Democracia

Laiz Soares - Democracia

Segundo Churchill, a democracia é a pior forma de governo, com exceção de todas as demais. Até hoje não inventaram nada melhor. Você pode até não gostar dela, mas as fortes cenas desta semana no Afeganistão nos mostram o quanto ela é valiosa. Nos deparamos com as chocantes imagens das pessoas desesperadas para fugir de seu país porque um regime autoritário, sanguinário e teocrata (não democrata) assumiu o poder. Para alguém que é uma democrata humanista, dói na alma. 

Mas o que é ser uma democrata no pleno e amplo sentido? É ser alguém que defende a liberdade acima de tudo. Inclusive a liberdade das pessoas de fazerem escolhas erradas, de se enganarem, de escolherem o que elas quiserem, mesmo que aquilo seja o pior para as suas próprias vidas. Um político democrata defende, acima de tudo, o seu direito de discordar dele, mesmo que aquilo o contrarie profundamente. Um democrata sabe que a verdadeira emancipação das pessoas vem pelo acesso à educação que lhes permitirá pensar e agir por si próprias com autonomia e plena consciência dos seus direitos, deveres, e da consequência dos seus atos e escolhas.

Não vivemos em uma tecnocracia, e sim em uma democracia. Já me peguei pensando várias vezes se seria certo exigir das pessoas um diploma e uma capacidade intelectual comprovada em provas para que elas fossem habilitadas a serem políticas. Conheço poucas pessoas que sofrem tanto quanto eu vendo um bando de despreparados e inexperientes na política deste país. Eu, desde criança, cresci entendendo e valorizando o conhecimento, o preparo e a experiência como o maior ativo que alguém pode ter na vida. Aprendi isso com meu pai. Ele sempre dizia: “Os estudos de vocês serão a maior herança que eu vou deixar”. 

O problema é que a democracia pressupõe como princípio fundamental igualdade de direitos e deveres e um governo do povo para o povo. Portanto, não é coerente nem adequado que alguém fascinado pela democracia, pela igualdade e pela liberdade como eu lide bem com tentativas populistas, manipuladoras e eleitoralmente oportunistas de tentar reduzir direitos e liberdades cívicas individuais. Poder se candidatar a qualquer cargo, dentro dos critérios atualmente existentes na Constituição, é uma conquista e um direito adquirido de todo e qualquer cidadão, mesmo dos que não estão preparados para tal. Apesar de eu achar um horror e um absurdo as pessoas escolherem analfabetos funcionais para ocuparem posições de poder, isso só será corrigido com educação política e cívica para o povo, e não criando critérios inconstitucionais para que alguém possa concorrer a algum cargo. 

A ideia apresentada pelo vereador Edsom Sousa é uma das coisas mais absurdas que já vi. O nobre edil que me perdoe, até porque já o elogiei bastante em público, mas fiquei chocada, parece que a convivência com o líder do governo fez o populismo passar por osmose. Ser um representante do povo não é o mesmo que ser um servidor de carreira concursado que precisa cumprir requisitos técnicos de tempo de serviço ou experiência, como no caso de um juiz. Exigir que alguém comece a carreira política de forma hierárquica, só podendo se candidatar para alguns cargos depois de ter sido eleito para outros, como se fosse uma carreira militar, é a coisa mais patética que eu já vi. 

Isso não é uma teocracia e, se o objetivo é discutir experiência e preparo, ter ou não um mandato de vereador não valeria muita coisa, já que o que mais temos por aí é vereador ruim e despreparado. Se fosse o caso de se discutir critérios de elegibilidade que qualificam alguém, com certeza haveria critérios muito melhores para tal, como a formação, a habilidade cognitiva, dentre outras competências técnicas e intelectuais. 

Eu acho que o povo escolhe errado quando vota em gente despreparada e incompetente, mas o jeito certo de mudar isso é ensinando as pessoas a votarem com base em critérios objetivos e com consciência, emancipando elas por meio do conhecimento e do senso crítico que permite o livre pensar. O certo é que não haja demanda, que não haja eleitor querendo votar em gente despreparada. Oferta de candidato despreparado sempre haverá, faz parte do jogo democrático, a nossa missão deveria ser focar em educar a população para que não sejam votados. 

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