CREPÚSCULO DA LEI – AnoV – CX

Magia “negra”

Em 1992, a novela “De corpo e alma” era um grande sucesso televisivo, tendo como protagonista o casal Daniella Perez e Guilherme de Pádua, os quais desenvolviam um “par romântico” na trama.

Em dezembro daquele mesmo ano, Daniella Perez foi vítima de um assassino cruel, efetivado por um concurso de autores composto pelo próprio Guilherme e sua companheira Paula. Grande comoção no país.

A vítima foi, primeiramente, agredida ao ponto de perder os sentidos, em seguida foi levada a um ermo matagal onde foi morta por diversos golpes perfuro-contundentes, inclusive no rosto e na genitália.

A mídia elitista da época tratou logo de fantasiar o episódio com elementos de “magia negra”, evidentemente preocupada em afastar traços de uma “violência natural” atribuível aos envolvidos, ou seja, uma sofisticada mensagem subliminar na qual “a burguesia não faria isso”, senão tomada por “forças do mal”.

Claro que esta espetacularização progrediu o aumento persecutório aos cultos afrodescendentes, dado que vem (de)mostrando cada vez mais as técnicas estimuladas por alguns empresários religiosos para vender a mercadoria “magia negra” e similares.

Parece óbvio que a expressão “magia negra” é composta de significante e significado absurdamente racistas, eivados de potência e lastro diretamente canalizados contra as práticas religiosas da população de origem africana, inclusive apresentando uma “refutação”, ou outra aberração, chamada de “magia branca”.

Outra obviedade é que a magia “negra”, além de preconceituosa, é uma garantia de controle de classes, de exploração e de lucro. Fortunas já foram construídas através dessa tal magia “negra” e as empresas religiosas a vendem como seu principal produto. É lucro certo.

De acordo com as empresas religiosas, todos espectros demoníacos e todas as possessões das pessoas “de bem” trazem o selo da magia “negra”.Estranhamente, não se faz nenhuma associação entre essa tal magia “negra” e as falcatruas de“ressuscitação” de pessoas mal ensaiadas e que alguns empresários religiosos interpretam em palco montado e filmado. 

Não há sequer magia negra em entrevistas com “demônios” às madrugadas, sempre com as mãos para trás, dóceis e, estranhamente, sem cuspir fogo algum ou enxofre pela boca.

Também não se fala em magia “negra” ao chutar imagens de outros cultos, em destruir outros templos, em vender feijões, vassouras, tijolos, ares e papéis ungidos ou abençoados, muito menos em matar indígenas mediante desvio de verbas para eles, empresários religiosos, inclusive estrangeiros.

De fato, os empresários religiosos podem explorar bem e ao máximo a magia “negra” como sendo um produto próprio, registrado e licenciado. Entretanto, poderiam ao menos esclarecer o destino dos lucros da operação. Ou seria outra “magia”?

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