Casos de feminicídio chocam região e psicóloga traça perfil dos criminosos

Duas mulheres e uma menina foram assassinadas por ex-companheiros em menos de um mês

Da Redação

Crimes envolvendo mulheres mortas exclusivamente por gênero, ou seja, vítimas de feminicídio – motivados por ódio, são recorrentes em todo país e nos últimos dias, dois casos semelhantes chocaram a população em Divinópolis e São José dos Salgados, onde ocorreram o assassinato de três vítimas do sexo feminino.

O Jornal Agora relembra, nesta reportagem, os dois casos mais recentes deste tipo de crime e mostra, ainda, uma entrevista exclusiva com a psicóloga Sângela Cruz, que fala do perfil dos assassinos.

— Executar uma mulher motivado a algo que tenha saído fora do controle do homem é claramente uma resposta à construção da masculinidade tóxica — define. 

Segundo a Secretaria de Estado Justiça e Segurança Pública (Sejusp), somente em Minas Gerais já foram registrados 142 feminicídios tentados e consumados em 2022. No mesmo período do ano passado o número foi ainda maior, 149 casos.

 

Últimos casos 

Em maio deste ano, na madrugada da última segunda-feira do mês, uma mulher de 36 anos e a filha, de 12, foram vítimas de um homem que já dividiu com elas o mesmo teto. O suspeito, Magno Honorato dos Santos, de 44 anos, era ex-companheiro da vítima. 

Com passagens anteriores por homicídio, ele agiu premeditadamente com publicação de ameaças nas redes sociais e matou com requintes de crueldade. Antes de sofrer queimaduras, mãe e filha foram esfaqueadas pelo homem. Ele resistiu aos ferimentos e foi hospitalizado na ocasião.

A repercussão dos crimes ganhou destaque em todos os veículos de comunicação da região, inclusive no Agora, e mais uma vez chocou.

Em ação conjunta, a Polícia Militar e Polícia Civil se mobilizaram para encontrar o suspeito, com intuito de que ele fosse penalizado na Justiça, mas o homem foi localizado já sem vida.

 

Caso em Carmo do Cajuru

 

No mesmo modo de agir, a imprensa noticiou na última semana, a morte de Daniela Oliveira, 35 anos, em São José dos Salgados, distrito de Carmo do Cajuru. A suspeita da polícia é que a vítima tenha sido morta enquanto dormia. Ela foi encontrada ainda na cama, com dois sinais de perfuração de arma de fogo na nuca.

O crime foi descoberto pela família. O enteado de Daniela, filho do autor, foi quem viu primeiro o corpo da madrasta sem vida.

O suspeito, Reginaldo Lopes, fugiu após o crime e também, no dia seguinte, foi encontrado morto. Tirou a própria vida. 

 

Análise psicológica

 

Na análise da psicóloga Sângela Cruz, tirar a própria vida, deixa claro o sofrimento psíquico do sujeito que não dispõe de nenhuma condição para lidar com os próprios atos. 

— O suicídio, após uma crueldade tão grande como tirar a vida de uma mulher ou mais de uma, tem muitas vezes como fato adicional e covarde, o autor dar cabo à sua própria vida, em seguida. Foi o que ocorreu nos últimos casos registrados. São indivíduos que, claramente, carregavam consigo patologias graves relacionadas ao narcisismo, por exemplo. Ou seja, dentro de uma ótica onde tudo precisa estar totalmente de acordo com o que este homem espera, quando alguma coisa vai acontecer diferente do esperado, se vê em uma situação vulnerável e é levado ao extremo pelos próprios pensamentos. O resultado são atitudes extremas como matar quem ele julgou ser  responsável por tê-lo colocado em situação de vulnerabilidade — explicou. 

A psicóloga prossegue e diz que as atitudes extremas adotadas por autores de feminicídios são, sobretudo, uma resposta à construção social da masculinidade tóxica.

— Executar uma mulher, motivado a algo que tenha saído fora do controle do homem, é claramente uma resposta à construção da masculinidade tóxica. O homem carrega em si a convicção de que ele está no controle de tudo. Ele é quem dita os rumos dos acontecimentos e mais: vê a mulher como propriedade. A meu ver, o respaldo judicial precisa alcançar essas mulheres antes do decreto de morte. Para isso, ela precisa ter coragem e denunciar no primeiro ato violento do companheiro, ainda que seja um ato de agressão verbal — pontuou.

 

Foto/Divulgação/Rede social  

Legenda: Os dois suspeitos tiraram a própria vida 

 

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