Com 27 mortes, janeiro é o mês mais letal da pandemia
Imunização não significa fim da pandemia, alertam autoridades envolvidas no combate à infecção
Matheus Augusto
A 11 dias de seu encerramento, janeiro já é o mês mais letal desde o início da pandemia: 27 moradores de Divinópolis perderam suas vidas para a covid-19. Para tentar frear o avanço da doença, a Prefeitura ganhou uma nova aliança, a vacina Coronavac, produzida pelo Instituto Butantan, em São Paulo. Apesar da esperança, autoridades em saúde da cidade voltaram a ressaltar que a pandemia não acaba com a chegada do imunizante. Por isso, as medidas de prevenção devem ser mantidas.
O começo do fim
A primeira vacinada em Divinópolis foi a técnica em enfermagem, Fernanda Cândida da Costa, 34 anos, que atua na UTI e enfermaria do Hospital de Campanha contra a covid-19 em Divinópolis desde sua instalação na UPA. Ela recebeu a primeira das 7.258 doses recebidas, neste primeiro momento. O lote será suficiente para 3.629 pessoas do grupo prioritário - profissionais que atendem diretamente aos pacientes com Covid-19 na Upa, em hospitais e em unidades de saúde.
Ao Agora, ela disse se sentir grata pela oportunidade.
— Estou sentindo tudo ao mesmo tempo... estou sentindo um alívio por saber que chegou, eu estamos com uma luz no fim do túnel, mas ainda precisamos ter cuidado. É só uma luz. Ainda faltam muitas pessoas a serem imunizadas. Nosso trabalho é árduo, muito bonito, porém sofrido — comentou.
Após cerca de oito meses de atendimentos no hospital de campanha, Fernanda avalia que os profissionais, mesmo se esforçando para cuidar de todos os pacientes, imaginam o que poderia ser feito de diferente para salvar mais vidas.
— A gente chega para trabalhar e a gente deixa o paciente bem. Só de conversar com ele, ele já melhora bastante. Você sai com o sentimento de que poderia ter feito mais, doado mais. Esse sentimento que a enfermagem tem o tempo todo. Mas a gente já doa o bastante — explica.
A dedicação aos pacientes sintomáticos reflete na ausência em casa.
— Trabalhamos 12 horas. Nesse período, a gente não sabe o que acontece na nossa casa, a gente não atende telefone, por ser um local contaminado, a gente evita levar o máximo de contaminação para nossas casas. Então nessas doze horas nós estamos totalmente ausentes de nossas famílias — conta.
“A gente cuida de pessoas que a gente nunca viu na vida. Não sabemos de onde é, de onde veio, qual a história dele. Conhecemos lá dentro. (...) A gente cuida em silêncio. Muitos nem sabem nosso rosto, quem somos nós”, destacou.
Emoção
O presidente da Câmara, Eduardo Print Jr (PSDB), presente no evento, classificou o momento como histórico e relatou, como membro do comitê municipal, as dificuldades vivenciadas desde o início da pandemia para evitar o colapso da economia e saúde pública.
— Vivenciar esse momento magnífico é emocionante — definiu.
Em seguida, o prefeito Gleidson Azevedo (PSC) também falou sobre o marco na história da cidade e parabenizou os profissionais da saúde pelo empenho desde o início da pandemia.
— Vocês fazem parte da história da luta contra o coronavírus por darem a vida pelo próximo. Não tem preço o que você fizeram pela saúde de Divinópolis. E queria deixar meus sentimentos para as mais de 100 vidas que a gente perdeu durante a pandemia — lamentou.
O chefe do Executivo ainda celebrou a chegada das primeiras doses.
— A vacina é esperança da vida poder continuar — defendeu.
A vice-prefeita, Janete Aparecida (PSC), também se pronunciou.
— Temos fé que a vacina será a esperança para salvar nossa cidade e nossa nação — afirmou.
Por fim, o secretário de Saúde, Alan Rodrigo, agradeceu, com a primeira dose em mãos, o empenho dos médicos, enfermeiros e cientistas de todo o país e da Semusa.
— Esse frasco de esperança, esse pequeno frasco, traz uma infinidade de sentimento que a partir de hoje nos vai provocar — celebrou.
Por fim, ele ressaltou a importância de, com o início da imunização, as pessoas respeitem a ordem de vacinação.
— Começar pela Fernanda é começar pelas pessoas que ainda vão trabalhar muito para salvar vidas, porque ainda temos uma batalha muito grande pela frente — justificou.
Vacinação
Conforme antecipado pelo secretário de Saúde, Alan Rodrigo, foram formadas seis equipes de tático móvel (composta por 21 enfermeiros, técnicos e auxiliares de enfermagem) para vacinar os profissionais na linha de frente contra covid-19 na cidade. Apenas no hospital de campanha e na UPA, 63 doses foram aplicadas até o início da tarde de ontem. As equipes ainda visitaram o Centro de Saúde Central, Samu e os quatro hospitais da cidade.
— Em razão da grande maioria dos profissionais de saúde trabalharem em escalas de plantão, serão necessárias algumas visitas das equipes táticas a estes locais para aplicação das vacinas — explicou a Prefeitura.
O Samu, por exemplo, informou ter recebido 85 doses da vacina. A primeira imunizada foi a médica reguladora Dalila Faria
— A vacina neste momento veio como um combustível pra gente seguir. É a esperança que está renovando em um momento que toda a equipe da linha de frente já está exausta, cansada, fadigada, com muita tensão física e mental — destacou.
No São Judas Tadeu, profissionais da linha de frente contra a infecção também receberam a primeira dose da Coronavac. A infectologista Rosângela F. Guedes comemorou o início da imunização na cidade.
— Depois de um ano de tanta luta, com tantas mortes em nosso município, é uma alegria muito grande ver a vitória da ciência e a confiança que tenho nessa vacina do Instituto Butantan, que tem uma eficácia muito grande e que será uma arma poderosa para conseguirmos diminuir a ocupação de nossos hospitais e reduzir até 100% o risco de morte de uma doença que trouxe tanta tristeza e dor no ano de 2020 — destacou.
Segundo o administrador do hospital, Moisés de Magalhães, a vacinação traz segurança aos envolvidos no tratamento dos funcionários expostos no tratamento de pacientes com covid-19.
— Para nós, profissionais da saúde, que trabalhamos diretamente com o paciente, com a saúde, com a preservação da vida, é um momento histórico. Entendemos que a vacinação para os profissionais de saúde da linha de frente vai trazer uma segurança importante para que possam continuar se dedicando diariamente ao cuidado com o paciente — celebrou.
Dados
Com três semanas transcorridas, janeiro já é o mês mais letal desde março, quando o primeiro caso de covid-19 foi confirmado na cidade.
Março - 0
Abril - 1
Maio - 2
Junho - 10
Julho - 11
Agosto - 18
Setembro - 15
Outubro - 12
Novembro - 10
Dezembro - 22
Janeiro/21 - 27