de ontem. Servidores do Sindicato dos Trabalhadores Municipais (Sintram) se desentenderam com o vereador Eduardo Azevedo (PSC) após a leitura de uma nota de repúdio contra o parlamentar.

O envio do documento ocorreu após o edil afirmar, durante a 50ª Reunião, na última terça-feira, 24, que a luta do Sintram pelo reajuste salarial de 5,2% é “politicagem”.

— Sintram: judicialize a causa. Nós estamos amparados pela lei. A mesma coisa que aconteceu no Rio aconteceu em Santa Catarina [onde o reajuste foi aplicado, mas precisou ser revogado por recomendações de órgão jurídicos]. Para com essa politicagem que o prefeito é contra o servidor. Nós viemos do meio que vocês são. Desde criança sabemos o que é sujar a roupa para trabalhar. O problema é que existe uma classe sindical que só sabe “mamar na teta” e colocar o servidor contra o prefeito — disse o vereador na primeira reunião da semana.

Nota de repúdio

A nota de repúdio foi lida ontem, na íntegra, pelo vereador Hilton de Aguiar (MDB) em seu pronunciamento na tribuna livre. O Agora teve acesso ao documento.

— É lamentável perceber que um representante do povo, muito bem remunerado, gasta o valioso dinheiro público e seu tempo de fala para distribuir ataques gratuitos e sem fundamentos a colegas em plenário, a representante de Conselho, a professor e agora ao sindicato. Para Eduardo Azevedo, que nunca em seu histórico de trabalho teve que lutar por direitos trabalhistas, é fácil menosprezar o trabalho de um sindicato em defesa de seus servidores, já que o vereador sempre ocupou posição privilegiada na relação trabalhista, a de “patrão” — diz a nota.

Mais críticas

O sindicato prossegue a nota criticando a postura do vereador em pedir que o Sintram entre com uma ação na Justiça. Além disso, os servidores afirmam que a atual gestão prometeu a valorização dos servidores, algo que, segundo eles, não está sendo observado.

— Em campanha eleitoral, a gestão Gleidson Azevedo/Janete Aparecida garantiu a valorização e respeito aos direitos do funcionalismo municipal. Como isso não está sendo efetivado, mas, ao contrário, o que está ocorrendo é descumprimento de direitos dos trabalhadores (lei do gatilho, que é anterior à lei 173/2020), a precarização do serviço público e o assédio moral, logo se faz necessária a luta sindical em favor dos servidores — explicou.

Por fim, a nota de repúdio termina reforçando que a luta pelo gatilho salarial, na opinião dos servidores, não é politicagem. Os sindicalistas também direcionaram críticas ao prefeito Gleidson Azevedo (PSC), irmão de Eduardo.

— Não há politicagem, há, sim, direitos trabalhistas e a defesa ferrenha para sua efetivação! (...) Neste contexto, utilizando as próprias palavras do senhor vereador, Eduardo Azevedo, se o seu irmão, prefeito, não consegue ser um bom gestor: pede para sair! — finalizou.

Resposta

Logo após o término do pronunciamento do vereador Hilton de Aguiar (MDB), Eduardo pediu a palavra para o vice-presidente da Casa, Roger Viegas (Republicanos), que estava dirigindo a sessão naquele momento, para seu direito de resposta.

— Eu tenho educação, vocês vão ter comigo? Primeiramente, quero esclarecer para a população de Divinópolis que eu estou defendendo o Gleidson com base na lei 173, que determinou que todo reajuste está proibido durante a pandemia. Se eu falo que é politicagem, é porque é politicagem — disse.

O parlamentar continuou as críticas ao sindicato. Eduardo afirmou que o salário dos servidores é pago pelos funcionários do edil, por meio de impostos.

— Por que não entraram judicialmente até hoje? Eu trabalho desde os seis anos de idade e não dependo da política. Servidores, o seu salário é pago pelos meus funcionários que geram imposto de renda. Eles aprontam uma articulação enorme, porque agora tudo que você fala é crime. Para que existe a tribuna e a imunidade parlamentar? — disse.

Politicagem?

Eduardo, no fim de seu pronunciamento, apontou que os servidores que falam mal de seu irmão estão recebendo em dia. Ele voltou a dizer que a reivindicação pelo gatilho salarial é politicagem.

— O problema é o seguinte: eles estão falando mal da gestão do Gleidson, mas o salário deles está em dia, inclusive já até receberam o 13º. Olha a politicagem e a covardia que eles fazem. Enquanto você não tem o que comer na sua casa, eles estão recebendo em dia. Parem de pensar no seu próprio umbigo — criticou.

Interrupção

Neste momento, o vereador foi interrompido pelos servidores que estavam em plenário. A discussão fervorosa obrigou Roger Viegas a pedir, por mais de uma oportunidade, que os servidores se acalmassem. Após três tentativas, o vereador Eduardo Azevedo preferiu não continuar sua fala, alegando que “brigar seria pior”. A discussão também chegou a atrapalhar o pronunciamento do próximo vereador que estava inscrito, Diego Espino (PSL), que precisou aguardar o fim da discussão para discursar. 

 

Até o fechamento desta página, às 17h de ontem, o vereador e o sindicato envolvido ainda não haviam se manifestado sobre o episódio.

 

Foto: Divulgação/CMD

Legenda: Servidores e vereador discutem no meio da reunião 

 

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