Carmo do Cajuru é logo ali

Charles Guimarães

 

 

Quando minha família, no final da década de 1960, aportou em terras divinas, eu nem pensava – nem visualizava – no futuro venturoso que estava por vir. Também o que poderia pensar um menino com 5 anos apenas? O meu presente e o meu futuro pertenciam aos meus pais naquele momento. Eu não havia assimilado a cultura de lá – de Montes Claros – e, pelo que vi no decorrer dos anos, é diferente da cultura destas bandas. Portanto, estava novinho em folha para receber todas as informações daqui. Pen-drive tirado do plástico. E foi o que aconteceu. Estudei no Jardim de Infância da Igreja São Cristóvão, ensino fundamental e médio no Padre Matias Lobato. Meu primeiro emprego no Banco Mercantil do Brasil aos 16 anos. Mas, nesse meio tempo, eu costumava pegar minha bicicleta e seguir pela estrada velha de Carmo do Cajuru, pois a estrada “nova” era bem mais movimentada, poeirenta e cheia de cascalhos, o que tornava a aventura um tanto quanto perigosa. Quando não ia me refrescar na praia do Alemão, gostava de parar na ponte de madeira que separava os dois municípios. Mas, por receio ou por pura bobeira, eu não chegava a ir a Carmo do Cajuru. Foi trabalhando no banco que consegui atravessar a ponte e conhecer “Cajuru”, para os íntimos. É que lá também tinha o mesmo banco.  Como a maioria dos bancários gosta de provar uma cachacinha da boa, o intercâmbio etílico foi inevitável. Ao som do violino do seu Ladico, que Deus o tenha, passávamos momentos de puro deleite, ora exaltando, ora reclamando da vida de bancário. Aos 23 anos de idade, depois de 7 anos como bancário, fui convidado a me retirar. A crise veio e afetou o setor. Sarney, político experiente, raposa velha, não estava dando conta de segurar o tranco. Falava bem, administrava mal. O Brasil “degringolava”! Perambulei entre um emprego e outro até conseguir uma vaga para trabalhar de representante comercial.

– Você vai trabalhar em Divinópolis, Carmo do Cajuru, Araújos, Perdigão, Nova Serrana e Pitangui – foi o que o patrão falou. Entusiasmado, comecei por Carmo do Cajuru. Puxa! Era tanta fábrica de móveis que valia a pena abrir mão de outras cidades e ficar só ali. Foi o que fiz. Na verdade, não foi só o que fiz. Fiz muitas amizades. Amizades comerciais, de bola, de boteco, ou tudo junto. Apaixonei-me pela cidade. As pessoas, o lugar, a cultura, que é diferente da de Divinópolis. Mesmo as duas sendo tão próximas. Cada uma com suas peculiaridades, seus matizes, seus trejeitos. Ando pelas ruas de “Cajuru”, sempre para os íntimos, e as pessoas me cumprimentam. Pessoas que eu sei o nome, que eu nem me lembro mais o nome, pessoas que sabem o meu, pessoas que não me conhecem, mas pensam que me conhecem. Sem receios. Respondo a todos de forma cordial e feliz. E, por saberem disso, me consideram como cajuruense. Carmo do Cajuru comemorou, no dia 27 de dezembro, 68 anos de emancipação política. Uma jovem senhora sempre de braços abertos para receber quem a ela recorre. Eu que o diga. 25 anos se passaram desde a primeira vez que peguei a minha pastinha de vendedor e vim me aventurar em uma profissão nova numa cidade nova. Essa tatuagem de cajuruense está gravada no meu coração. Impossível apagar. Parabéns, Cidade dos Móveis! Parabéns, “Boca da Mata”! Parabéns, Cajuru! Pois já somos íntimos, bem íntimos!

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