Cresce pressão sobre a UPA e plano emergencial é elaborado

Frio favorece alta na procura pelos de atendimentos;procurador do MP determina a instauração do procedimento

Matheus Augusto

Com a queda das temperaturas e o aumento na disseminação de doenças respiratórias, a Unidade de Pronto Atendimento (UPA) Padre Roberto tem ficado lotada nas últimas semanas. A situação voltou a se agravar neste fim de semana. O presidente da Comissão de Saúde da Câmara, Zé Braz (PV), o membro Ney Burguer (PSB), o prefeito Gleidson Azevedo (PSC) e a vice-prefeita e secretária de Governo, Janete Aparecida, do mesmo partido, estiveram ontem na unidade para uma reunião emergencial. O novo presidente do Conselho Municipal de Saúde (CMS), Guilherme Lacerda, também esteve presente. 

Motivos

Durante o encontro, juntamente com representantes da administração da UPA, gerida pelo Instituto Brasileiro de Políticas Públicas (Ibrapp), as lideranças discutiram um plano emergencial. Em vídeo publicado após a reunião, a vice-prefeita reconheceu os problemas, entre eles a dificuldade de contratar plantonista e o fato de determinados hospitais não mais atenderem planos de saúde, especialmente em pediatria. 

— E, com isso, aumentou a procura pela UPA, ainda mais nesta fase de doenças respiratórias — explicou.

Em resposta ao Agora, o Ibrapp destacou o esforço feito para não deixar a população desassistida em relação aos plantões 

— O Município oferece R$ 1.300,00 para plantão noturno, sábado e domingo, porém, diante da escassez de profissionais, o Ibrapp ofereceu R$ 2.800 para o plantão no fim de semana e conseguiu alguns profissionais — ressaltou o gestor da unidade.

Dois fatores para o aumento da procura, de acordo com a administração da UPA, foi a disponibilidade de pediatria e a realização de um grande evento na cidade, que potencializa ocorrências diversas. 

— A alta demanda foi principalmente na pediatria, especialidade essa que o Município atravessa grande dificuldade, já que nos postos de saúde não há atendimento pediátrico, o ambulatório da gripe não atende crianças e os hospitais privados também estão com poucos profissionais atendendo ou nem mesmo tem pediatra de plantão. Também houve a Divinaexpo, que aumentou a demanda, com casos de lesões e embriaguez — relatou.

Além disso, ressaltou que parte considerável dos pacientes apresentavam sintomas gripais e não precisavam, de acordo com a classificação de triagem, de atendimento imediato. 

— O tempo frio e seco contribui para as síndromes gripais, que são hoje a maior parte dos atendimentos da UPA 24hs Padre Roberto Cordeiro Martins, em sua maior são pacientes classificados com as cores verdes e azuis, segundo o Protocolo de Manchester, que não são urgentes ou emergentes — pontuou.

Ao fim, o instituto frisou garantir atendimento à toda população.

— O Ibrapp ainda destaca que não mede esforços para que o serviço seja prestado da melhor forma possível e ninguém que procura a unidade fica sem atendimento médico, porém é respeitado o Protocolo de Manchester, que prioriza os atendimentos de urgência e emergência. Ainda destacamos que nesta tarde [ontem] houve uma reunião entre a diretoria do Ibrapp, Executivo municipal e Conselho Municipal de Saúde para a busca conjunta de solução para o problema que abrange como um todo o atendimento à população e sobrecarrega a UPA — concluiu.

O plano emergencial, com a finalidade de não deixar os moradores desassistidos, será apresentado ao Conselho Municipal de Saúde até a próxima semana. 

Regulação

Os presentes à reunião também defenderam melhorias por parte do governo estadual. 

— Um dos gargalos da UPA é o Estado — afirmou o vereador Ney Burguer.

A principal cobrança foi, novamente, direcionada à necessidade de melhorias na regulação das vagas para transferência hospitalar, gerida pelo Estado. 

— Não adianta  a UPA atender e o pessoal ficar aguardando internação aqui. Precisamos do apoio do Estado para dar vazão aos pacientes da UPA — argumentou o presidente da comissão, Zé Braz. 

O prefeito ressaltou que, atualmente, um dos fatores para a superlotação é a permanência dos pacientes nas unidades em razão da ausência de disponibilidade de vagas para transferência hospitalar. 

— É o que eu sempre falo: a UPA leva uma culpa que não é dela. (...) Tem pacientes que deveriam estar no hospital, mas quem regulariza isso é o Estado — apontou. 

Já o novo presidente do Conselho Municipal de Saúde pediu união entre Estado e Município, em “ajuda mútua”, para minimizar o problema.

— Para que a gente tenha mais vazão aqui na UPA — defendeu Guilherme Lacerda. 

Cobrança

Pelas redes sociais, diversos moradores cobraram atitudes para sanar a alta procura. 

— O que está acontecendo com a UPA é desumano, são muitas pessoas, está demorando muito para ser atendido. Vocês políticos façam alguma coisa (...) vão lá fazer uma visita, lá está na hora de parar de tapar buraco e ir lá ver o que está acontecendo de verdade — comentou.

Problema crônico

A situação já havia acontecido há duas semanas, no dia 23 de maio. Na oportunidade, 411 cidadãos procuraram a unidade. Desses, 296 estavam classificados com pouco ou nenhuma urgência, 101 em urgência moderada e 14 com urgência. A alta procura ampliou a demora no tempo para atendimento. 

Na época, quem aguardava na fila informou que procuraram a UPA devido ao alto tempo de espera nos hospitais particulares. A Prefeitura também garantiu que todos os pacientes foram atendidos dentro de, no máximo, 8 horas. 

— A Semusa trabalha diariamente para melhorias na unidade UPA Padre Roberto, priorizando sempre a segurança, conforto e, principalmente, melhor atendimento a toda a população. A Secretaria de Saúde vem executando também outras providências como a abertura do ambulatório de doenças respiratórias na Policlínica que visará acolher os pacientes com sintomas gripais, de modo a propiciar a redução significativa de pacientes que, pelo mesmo motivo, buscam atendido na Rede de Urgência e Emergência — justificou. 

Audiência

O procurador do Ministério Público de Contas de Minas Gerais, Daniel de Carvalho Guimarães, determinou a instauração do procedimento preparatório desmembrado em dois tópicos: a ausência de Plano Municipal de Saúde 2022/2025 e a aparente insuficiência de médico no sistema municipal de saúde. A denúncia foi apresentada ao Ministério Público do Tribunal de Contas do Estado (TCE) pela deputada estadual Lohanna França (PV). 

— Fizemos a denúncia, pois o município recebe recursos federais e estaduais, e tudo que ocorre em Divinópolis afeta a macrorregião Oeste — justificou Lohanna.

Uma audiência para discutir a saúde em Divinópolis na Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG), também a pedido da deputada, está marcada para terça-feira, 13, às 9h30.

O prefeito Gleidson também receberá ofício para, no prazo de 30 dias, apresentar respostas referentes à realização de processos seletivos para médicos em 2021, número de vagas e especialidades médicas ocupadas, medidas adotadas para manter a prestação do serviço, informações sobre atendimento médico para além dos postos de saúde, e justificativa para a demora para apresentação do Plano Municipal de Saúde. 

A deputada aponta que o procurador pretende apurar o quadro de médicos na cidade e sua possível incapacidade de atender a demanda populacional. 

— O procurador aponta que o concurso público para provimento do quadro de pessoal na área médica é a medida adequada para proporcionar atendimento de qualidade em observância às diretrizes do SUS, pois as contratações temporárias de médicos não estão suprindo a demanda e que no cenário atual, “o Município tem capacidade para contratar mais médicos do que efetivamente possui disponíveis — revelou. 

 

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