CPI simbólica

INOCÊNCIO NÓBREGA

CPI simbólica

A covid-19 não deixa de ser a maior tragédia sanitária a que assiste  o mundo. Entre nós, já beira 640 mil mortes, muitas delas seriam poupadas, não fosse a negligência do governo central, tardio nas medidas eficazes e corretas, a exemplo da vacinação de combate ao flagelo. Assim mesmo provocado por credíveis instituições, política e científica. A intervenção do Senado Federal, dentro de suas prerrogativas constitucionais, talvez a mais histórica desde sua criação, contando com a incondicional responsabilidade do Supremo e entes federativos, ocasionando a criação do Consórcio Nordeste.  Sem esse esforço tripartite, o desastre ocorreria em maior intensidade.

Vimos pessoas com suspiros entrecortados, na falta de oxigênio,   em Manaus, ou por inadequada assistência médica, várias vindo a falecer.  Em outros pontos do país, também. De feliz inspiração  da CPI do Senado, foi concretizado e solenemente inaugurado, neste 15 de fevereiro,  o Memorial às vítimas da Pandemia no Brasil. Instalado em espaço interno daquela Casa, próximo ao Auditório Petrônio Portela. Constitui-se de 27 prismas, blocos em disposição paralela, representando os Estados e o Distrito Federal, trazendo no seu topo uma velinha eletrônica acesa, simbolizando o passamento de cada uma. A justa iniciativa, não só possível por um projeto de lei, mas fruto de uma outra lei, a da solidariedade humana, conjugada por todos os senadores.

Evidentemente que existem outros memoriais, como o Panteão da Pátria e da Liberdade, criado em 1986, localizado no Conjunto Cultural, dos Três Poderes, alusivo aos heróis nacionais; Memorial à Democracia, relativo à Rev. de 1930; Memorial dos Mortos e Desaparecidos da Ditadura em S. Paulo, e em Porto Alegre; o Memorial do Descobrimento do Brasil, na cidade de Araquari-SC, além do Memorial das Pessoas Indígenas.  Como o próprio nome indica, trata-se de uma maneira evocatória, exposta em monumentos, relembrando fatos, por vezes lamentáveis, do passado.

Sem compararmos com a realidade da doença, muitos patriotas sofreram a crueldade da morte, seja no patíbulo, no enfrentamento bélico aos colonizadores ou seus prepostos, e prepotência de autoridades imperiais e da República. Em 1823, outubro, 257 deles são presos,  nos porões do brigue “Palhaço”, estacionado em Belém, padecendo, asfixiados.  A sóror Joana Angélica é assassinada à entrada de sua clausura, a 20.02.1822, em Salvador, sem falarmos nos torturados e desaparecidos de 1964. Precisam todos ser lembrados, neste ano do Bicentenário da nossa Independência, talvez por uma CPI simbólica, mais uma vez acionado pelo historiador Randolfe Rodrigues. 

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