Carnaval bate à porta
Augusto Fidelis
O carnaval bate à porta, quer entrar, é tempo de folia. Eu até que me esforço, mas já não tenho o mesmo ânimo de correr do Boi da Cara Preta. Sinto tonteira ao rodopiar entre pierrôs e colombinas. Não tenho mais certeza de quem é o Zezé, porque na atualidade há tantas cabeleiras parecidas. Vejo tanto riso, tanta alegria no meio do salão, mas com o tempo aprendi que cachaça não é água.
Um dia desse recebi uma postagem com a figura de um bebê e de um idoso, ambos de andador. Embaixo uma advertência: “O início e o fim são iguais, aproveite o meio”. Enquanto isso, vira e mexe alguém me pergunta: quantos anos você tem? Confesso que às vezes me sinto atordoado ante a esta indagação, por dois motivos: não concordo com a crueldade da minha Certidão de Nascimento, mas também tenho consciência que já não me enquadro nos padrões de juventude convencionados pela sociedade.
Acredite se quiser meu caro leitor, estimada leitora, mas vejo aumentar a cada dia o cordão dos desavisados que me chamam de “Senhor”. A minha amiga Nair fica furiosa quando alguém a chama de senhora: “Se me chamar de senhora é sinal de respeito, me desrespeite, por favor”, enfatiza.
Infelizmente, ser jovem apenas em espírito não basta, porque o tempo não larga o chicote. É uma dor aqui, ali, acolá. Para o ex-governador de São Paulo, Mário Covas, depois dos 40, se acordar de manhã e não sentir nada é porque morreu. Ao sentir o exaurir da mocidade, exclamou Fábio Sexugi: “Não quero perder aquilo que mais admiro na juventude: a inquietação”.
Para um jovem tudo tem mais graça, mesmo os cabelos desalinhados, a calça desbotada ou até rasgada, muito abaixo da cintura, o brinco na orelha esquerda. É uma fase de buscas, de entusiasmo de arroubos. “Quem não tiver entusiasmo na juventude, nunca o terá”, admoestou o General Freitas certa vez aos recrutas do Tiro de Guerra 04-019.
Enquanto isso, aqueles que aproveitaram a idade do gozo, sonham em manter a mesma energia e vitalidade, como clama a Deus o poeta Jadir Vilela de Souza num de seus sonetos: “Por que, Senhor, é curta a mocidade / E assim também tão curta a nossa vida. / Que bom seria se em qualquer idade / a velhice não fosse percebida.”
Eterna é a luta da humanidade em busca da vitalidade eterna, sem sucesso até o presente momento. “Choremos a juventude e a velhice também, pois a primeira foge e a segunda sempre vem”, alerta Teógnis. Mas é Nanda Volpe quem aponta o verdadeiro culpado pelo sofrimento de quem tenta se agarrar à juventude que se esvai mais depressa do que se deseja: “O tempo é o maior dos ladrões, ele nos rouba a infância, a juventude, a beleza, a saúde, a consciência até por fim nos roubar a própria vida.”