Cleitinho anuncia projeto que prevê desconto para clientes sem tratamento de esgoto

Senador fez duras críticas à Copasa no Senado; empresa registrou lucro de R$ 843,4 milhões em 2022

Bruno Bueno

 

O senador Cleitinho Azevedo (Republicanos) anunciou ontem, durante seu pronunciamento na Tribuna do Congresso Federal, que irá protocolar um projeto que prevê desconto na tarifa de água para clientes que não recebem o serviço de tratamento de esgoto em casa. 

O ex-deputado estadual chegou a apresentar uma proposta parecida durante seu mandato na Assembleia (ALMG). O texto foi aprovado em primeiro turno, mas não conseguiu sair do papel antes das eleições do ano passado.

 

Críticas

 

Cleitinho usou a Copasa para justificar seu projeto para os senadores. 

— STF, me ajuda nisso daí. Eu quero propor esse projeto para o Brasil inteiro. (...) Lá na minha cidade, 90% do tratamento não existe, mas eles cobram do mesmo jeito. Peço o apoio de todos os senadores para combater essa injustiça. (...) — afirmou durante seu pronunciamento.

O senador também pediu ajuda para o governador Romeu Zema (Novo).

— Eu peço apoio dos governadores, principalmente do Zema. A Copasa está roubando a população mineira de várias formas. (...) Eu estou fazendo barulho pelo povo. Eu consigo pagar uma conta de água de R$ 400, mas pergunta se o trabalhador consegue — acrescenta.

 

Água

 

No Dia Mundial da Água, Cleitinho também fez críticas ao investimento feito por governantes no setor de saneamento básico. Segundo ele, o valor gasto com Fundo Eleitoral e Partidário (cerca de de R$ 6,05 bi) é superior aos investimentos dos últimos sete anos no setor. 

— A gente tem que parar com discurso de Dia Mundial da Água e começar a praticar. Nunca vi um país investir mais em política do que em saneamento básico. Além da água que não é tratada, tem a questão do tratamento de esgoto. Lá no meu estado se cobra 73% de um serviço que não existe. A população mineira é roubada — disse.

 

Lucro

 

Dados divulgados nesta semana mostram que o lucro líquido da Copasa foi de R$ 843,4 milhões. A deputada estadual Lohanna França (PV) também usou as redes sociais para criticar a prestação de serviço da empresa.

— Copasa anuncia lucro recorde, enquanto milhares de mineiros sofrem com a falta de água. O Governo de MG é quem mais lucra com essa alta, mas deixa os mineiros à própria sorte em um direito tão básico. A quem interessa que a Copasa encha o governo Zema de dinheiro enquanto os investimentos caminham a passos de tartaruga? Ao povo mineiro é que não é — criticou em nota.

Lohanna também cobrou investimentos do governo estadual na Companhia de Saneamento.

— Sabemos que dinheiro não falta: de 2006 até março de 2020, a Copasa distribuiu mais de R$ 3 bilhões a seus acionistas, valor mais que suficiente para regularizar o abastecimento de água em 131 municípios de Minas Gerais. Zema tem um projeto claro: investir menos que pode, deixar a população de saco cheio com a empresa e privatizá-la com dinheiro em caixa para agradar milionários — completa a parlamentar.

 

Problemas

 

Moradores de Divinópolis sofreram com problemas na prestação de serviços da empresa. A falta de água é, de longe, a principal carência há mais de uma década. Um enorme desabastecimento atingiu 10 bairros da região Sudeste no mês passado. Na época, a empresa disse ter iniciado a construção de uma nova adutora para resolver o problema.

A Mesa Diretora da Câmara de Divinópolis emitiu uma nota de repúdio contra a empresa, alegando que a Copasa “fere os direitos humanos quando restringe o acesso de água à população”. Outra moção também foi encaminhada para o governador do Estado.

 A vice-prefeita e secretária de governo Janete Aparecida (PSC) chegou a dizer que estudava a possibilidade de revogação contratual da estatal. Além disso, o Ministério Público também afirmou que as medidas judiciais cabíveis serão adotadas mediante à situação.

 

Arsae

 

O Agora entrou em contato com a Agência Reguladora de Serviços de Abastecimento de Água e de Esgotamento Sanitário do Estado de Minas Gerais (Arsae-MG) sobre a falta de água que afetou o Sudeste de Divinópolis.

Em nota, o órgão disse que não foi notificado sobre o fato.

 — Porém, realizamos atividades rotineiras de acompanhamento dos indicadores de desempenho dos prestadores regulados. Ações de fiscalização também são recorrentes. No caso específico do município de Divinópolis,  a Arsae-MG possui vários processos fiscalizatórios em andamento e já foram aplicadas sanções que totalizam aproximadamente R$ 335 mil — ressaltou o órgão fiscalizador em nota enviada ao Agora. 

 

Reclamações

 

As reclamações sobre problemas na prestação de serviços são diárias. Daniel Ribeiro é morador da região Sudeste e sabe bem sobre esse problema.

— É vergonhoso. Já faz quase uma década que moro aqui e a situação continua a mesma. A gente paga por um serviço que não temos. Se esse projeto do Cleitinho vingar, vai ser muito interessante para nossa região — opina.

 

ETE

 

A obra da Estação de Tratamento de Esgoto (ETE) do Itapecerica se apresentou como solução para resolver o problema. As instalações tinham previsão de entrega à população para 2016, mas as obras só começaram em 2017.

A promessa é que a Estação garanta 100% do tratamento de esgoto de Divinópolis. Ao Agora, a estatal informou no fim do ano passado que a conclusão das obras deve acontecer somente em 2024. 

A reportagem procurou a Copasa para registrar novas atualizações sobre o caso, mas não obteve resposta até o fechamento desta página, por volta das 17h15.

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