Carnaval, sua festa, sua cultura

O Carnaval como conhecemos hoje não é muito diferente de sua origem mais remota. Claro que eu prefiro mais ficar nas danças, na alegria, nas festas, nas músicas e nas celebrações.

Com a associação a liberdade é farra, e em alguns casos até a libertinagem, alguns exageram, expondo demais a sexualidade, seja em corpos nus, em danças eróticas ou então em fantasias como a que vi em BH de um homem com o membro sexual masculino com mais de 1 metro de forma inflável, em plena luz do dia. Como explicar isso para uma criança de 4 anos. Não se explica, simplesmente afasta o ambiente familiar.

Não sou nenhum puritanismo, mas critico a hipocrisia e a incoerência de algumas autoridades por permitirem certos abusos nessa época, como se desse permissão só para o Carnaval. A celebração pode ter suas vertentes, mas se a festa possui uma certa liberdade sexual, que seja restrita a locais fechados e somente para adultos, como nos antigos carnavais do “Gala” em SP. Deixando para as ruas e TVs abertas somente o que fosse permitido às crianças. 

Falando de sua origem, segundo a mitologia grega, o carnaval vem dos festejos e comemorações do Deus Dionísio, na Grécia Antiga. Dionísio era o deus das festas, do teatro, do vinho (e da videira) dos ciclos vitais da Terra. Não à toa, suas celebrações eram naturalmente regadas a muito vinho. Entre todas as festas realizadas em sua homenagem, a da chegada da primavera era muito especial. Morria todo o inverno e renascia na primavera, assim como as plantas e, especialmente, a videira. Para entendermos melhor, enquanto para nós, no hemisfério sul, o mês de março encerra o verão e dá início ao outono, no hemisfério norte, ele encerra o inverno e dá início à primavera. Por isso essas festividades eram sempre programadas para essa época do ano!

No Império Romano, o deus Dionísio passou a ser chamado de Bacchus, em português, Baco, e as celebrações, os bacanais, ganharam cada vez mais proporção, regadas sempre a muito vinho e grandes banquetes. As pessoas costumavam sair gritando e dançando pelas ruas, vestidas de peles de animais selvagens, e cometiam todos os tipos de excessos. Seu grito de guerra? “Evoi! Evoi!” – origem do grito carnavalesco “Evoé!” – acompanhado de flautas e tambores.

O nome Carnaval, inclusive, deriva daí: Carne Vale, os últimos pecados da carne, tanto do corpo quanto do prato.

A celebração da chegada da primavera foi oficializada pelo calendário cristão. Isso, por causa de uma feliz coincidência: a festa se dava exatamente antes do início da Quaresma, na Quarta-Feira de Cinzas do calendário Cristão ocidental (Católico).

A Quaresma é o período dos 40 dias anteriores à Páscoa, considerado propício para recolhimento, jejum e abstinência. Nada mais natural que o Carnaval, então, passasse a ser considerada a última grande festa de excessos antes deste período sagrado.

Como foi seu carnaval? Me envie um e-mail contando.

 

Alguns trechos de frases a respeito do tema abordado

 

E agora, José?

A festa acabou,

a luz apagou,

o povo sumiu,

a noite esfriou,

e agora, José?

e agora, você?

você que é sem nome,

que zomba dos outros,

você que faz versos,

que ama, protesta?

e agora, José?

(Carlos Drumond de Andrade)

 

Festejar é legal

Divertir-se é fundamental

E inclusive no carnaval 

O Respeito é essencial

(Welber Tonhá)

 

Não me fantasiavam: no meio das preocupações com minha mãe doente, ninguém em casa tinha cabeça para carnaval de criança. Mas eu pedia a uma de minhas irmãs para enrolar aqueles meus cabelos lisos que me causavam tanto desgosto e tinha então a vaidade de possuir cabelos frisados pelo menos durante três dias por ano. 

(Clarice Lispector)

 

Terminado o Carnaval, eis que nos encontramos com os seus melancólicos despojos: pelas ruas desertas, os pavilhões, arquibancadas e passarelas são uns tristes esqueletos de madeira; oscilam no ar farrapos de ornamentos sem sentido, magros, amarelos e encarnados, batidos pelo vento, enrodilhados em suas cordas; torres coloridas, como desmesurados brinquedos, sustentam-se de pé, intrusas, anômalas, entre as árvores e os postes. Acabou-se o artifício, desmanchou-se a mágica, volta-se à realidade.

(Cecília Meireles)




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Welber Tonhá e Silva 

Imortal da Academia Divinopolitana de Letras, cadeira nº 09

Historiador, escritor, pesquisador, fotógrafo e fazedor cultural.

Instagram: @welbertonha

 

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