Dá medo

Editorial - Dá medo 

Em março de 2014, a Prefeitura de Divinópolis entregava à população aquilo que seria a solução de parte dos problemas da saúde pública da cidade, a Unidade de Pronto Atendimento (UPA) Padre Roberto. Na época, a promessa era “desafogar” os atendimentos de urgência e emergência da cidade e dar o direcionamento correto para as demandas. Em outras palavras, segundo o secretário municipal de saúde da época, Davi Maia, o paciente seria atendido na UPA, o tempo máximo de “espera” dele na unidade seria de até seis horas e, logo após esse período, ele já seria direcionado para algum hospital, caso fosse necessário, ou receberia alta. Sim! Essa era a promessa, mas mais uma vez tudo não passou disso.

Hoje, sete anos depois, a verdade é que dá medo precisar de algum atendimento de urgência e emergência na unidade. Desde a sua inauguração, já foi alvo de inúmeras denúncias ‒ da sua construção aos lençóis que cobrem os leitos. Só quem já precisou ser atendido na unidade sabe a realidade e o medo que consome só de imaginar precisar ir até lá procurar atendimento. No fim de 2019, o Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Social (IBDS) foi o vencedor da licitação que definiu o novo administrador. Logo após assumir a gestão da unidade, o instituto promoveu uma verdadeira “varredura” na unidade. Do porteiro a diretores, praticamente todos os funcionários foram substituídos. Terceirizados começaram a atuar. A promessa? Economizar milhões, sob a justificativa que os servidores municipais ganhavam adicionais que sobrecarregavam os cofres públicos. 

Apesar das dúvidas, a situação foi meio que maquiada pela administração da cidade à época e também e também pelo gestor que assumia. Em plena pandemia, funcionava perfeitamente, conforme a direção. Mesmo sem leitos e com pacientes espalhados pelos corredores, tudo parecia sob controle. Mas, é como dizem por aí, ninguém consegue sustentar o que não é por muito tempo. As denúncias de atendimento precário voltaram  à tona. Uma das situações ocorreu neste fim de semana. Uma jovem de 29 anos deu entrada na unidade, na última quinta-feira, 12, queixando-se de dores abdominais e com vômitos, e morreu na manhã de sexta, 13, após uma piora em seu quadro clínico. A família registrou um boletim de ocorrência contra a UPA e nele alegou que a moça teria morrido após ter tido uma reação anafilática, ou seja, alergia a algum medicamento. 

Hoje, três dias após a morte, o que se tem é uma notificação da Prefeitura ao instituto para que se investigue a causa do óbito, uma nota de pesar do Executivo e um BO. Tudo o que não a trará de volta para seus familiares. E engana-se quem pensa que esses documentos causarão algum tipo de mudança, especialmente de consciência, e evitarão outras possíveis negligências. A situação é mais do que grave. Isso porque há uma denúncia em andamento dando conta de que o instituto pagava seu aluguel em Belo Horizonte com o dinheiro da unidade. E, bem antes disso, a Santa Casa de Formiga, primeira a gerir a unidade, também saiu carregada de denúncias de diversas irregularidades, situação que rendeu “muito pano para manga”. Só mais uma prova que lidar com o dinheiro público no Brasil continua deixando a desejar ‒ tendo como consequência o sofrimento da população carente.

Ao divinopolitano, cabe apenas cuidar de sua saúde preventiva e pedir muito a Deus para que não precise procurar atendimento na unidade. 

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