Da ferrovia à prestação de serviços, o desenvolvimento pujante de Divinópolis

Ciclos formaram uma economia bem distribuída; empreendedorismo é o principal fator de incremento econômico

Pollyanna Martins 

Divinópolis completa hoje, 1º de junho, 110 anos, e pode-se afirmar que ciclos forjaram uma economia bem distribuída, com equilíbrio ao longo de sua história. De acordo com historiadores, o município surgiu no século XVIII, mas somente depois de 1912 é que começou a se desenvolver, alcançando destacado crescimento a partir dos anos 1930. 

No início de seu desenvolvimento econômico, em destaque tem-se a ferrovia, que provocou um grande fluxo de mercadorias. Ao mesmo tempo, foi grande consumidora de produtos e serviços da região, e trouxe como consequência a acumulação de capitais no comércio e na agropecuária, que alavancaram o surgimento e o crescimento da indústria entre os anos de 1920 e 1970.

Apesar de a emancipação ter ocorrido somente em 1912, a chegada da estrada de ferro do Oeste de Minas, em 1890, retirou o arraial do atraso em que ficou relegado e lhe deu melhores perspectivas de desenvolvimento socioeconômico. Ciclo que, além de ter durado até os anos 7, como “carro chefe” da economia divinopolitana, foi o que trouxe a emancipação e a criação do Município, a elevação a cidade em 1915 e a instalação da Comarca em 1936. 

 

Vocação 

O especialista e ex-diretor da Agência de Desenvolvimento Sustentável de Divinópolis, José Elisio Batista, destaca que a economia de Divinópolis foi construída com base em uma forte vocação empresarial. Segundo José Elisio, a ferrovia trouxe uma cultura e uma população já urbanizada (engenheiros, artífices, mestres e prestadores de serviços), criando, aqui, um núcleo cosmopolita avançado para os padrões rurais do Brasil da época, além de atrair empresários de fora, inclusive de descendência europeia, mas, principalmente, trouxe dezenas dos melhores empreendedores da região.

Nesse sentido, é bom lembrar que já há algum tempo esses empresários passaram a investir em suas próprias cidades (Nova Serrana e Carmo do Cajuru, por exemplo). Mas o empreendedorismo é o nosso principal fator de incremento econômico — ressalta. 

 

Diversidade 

José Elisio revela que o último planejamento econômico de Divinópolis havia sido feito por Walchir Resende. No início dos anos 70, começava então o círculo dos serviços que, além dos transportes, teve como principais catalisadores as áreas de saúde e educação: Hospital São João de Deus, hoje Complexo de Saúde São João de Deus (CSSJD), inaugurado em 1º de junho de 1968, e as faculdades. 

A época foi considerada um período de preparação para o futuro, o que José Elísio define como “fundamental para o planejamento e execução de vários projetos por Antônio Martins, a partir de 1973”. Para o fim dos anos 70 e início dos anos 80, a economia divinopolitana tem em destaque a vinda da Coca-Cola, embrião da futura Kaiser; a instalação do Senai, um marco na história de Divinópolis; do Corpo de Bombeiros e do Centro Social Urbano para assistência aos trabalhadores. 

Segundo o especialista, na década de 80, desenvolveu-se então o setor de vestuário, com seu ápice no início dos anos 2000, passando depois por um processo natural e inevitável de depuração e amadurecimento. 

— Sua maior contribuição foi a inserção da mulher empreendedora, a multiplicidade de empresas e a incorporação do trabalho feminino ao mercado. Esses ciclos forjaram uma economia bem distribuída, com equilíbrio entre seus componentes: comércio (25%), indústria (30%), serviços (35%) e agropecuária (10%) — destaca. 

Foi no fim dos anos 90 e início dos anos 2000 que Divinópolis teve outro grande e importante fomento econômico, com a vinda da Unifenas, que obrigou as demais faculdades a se expandirem e diversificarem. O campus foi instalado em 2000 e oferecia, inicialmente, o curso de farmácia – atualmente são oferecidas cinco graduações. 

— Nesse sentido, é importante lembrar que o fomento econômico significa geração de emprego e renda, maior arrecadação de impostos e mais recursos para atender à população.  Entretanto, a sua contribuição para o fomento econômico foi expressiva— reforça. 

 

Pluralidade 

Ainda segundo José Elísio, dentro do cenário econômico de Divinópolis tem-se ainda a importância do setor público, com a instalação de regionais de governos estaduais e federal, autarquias e estatais, que trouxeram uma cultura mais cosmopolita e uma expressiva massa salarial. 

Enfatiza que desde o início do primeiro ciclo econômico da cidade, incrementou-se também o mercado imobiliário – terrenos e edificações –, o que gerou um verdadeiro “motocontínuo”, ou seja, a economia cresce e impulsiona o setor imobiliário/construção civil, que cresce e impulsiona a economia. 

— E é nesse ponto que chegamos ao que verdadeiramente caracteriza o nosso processo de desenvolvimento econômico, os fatores primordiais e que continuarão vivos: cultura empreendedorista, patrimonialista, mercantil e diversificação/diversidade econômica — detalha. 

 

Perfil 

José Elisio destaca que a vocação e a atuação da maioria dos empresários divinopolitanos, mesmo os industriais, é predominantemente mercantil, o que, conforme ele, significa que em geral, somos melhores vendendo e comprando do que produzindo. 

Desde os primórdios, é o comércio que move o mundo: não adianta produzir, se não vender, receber e, hoje, cuidar do pós-venda. Temos, portanto, uma grande vantagem competitiva, mas lembremos que a cultura mercantil tende muito a priorizar os objetivos, as metas e os ganhos de curto prazo — detalha. 

O especialista completa afirmando que a economia divinopolitana mostra uma saudável diversificação de ramos e atividades e um equilíbrio entre os setores produtivos. Destaca que a cidade está, portanto, perfeitamente apta e acessível para atração de quaisquer tipos de investimentos produtivos, desde que compatíveis com as suas peculiaridades, estrutura e com as características econômicas.

Se queremos atrair parceiros, empresários e/ou investidores, é essencial que, primeiro, nos conheçamos bem. O empreendedorismo é o nosso principal fator de incremento econômico — conclui. 

 

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