Desgaste e consequências

Desgaste e consequências 

Abril foi um divisor de águas na Câmara. A situação interna já parecia ruim e desgastada quando, no início do mês, os vereadores aprovaram, pelo apertado placar de nove a favor e oito contra, a abertura de um processo apresentado por Flávio Marra (Patriota) contra Diego Espino (PSC), que pode culminar na cassação do edil. O placar era sintomático da divisão vivida nos bastidores. Nos corredores, sobraram discursos com a citação da palavra "politicagem", afinal, ambos os parlamentares mencionados são pré-candidatos a deputado federal e a briga cheirava a antecipação do embate eleitoral previsto apenas para outubro. Naqueles dias, o clima era de "um triste capítulo na história do Legislativo", haja vista a denúncia ter origem em arenga antiga entre os dois vereadores. Esta legislatura, no entanto, parece determinada a escrever vários capítulos, e não apenas um ou outro parágrafo.

Os dias que se seguiram não foram focados em acalmar os ânimos ou deixar a poeira baixar. Pelo contrário, os desgastes internos se agravaram. Os constantes discursos de Ademir Silva (MBD) tiveram resultado e o vereador conseguiu assinaturas suficientes para solicitar a abertura de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar a Secretaria Municipal de Educação (Semed). O que parecia apenas mais um trâmite comum e burocrático dentro do sistema político legislativo se transformou em uma nova degradação entre as relações sociais entre os vereadores. As novas brigas se tornaram iguais ou mais chamativas do que as graves denúncias apresentadas pelo requerente da comissão. O embate com o líder do governo e as acusações de tentativas para desacelerar o andamento da investigação contaram, inclusive, com a presença de policiais militares no corredor da Câmara para registro de Boletim de Ocorrência. A CPI foi formada, deformada e reformulada três vezes. Na mais recente, Flávio Marra deixou a comissão alegando que o trabalho será político e não técnico. Montar a comissão se tornou tarefa tão árdua quanto promete ser a própria investigação. 

O mês começou e terminou do mesmo modo: com divisão e desconfiança entre os parlamentares. A união pregada na posse, em 1º de janeiro do ano passado, se perdeu entre interesses e egos. E, como não podia ser diferente, os políticos aprenderam a capitalizar em cima dos desgastes. Vídeos com indiretas se tornaram comuns. A discussão política sai de cena para a entrada dos ataques pessoais. Velha política e nova política já não sabem fazer distinção entre si. Ambas caminham para as mesmas e velhas práticas. 

A Câmara deixou de ser um espaço em que os vereadores se reúnem, dentro dos princípios constitucionais e regimentais, para discutir políticas públicas para a superação de problemas coletivos. A oposição se torna "perseguidora" e a base, os "escudeiros fiéis", enquanto os independentes tentam se manter em cima do muro e aguardam o momento certo para se beneficiar de ambas as partes. 

O espaço de debate cada vez mais se afasta do trivial e se aproxima de uma arena. De luta. Luta por interesses pessoais, ambições políticas precoces (as datas eleitorais são mera formalidade) e pela defesa de uma verdade, a sua verdade; todo o resto é mentira. E vídeos, muitos vídeos. O desgaste é interno, mas a consequência é externa, e reflete a polarização política nacional e o individualismo. Nunca assistimos a tantos conteúdos políticos, publicações de vereadores a todo momento. E, mesmo assim, nunca vimos tão pouco. 

 

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