Criança tem que “criançar”, a cultura em brincar, ser criança

 

O mundo tem que olhar para as crianças como crianças, educar, instruir, proporcionar seus momentos de interação com outras crianças, para que possam viver sua infância com a inocência e leveza que a idade pede. 

Não se deve incluir prematuramente uma criança em universo adulto, de forma alguma, de maneira alguma ou sequer com experimento algum. Criança não trabalha, não namora, não tem responsabilidade financeira, não participa de interações adultas, de reuniões adultas, não assiste a programas de tv adulto, não vai a shows e festas de adulto, não se veste como adulto, e principalmente não se relaciona com outras pessoas como adulto. 

É necessário que a criança passe por suas etapas naturalmente, brinque na idade certa, comece a entender sua relação com dinheiro aos poucos, comece a ser apresentada ao trabalho como objetivo futuro e não presente. Ensinar a arrumar uma cama, lavar uma louça, dobrar sua roupa, são formas de se apresentar a responsabilidade de forma sutil, aos poucos e pode ajudar nas etapas que chegarão com o avançar da idade.  

Desde 1959 existe um documento que orienta os países do mundo inteiro a respeitarem as necessidades básicas das crianças. Esse texto, a Declaração Universal dos Direitos das Crianças, foi aprovado por unanimidade, no dia 20 de novembro daquele ano, pela Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU). Em 1989, a ONU oficializou novo documento, a Convenção sobre os Direitos da Criança, ratificada no Brasil pelo Decreto 99710/1990.

Além do Decreto 99710/1990, o ordenamento jurídico brasileiro tem ainda o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), que garante às crianças e aos adolescentes brasileiros todos os direitos fundamentais inerentes à pessoa humana, garantindo-lhes proteção integral e todas as oportunidades e facilidades que permitam seu desenvolvimento físico, mental, moral, espiritual e social, em condições de liberdade e de dignidade. Após anos de debates e mobilizações, chegou-se ao consenso de que a infância e a adolescência devem ser protegidas por toda a sociedade das diferentes formas de violência. Entre elas, a violência de ser obrigado a trabalhar, ou a "adultização precoce" (Capítulo V, artigo 60 do ECA).

Infelizmente vemos a indução, a provocação e a inclusão de crianças ao universo adulto precocemente, com vocabulário impróprio, sexualizando as crianças em danças, roupas curtas, rendadas e decotadas., isso em programas de tv, filmes, novelas, series e até em propagandas comerciais. 

Com essa violência implícita em suas imagens e vivências, as crianças acabam sendo vítimas de abusos, sejam em exposição de seus corpos, iniciando relações amorosas antes do tempo com outras crianças, ou até mesmo forçadas por adultos doentes e pedófilos. 

Hoje dia 18, com saída às 8h na Praça da Catedral, acontece a caminhada “Todos contra a Pedofilia”, uma ação liderada nacionalmente pelo meu amigo promotor Casé Fortes, um lutador incansável pela defesa de nossas crianças, por quem tenho um respeito, admiração e amizade.  

Resolvi trazer esse tema, para que você faça uma reflexão, contribua para a proteção de nossas crianças, que você denuncie ao ver uma criança exposta ao comportamento adulto. A cultura que a criança tem que viver é a cultura em ser criança e ponto.

Trechos de frases e poemas sobre o tema

"Assim um crescer e desconter-se - certo como o ato de respirar - o de fugir para o espaço em branco. O Menino. (...)

(Guimarães Rosa)

 

Se você perder a esperança

Acreditar que viver cansa

É só buscar a lembrança

De como é ser criança

(Welber Tonhá)

 

A criança que fui chora na estrada.

Deixei-a ali quando vim ser quem sou.

Mas hoje, vendo que o que sou é nada,

Quero ir buscar quem fui onde ficou.

(Fernando Pessoa)

 

O menino quer um burrinho

Comentários