Ciclo vicioso

 

Editorial

“Cada povo tem o governante que merece.” Frase constantemente usada, e não é de hoje, para criticar alguma gestão. Errada? De jeito nenhum. Os representantes políticos nada mais são do que o espelho do seu povo. E, sim, essa é uma enorme verdade. Com raras exceções, é claro. Uma semana após os ataques golpistas em Brasília, a vida começa a retornar à sua normalidade e, como de costume, os golpes fazem parte desta rotina e começam a vir à tona. Não que eles deixaram de existir, mas com a proximidade do início do pagamento do Imposto Sobre Propriedade de Veículo Automotor (IPVA) o que não faltam são as mais variadas modalidades. Se a vida do brasileiro não fosse dura o bastante, ele precisa dormir de olhos abertos para não perder o pouco que tem para pagar as contas. E se os governantes são apenas o espelho do seu povo, que os elege por afinidade, por identificação, tudo faz sentido. Sim! E é exatamente por isso que o Brasil parece ser um eterno país em desenvolvimento. O mesmo povo que cobra responsabilidade, respeito, ética e transparência de seus representantes é aquele que dá o seu jeitinho para absolutamente tudo. Seja um golpe, aquele amigo conhecido que pode ajudar “por baixo dos panos” para agilizar algo que seria demorado, ou furando uma fila, o que não faltam são exemplos do famoso“jeitinho brasileiro”. 

A hipocrisia toma conta do país. Os mesmos que vão para as ruas, fazer manifestações, exigir isso ou aquilo são apenas o reflexo daqueles que estão no poder. Em Divinópolis é muito fácil mostrar isso. Por aqui funciona assim – quem conhece os bastidores da política sabe bem – se o meu bairro faz parte do reduto eleitoral de algum político, se existe algum interesse populista naquele lugar, pronto, basta sentar e esperar que as melhorias chegam. Não é o governante cumprindo a sua missão, ou o vereador tal fiscalizando e cobrando, apenas levando o que foi prometido a seu reduto. Mas engana-se quem pensa que o povo é vítima nessa história. Enquanto tiver gente para se aproveitar desse tipo de comportamento, é óbvio que o ciclo vicioso vai se repetir, como sempre foi e, pelo visto, sempre será. Na verdade, tudo seguirá na mais perfeita e absoluta sintonia, afinal, ambos os lados têm ganhos. 

De um lado um povo, que está cansado, sim, sobrecarregado,  desesperançoso; do outro, governantes que se aproveitam desta situação e que fazem de tudo pelos holofotes. Ou seja, ambos se completam. E é exatamente neste ritmo que a vida segue. Um povo que exige mudança, que cobra uma postura que não tem, mas que acredita cegamente ter este direito. Afinal, “faça o que eu falo, mas não faça o que eu faço”. O povo cobra, o povo quer, os governantes fingem que aceitam as cobranças, mas na verdade todos já são velhos conhecidos nesse jogo, que apenas é um ciclo vicioso, mais nada, sem previsão de ter fim... E assim a vida segue no seu mais “perfeito” e absoluto ritmo.

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