Bebê é picado por cobra e espera mais de 8h para receber antiofídico

‘Quase perdi meu filho por negligência na UPA’, relata o pai; cascavel saiu de matagal no bairro Serra Verde

 

Bruno Bueno

O contador Diego Antonio da Silva, de 33 anos, vive momentos de tensão, desespero e sofrimento. Seu filho, de apenas 1 ano e nove meses, luta pela vida desde que foi picado por uma cascavel na última segunda-feira no bairro Serra Verde, em Divinópolis. 

Além de acompanhar a dor de seu filho, Diego também passou por uma experiência traumatizante na UPA Divinópolis. Segundo ele, seu bebê esperou mais de oito horas para receber o soro antiofídico contra o veneno do animal peçonhento. Com a demora, ele precisou levá-lo para um hospital particular, onde finalmente conseguiu atendimento.

Ocorrência

Diego relata que estava trabalhando no momento da ocorrência. No entanto, conta, baseado no relato da esposa, como tudo aconteceu.

— Ele estava caminhando com meu pai. Na frente da minha casa tem um pasto onde o pessoal faz muitas queimadas. Quando isso acontece, os bichos saem para a rua. Ele pisou nas folhas e essa cobra estava por baixo. O bote foi imediato. Meu cunhado levou ele para a UPA e minha esposa me avisou — afirma.

Desesperado com o acontecido, o pai chegou na UPA primeiro do que seu filho e já providenciou a ficha no local. O drama da família estava apenas começando.

— No primeiro momento, eles levaram meu filho para a sala de emergência. Ficamos em observação até eles tirarem o sangue. Tirou o mínimo, pois já estava coagulado. Eu tive que voltar para casa para buscar um documento e minha esposa ficou com ele. Quando voltei, ainda não tinham dado nada. Teve que repetir o exame porque coagulou muito — conta.

Drama

O contador explica que seu filho só recebeu o primeiro medicamento após 5 horas na unidade. No entanto, o remédio utilizado não surtiu o efeito esperado. Indignado com a situação, Diego providenciou a transferência para o hospital particular.

— Por volta de 23h, ele começou a sentir dor e eles deram dipirona. Foi ali que ele começou a piorar. Meu filho não abriu o olho e começou a ficar pálido. Começamos a procurar um hospital para ser transferido com urgência. Eu falei que tinha plano no Santa Mônica e discutiram porque eu não tinha avisado. Eu perguntei porque eles não tinham me solicitado isso — explica.

O pai ressalta que os profissionais da UPA lhe disseram que não poderiam aplicar o soro porque não havia médicos e nem CTI disponível. A sala era necessária caso o soro apresentasse efeito adverso. Contudo, os problemas ainda continuavam.

— Nós conseguimos vaga no Santa Mônica e a equipe médica tratou ele muito bem. Ele chegou no hospital com falência respiratória e foi entubado. Outro problema foi quando disseram que o médico do Hospital João XXIII, de Belo Horizonte, aconselhou que tinha que ministrar menos dose de soro. Na verdade, faltou soro. Eu tive que ir na UPA buscar mais doses — ressalta.

Diego desabafa ao questionar os procedimentos utilizados pelos médicos e outros profissionais. 

— Quase perdi meu filho por negligência deles, principalmente da Prefeitura. A justificativa é que não tinha profissional e nem CTI. Por que tem soro e não pode ser aplicado? Por que não abastece o soro nos hospitais? — desabafa. 

Quadro atual

O estado médico do bebê melhorou em relação ao começo da semana, mas a situação, segundo o pai, ainda preocupa.

— Ele teve uma melhora e conseguiu sair da intubação, mas ainda está com dreno para retirar o restante do veneno. A preocupação ainda são os rins por não terem aplicado o soro imediatamente. O médico do hospital disse que o correto era iniciar no momento que ele chegasse na UPA. Chegamos lá às 16h30 e saímos às 23h só com uma dipirona — salienta.

Mesmo com a melhora, o menino não responde pela fala desde a aplicação da dipirona no início da semana. Segundo o pai, ele “está muito tempo desacordado, mas começou a responder com as pernas”.

Prefeitura

Questionada, a Prefeitura de Divinópolis informou que, segundo a administração da UPA, o atendimento da criança foi realizado de forma imediata.

— Durante o atendimento, todos os procedimentos cabíveis e necessários foram realizados e o atendimento foi pautado na orientação do Centro de Toxicologia do Hospital João XXIII — relatou em nota.

A resposta do Executivo detalhou os procedimentos realizados no atendimento a criança.

— Após identificação de atendimento emergencial que demandaria uma possível intervenção optou em se realizar a transferência do paciente, assim foi solicitado a sua vaga, mas o pai do paciente manifestou que possuía plano de saúde e que poderia utilizá-lo. Sendo assim, a remoção foi realizada pelo Samu com prescrição para realização de soroterapia de acordo com as orientações do Centro de Toxicologia do Hospital João XXIII — finaliza.

Mais problemas

O caso alerta para outro grave problema. De acordo com o pai, a criança foi picada após pisar na cobra, que estava escondida nas folhas em um matagal. As frequentes queimadas no local promovem a saída de animais do habitat natural para o ambiente urbano, conforme ele. 

A secretária e vizinha da vítima, Thainá de Oliveira, presencia diariamente essa situação.

— O pessoal coloca fogo sempre. Isso prejudica a saúde das crianças, idosos e dos adultos com problemas respiratórios. Incomoda demais. Sobre os animais, eu já matei duas cascavéis dentro da minha casa. Todos meus vizinhos já mataram cobras de aproximadamente 1,20m — pontua.

Segundo a moradora, a Prefeitura realiza limpezas periódicas no local. Contudo, o problema ainda não foi resolvido. 

— Há uns três meses o pessoal estava limpando. A questão mesmo é o fogo que eles colocam. Em frente a casa do menino, por exemplo, dois tatus morreram devido às chamas. É uma covardia — finaliza.

Multa

De acordo com a Prefeitura, a multa prevista para queimada em lotes pode chegar até R$ 11.980 quando o Corpo de Bombeiros constatar a presença de árvores. Os valores aplicados para cada ocorrência estão dentro dos limites da lei ambiental vigente pelo Conselho Municipal de Conservação e Defesa do Meio Ambiente (Codema).

— Ao constatar queimadas, o cidadão deverá acionar o Corpo de Bombeiros Militar a partir do número 193 — relatou a Prefeitura.

 

 

 




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