Assessores de Marra trabalhavam na loja particular do vereador, acusa Espino

Diego afirma ter visto funcionários do parlamentar no local durante o horário de trabalho na Câmara; Flávio rebate acusações e garante que vídeo divulgado foi editado

 

Bruno Bueno

O atrito político envolvendo Diego Espino (PSC) e Flávio Marra (Patriota) está longe do fim. Desgastada desde o início da legislatura, a relação entre ambos esquentou após Marra protocolar uma denúncia contra Espino alegando infração político-administrativa por quebra de decoro parlamentar. A admissibilidade do processo foi aprovada pela Câmara nesta semana.

Indignado, Diego Espino prometeu “revelar a verdade dos fatos” por meio de vídeos que supostamente comprovam sua inocência. O primeiro deles foi divulgado ontem. Além de explicar sua versão da história, Espino denunciou que os assessores de Flávio Marra trabalhavam na loja particular do vereador durante o horário que eles deveriam estar na sede do Legislativo. 

 

A denúncia

O trajeto que Espino utiliza para chegar à Câmara passa, segundo ele, na porta do estabelecimento de Marra. Conforme o parlamentar, a presença de assessores em horário comercial do Legislativo era constante.

— Me chamou a atenção porque em diversas vezes eu vi assessores do parlamentar trabalhando no local. Um dia eu avistei o chefe de gabinete no estabelecimento e posso confirmar que ele estava trabalhando lá — denunciou.

Espino divulgou uma conversa onde supostamente o vereador conversa com um assessor parlamentar de Marra.

 

Espino: “Você é chefe de gabinete lá?”

Assessor:  “Sou.”

E.: “Mal pergunte: em um horário desse você pode estar aqui trabalhando?”

A.: “Na verdade, o João estava ali na praça.”

E.: “Quem é João?”

A.: “João é o cara que trabalha aqui.”

 

Diego também divulgou um vídeo que mostra sua versão da história sobre uma das acusações de Marra. O processo enviado ao Legislativo afirma que Espino constrangeu um assessor que teria levado um ofício para o vereador assinar. O fato aconteceu no dia 25 de março. 

— O que você tava fazendo atrás do balcão? Eu te vi, eu te vi! — diz Espino.

— Eu só vim deixar um “negócio” pro Flávio. Eu não estou trabalhando, não, o cara que saiu agora. Eu só vim pegar um papel — responde o assessor.

 

Questionou

Espino continua questionando as ações do assessor no estabelecimento de Marra.

— Agora eu te pergunto: o que o assessor do vereador estava fazendo na loja particular dele em horário comercial. Em uma entrevista (...) o vereador disse que estava do outro lado da rua e que o assessor foi até o local para entregar um documento. Primeiro o assessor diz que veio deixar um negócio que o Flávio pediu. Cadê o ofício na mão do assessor? Agora ele alega que veio buscar um papel. Já na entrevista o vereador disse que o assessor levou um ofício para ele assinar — perguntou.

Flávio Marra afirma que estava do outro lado da rua e presenciou todo o ocorrido. Espino, no entanto, nega que isso tenha acontecido.

— O vereador disse que estava do outro lado da rua. Mas, se ele estava, por que não veio falar comigo? Sabe por quê? Porque ele não estava lá! Não só nesse caso mas em todos os outros ele faltou com a verdade. (...) Não vai ser desta vez que a mentira vai prevalecer — avaliou.

 

Contragolpe

À reportagem, Flávio Marra rebateu as denúncias feitas por Diego Espino e relatou ter se surpreendido com a postagem.

— Recebi esse vídeo do outro vereador e fiquei espantado pela edição muito mal feita que ele fez com vários cortes. Eu tenho um vídeo que mostra o que realmente aconteceu naquele dia. (...) A verdade dos fatos tem que ser apurada — afirmou.

Espino apresentou dois episódios em que supostamente os assessores de Marra estariam trabalhando na sua loja particular. O primeiro deles aconteceu em fevereiro. Flávio negou as acusações e justificou o motivo de seu funcionário estar no local.

— No primeiro dia em questão, meu assessor pegou serviço às 8h da manhã. Como lá na Câmara o expediente é de seis horas, ele parou às 14h. O vídeo foi gravado às 16h. Ele não foi na loja para trabalhar como assessor e muito menos como funcionário do estabelecimento. Ele estava lá porque precisava conversar comigo. Ele estava sentado, e não trabalhando. O vereador não mostrou isso — pontuou.

Flávio também esclareceu sobre a segunda denúncia que, inclusive, é peça-chave do pedido de cassação protocolado por ele contra Espino. Marra rebateu as falas do colega parlamentar e confirmou que estava do outro lado da rua.

 — Sobre a segunda denúncia: no dia em questão, o meu outro assessor me ligou e disse que eu precisava assinar um ofício hoje porque ele deveria ir para a Polícia Militar hoje. Eu falei que poderia trazer na loja. Até ele chegar eu tinha atravessado a rua para ir à farmácia. Podem olhar, em frente à minha loja tem uma farmácia — relatou.

 

Omissão?

Marra disse que a edição feita pela equipe de Diego Espino omitiu alguns fatos que ocorreram no dia em questão. 

— No vídeo do Diego ele não mostra que meu assessor disse para ele que não estava trabalhando no local e que o funcionário da loja estava fazendo a reposição do freezer. Eu fiquei muito assustado e meu assessor também. Ele, inclusive, fez um Boletim de Ocorrência por ter se sentido coagido. Ele também está entrando com um processo contra o vereador — afirmou.

O BO é um dos anexos do pedido de cassação. 

Flávio voltou a criticar a postura do parlamentar durante o fato.

— O vereador chegou e o meu assessor estava sentado ao lado de um cliente. Ele perguntou o que ele estava fazendo e meu funcionário disse que estava esperando o Flávio. O Diego disse que ele estava mentindo e trabalhando no local — ressaltou.

 

Outros episódios 

Entre os pontos da denúncia protocolada por Marra estão o constrangimento de servidores, acusações aos vereadores de ligação com ilegalidades, atuação política fora de Divinópolis, intimidação de profissionais da imprensa, ataque à honra da família da vereadora e agressão verbal contra os colegas da Casa. 

Diego aproveitou o espaço para negar todas as acusações. No episódio de Carmo da Mata, quando o vereador gravou vídeos em um hospital vazio, Espino argumenta que tinha apenas o intuito de questionar o porquê de a instituição estar com poucos pacientes enquanto Divinópolis vivia um colapso sanitário devido à pandemia. 

— Em uma outra oportunidade eu usei o termo “acabar com a teta” durante um pronunciamento na Câmara. Isso não é motivo para cassação, né? Outro dia eu perguntei a uma vereadora que o pai é assessor de um deputado estadual o porquê dele não trazer recursos para Divinópolis. Ainda teve uma ocasião com o vereador Israel da Farmácia, que eu respeito muito, e que, realmente, nós tivemos um atrito que não passou disso e já foi resolvido — acrescentou.

Todas essas denúncias, segundo o vereador, foram julgadas e arquivadas pela Corregedoria de Ética da Câmara.

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