Câmara também completa 111 anos em meio a turbulências
Grandes vereadores já passaram pelo Legislativo de Divinópolis
Bruno Bueno
A Câmara de Divinópolis completa 111 anos nesta quinta-feira. Os primeiros vereadores tomaram posse no dia 1º de junho de 1912 e instalaram o Município. A eleição dos parlamentares aconteceu meses antes, no dia 31 de março. As reuniões preparatórias foram realizadas no fim de maio do mesmo ano.
11 décadas depois, o Legislativo de Divinópolis vive, atualmente, um momento de turbulências e conflitos. Pelo menos dois parlamentares estão sendo investigados pelo Ministério Público sob suspeita de corrupção ativa e passiva. Agressões verbais, e, às vezes, físicas, também são frequentes.
Turbulências
Não há clima para o aniversário de Divinópolis e da Câmara. A atual legislatura vive o momento mais conturbado desde o seu início.
Eduardo Print Júnior (PSDB) e Rodrigo Kaboja (PSD) são investigados por corrupção ativa e passiva pelo Ministério Público (MP). O primeiro perdeu o cargo de presidente da Câmara e o segundo foi afastado da vereança. De acordo com Rodyson do Zé Milton (PV), a lista ainda inclui outros 12 parlamentares.
Agressões verbais são recorrentes nas reuniões. Diego Espino (PSC) e Print, por exemplo, têm protagonizado discussões acaloradas e ataques pessoais nas últimas semanas.
A relação com o Executivo também é conturbada e varia conforme o interesse de cada parlamentar. Edsom Sousa (Cidadania) entregou o cargo de líder do governo e votou contra Gleidson Azevedo (Novo) na denúncia que pedia a cassação de seu mandato.
O começo
Nem sempre foi assim. Em 1912, os parlamentares se reuniram na casa de Juca Viegas, um dos vereadores, para a primeira reunião da Câmara da história. A primeira Mesa Diretora foi composta por Antônio Olímpio de Morais (presidente), Adolpho Machado (vice) e José Nogueira (secretário). Manoel Antônio de Almeida, Octávio Machado Gontijo, Joaquim Fonseca Viegas e João Severino também eram membros da primeira legislatura.
Antônio Olímpio foi eleito com cinco votos. Em seu discurso, prometeu "trabalhar pelo adiantamento intelectual desta terra". Também pediu que todos trabalhassem e cooperassem pela grande da vila.
Grandes nomes
O primeiro juramento dos vereadores foi “trabalhar com dedicação e patriotismo pelo bem e prosperidade do Município". Naquele momento, a Vila de Henrique Galvão, primeiro nome de Divinópolis, estava instalada.
Pedro X. Gontijo participou da instalação. Em um vibrante discurso, falou sobre a luta pela emancipação do Município.
— Padre Matias Lobato fez uma oração e o senador Dr. Leopoldo Correa, representante de Itapecerica disse que veio assistir à emancipação política de um povo irmão, de um antigo Distrito que honrava o município que representava — afirma o relato oficial da Câmara.
Os vereadores assinaram uma ata de agradecimento aos membros da Comissão de Instalação do Município: Padre Matias Lobato, Pedro X. Gontijo e Francisco Machado Gontijo.
Controle
O controle de Divinópolis era exercido, na época, pela Câmara Municipal. O presidente também acumulava a função de agente executivo, o que corresponderia hoje às atribuições de prefeito.
— O grupo de vereadores discutia e tomava as decisões que eram implementadas pelo agente executivo, acompanhado pelo secretário e tesoureiro. Desta forma, podemos considerar que Antônio Olímpio de Morais foi, além do primeiro presidente da Câmara, o primeiro prefeito — relata o texto oficial da Câmara.
A primeira votação importante da Câmara aconteceu em setembro de 1912, quando os vereadores enviaram para o Governo do Estado a solicitação de mudança do nome da Vila de Henrique Galvão para Vila Divinópolis. No mesmo período, por meio da Lei Estadual 663, Divinópolis é elevada à categoria de cidade.
Momentos importantes
Flávio Ramos é secretário-geral e servidor efetivo do Legislativo há 15 anos. Somado ao tempo como jornalista em coberturas, ele tem mais de quatro décadas de experiência na Câmara de Divinópolis.
— Tenho a lembrança de vereadores bastante empenhados em resolver os problemas da cidade. Não havia discussões e debates pessoais, brigas entre vereadores, discussões, acusações. Existia confronto de ideias, debates sobre os posicionamentos de oposição e debate ideológico, já que estávamos em um período de governo ditatorial no país — comenta.
O secretário se recorda de grandes debates em reuniões da Câmara na década de 80.
— O debate era sobre o processo de democratização, sobre novas regras, qual o país que a gente queria, qual a cidade que a gente queria. A gente imaginava que Divinópolis caminharia para ser uma Uberlândia. (...) Debates sobre a qualidade do ar, meio ambiente, valorização. Hoje ninguém mais fala isso.
Grandes vereadores
Políticos marcantes na história de Divinópolis também estão na lembrança do secretário-geral.
— Nós tivemos grandes vereadores. José Constantino Sobrinho, por exemplo, fez um trabalho excelente nas bases da sociedade. Era negro e se dedicava muito nas causas. Ari Soares, Mauro Corgozinho, Antônio Paduano também são nomes marcantes. Discutiam uma Divinópolis para o futuro. Hoje é muito factual — disse.
Arthur Diniz Filho, Dr. Márcio Miranda, Geraldo Magela, Rui Tavares, Pastor Divino, Fernando Ordones e Francisco Lima foram outros vereadores citados pelo servidor.
Flávio também relembra Alberto Gigante Quadros, um dos principais responsáveis pela elaboração da Lei Orgânica de Divinópolis em 1988, após a promulgação da Constituição Federal Brasileira.
— Algo inovador na Lei Orgânica foi instituir a Tribuna Livre nas reuniões da Câmara. Foi algo inédito e que acabou sendo copiado pelas casas legislativas em todo o país. E é algo muito importante. Quando o cidadão fala na tribuna, o vereador está dizendo que ele está no mesmo nível do eleitor. Isso é muito bonito — acrescenta.
Mais lembranças
Flávio também falou sobre outros momentos importantes da Câmara, como a mudança para a nova sede, em 1995.
— Os trâmites foram organizados pelo então presidente da Casa, Domingos Sávio. Conseguimos um prédio estadual, onde funcionava o antigo fórum. Isso proporcionou uma estrutura de apoio para os vereadores e sua equipe de trabalho. Antes, os parlamentares usavam todos a mesma sala. Agora isso não existe mais — salienta.
O secretário-geral também falou sobre a reforma do espaço. As obras foram inicializadas neste ano pelo então presidente Eduardo Print Júnior (PSDB).
— A reforma da Câmara também é essencial, principalmente para a adequação do local. A conservação do patrimônio público é um dever de todos nós. Precisamos deixar um legado para as gerações que estão vindo — pontua.
O papel da Câmara
Flávio Ramos enfatiza que, apesar dos problemas, a Câmara dos Vereadores trabalha para o povo de Divinópolis.
— Nunca vi um vereador que não luta pela cidade, mesmo os mais polêmicos. Discussões acontecem, mas todos querem o melhor para a cidade. É como uma “caixa de abelha”: se alguém fala mal de Divinópolis, eles vão atrás — destaca.
Por fim, o secretário falou sobre o aniversário da cidade. Para o servidor, Divinópolis se reinventa a cada período histórico.
— A história mostra que a cidade se fortalece. Passamos pela ferrovia, fortalecemos a siderurgia, atuamos na confecção e agora somos a capital dos estudantes. Quando você acha que ela está de joelhos, Divinópolis se levanta com a força divina. Daqui 111 anos a cidade continuará sendo destaque em Minas — disse.