Desfile cívico, uma história contada na avenida 1º de Junho

Desfile cívico, uma história 

contada na avenida 1º de Junho

Divinópolis completa hoje 111 anos de emancipação

Jorge Guimarães 

Até meados de 1915, Divinópolis não era polo nenhum para o Estado de Minas Gerais. Com apenas três anos de emancipação, a maioria dos comércios situava-se no entorno da Matriz, que era, então, o local apropriado para os encontros e celebrações da população da época. Assim, o primeiro desfile cívico militar realizado na cidade foi naquelas imediações, para comemorar a emancipação política/administrativa do até então arraial do Espírito Santo do Itapecerica, em 1º de junho de 1912.

Passados alguns anos, o visionário Antônio Olímpio de Morais, primeiro presidente da Câmara de Vereadores, com sua perspectiva ampla e arejada, sonhou e projetou uma cidade verdadeiramente nova e, assim, executou o novo traçado do município. Isso fez com que a cidade se descentralizasse do entorno do Largo da Matriz. 

Desfiles

Da mesma forma, o desfile cívico militar também teve suas alterações, passando a ser realizado de outras formas. Um detalhe curioso é que, no fim da década de 40, o sentido do desfile era o contrário do atual, seguindo da rua Goiás para a praça da Matriz, hoje praça da Catedral. Anos mais tarde, a comemoração ganhou o formato que é feito nos dias de hoje, com as autoridades e agremiações descendo a avenida 1º de Junho em direção à rua Goiás. 

O passado de Divinópolis conta com momentos interessantes. Nos desfiles da cidade, por exemplo, havia desfile de carros. Os carros passavam na rua, em fila, e os sem carro apreciavam. Neste ano, a Prefeitura vai resgatar esse tradicional cortejo, incluindo na programação o desfile de  carros antigos, em comemoração aos 111 anos da cidade.

Outra maravilha aconteceu no início dos anos 2000, quando era de praxe a "Esquadrilha da Fumaça" fazer uma exibição por aqui, na época do aniversário da cidade.

Autoridades

Antigamente, mostrando sua força política, a cidade recebia autoridades e políticos ilustres, entre governadores e presidente da República, no caso de JK, que era figurinha carimbada junto às autoridades no palanque oficial do desfile. Outro político da velha guarda que sempre estava por aqui era o governador Magalhães Pinto, que teve também algumas passagens importantes por Divinópolis.

Tradição

Mas nada melhor do que fazer uma viagem ao passado, remexendo as memórias de um tempo que ainda continua sendo de felicidade. Reviver um tempo não tão distante, de uma avenida 1º de Junho lotada, em que, ao rufar dos tambores e o soar de clarins, vinha chegando gente de todos os lados para assistir ao desfile. Sacadas e janelas, marquises e edifícios em construção apinhados de gente, em meio a famílias inteiras reunidas para assistir ao desfile de aniversário era o sonho de todos, numa Divinópolis não tão cosmopolita.

Ambulantes vendendo churrasquinho, maçã do amor e algodão doce faziam a festa entre a criançada. Palanque armado, primeiramente na esquina da rua São Paulo, depois transferido para esquina da rua Rio de Janeiro, recebia governadores e outras autoridades, mostrando que outrora a cidade tinha poder político para tal. As fanfarras e as balizas eram o ponto alto de cada escola nos antigos desfiles de aniversário da cidade. Havia uma disputa acirrada entre as escolas, cada uma queria superar o desfile anterior e as outras escolas também. Mas nada era tão esperado e aguardado com ansiedade, principalmente pelas crianças, quanto a tradicional cavalgada.

Cavalgada

Apreciada por todos, a tradicional cavalgada sempre fechou com chave de ouro os desfiles de aniversário da cidade. Isso desde os fins dos anos 50 e início dos anos 60, quando José Gontijo da Silva, o conhecido Zé do Capitão, começou a desfilar com sua tropa puladeira e já famosa em todo o Brasil.

— Meu pai começou a desfilar com sua tropa no fim dos anos 50 e início dos anos 60, e esteve na avenida comandando a tropa até o ano de 1977. A multidão adorava ver a tropa se enfileirar à frente do palanque das autoridades. É marcante para mim, ainda criança, quando, no desfile do cinquentenário de Divinópolis, no ano de 1962, meu pai ganhou, de um grande amigo, o senhor Quinto Alves Tolentino, 12 cavalos pampas. Daí abrimos o desfile, com toda a nossa família e alguns amigos, montados nos pampas com a tropa atrás. Imagens para ficar guardadas na memória para sempre — relembra Rosenwald Mourão Gontijo, um dos filhos do Zé Capitão.

Suspenso

E durante estes 111 anos de emancipação político/administrativa, o desfile só foi suspenso em 2018, em razão da greve dos caminhoneiros e, posteriormente, em 2019, por problemas financeiros, e também em 2020 e 2021 em razão da pandemia de covid-19, voltando a ser realizado no ano passado.

 

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