Assessor revela medo após ameaças: ‘mudei minha rotina’

Fernando Henrique sofreu extorsão na Prefeitura de Divinópolis; suspeitos detidos pela PF queriam propina de edital da Cultura

 

 

Bruno Bueno

 

O assessor especial de Governo, Fernando Henrique Costa, concedeu uma entrevista exclusiva na manhã de ontem ao Jornal Agora. Ele falou sobre a prisão da quadrilha acusada de extorsão na Prefeitura de Divinópolis. 

 

Fernando relata ter sido a vítima das ameaças. Os suspeitos cobravam o repasse de 30% do valor de um edital da Lei Paulo Gustavo, de incentivo à Cultura, enviado ao Município. Os recursos chegaram, mas os quatro homens não receberam a quantia. 

 

Medo

 

As sessões de extorsão aconteceram no Centro Administrativo da Prefeitura. Fernando relata que está com medo de novas ameaças.

 

— Eu estou em uma situação complicada. Mudei minha rotina. Eu saí da Prefeitura escoltado, vim para cá escoltado. Fazia academia de manhã, não posso mais. Tomando banho eu deixo meu box aberto. Estou com medo, mas quando a gente tem um propósito, acho que vale a pena — explicou.

 

Entenda o caso

 

De acordo com o assessor, a proposta chegou ao prefeito Gleidson Azevedo (Novo) em março do ano passado. 

 

— O prefeito recebeu uma mensagem de uma pessoa falando que queria destinar uma verba para a Cultura. Ele passou o contato do secretário, porque ninguém recusa verba. A pessoa disse que precisava de um ofício assinado para enviar ao Ministério — relatou.

 

Fernando questionou o envolvimento da pessoa no Ministério da Cultura.

 

— O ofício falava da Lei Paulo Gustavo e a gente tinha conhecimento que o Município teria direito a receber valores sem precisar de ofício. Eu questionei e ele disse que tinha um contato no Ministério da Cultura para conseguir os valores, mas que precisava receber um valor para fazer o serviço — comentou.

 

Denúncia

 

A situação foi repassada ao prefeito, que comunicou a Polícia Federal e fez a denúncia. 

 

— A gente chegou a encontrar com essa pessoa e ele explicou como funcionava o esquema, exigindo o repasse de 30% para o grupo que conseguisse a verba. Inclusive, ele me ofereceu 5% — afirma o assessor especial. 

 

Um dos membros da quadrilha manteve contato e insistia que a verba iria chegar.  

 

— No mês de agosto, o dinheiro caiu. Eu falei para ele que o recurso já ia ser destinado para a Prefeitura de toda forma. Não tinha necessidade do ofício. Ele começou a fazer propostas de como eles iriam retirar esses 30% — salienta.

 

Esquema

 

Fernando afirma que o esquema proposto pela quadrilha usava de um edital fraudulento para conseguir os recursos.

 

— Ele explicou que a gente ia publicar um edital pronto e que só uma empresa teria condições de ganhar. Essa empresa administraria a verba. Ia comprar, por exemplo, um equipamento de som que custa R$ 30 mil, colocar como R$ 60 mil e repassar o restante — disse.

 

Apesar das ameaças, a Prefeitura seguiu o procedimento dentro da legalidade. 

 

Exoneração

 

Fernando Henrique foi exonerado em setembro e voltou pouco tempo depois. A saída foi um truque para despistar a quadrilha. 

 

— Foi uma jogada nossa. Eu precisava dar uma satisfação para ele. Se eu publicasse o edital que ele tinha pedido, a empresa ia colocar a mão no dinheiro — comenta.

 

O assessor retornou ao cargo e foi novamente cobrado.

 

— Eu disse que tinha perdido o controle da situação e a pasta da Cultura já tinha feito o edital de outra forma. Assim, não teria como repassar o dinheiro. Ele disse que o pessoal que arrumou a verba iria cobrar — disse.

 

Ameaças

 

Os meses passaram sem alteração no caso. No dia 16 de janeiro, Fernando recebeu uma mensagem solicitando um encontro. 

 

— Depois de desmarcar várias vezes, ele foi até a Prefeitura na última terça-feira. Ele entrou na minha sala junto do Douglas e de outras duas pessoas. Eu falei para ir à sala de reuniões — afirma.

 

Um dos quatro membros disse que era servidor do Tribunal de Justiça de São Paulo, lotado em Brasília, e responsável pela verba. 

 

— Meu papo com você é reto, eu vim buscar o dinheiro. Você pilantrou a gente. Pegou o dinheiro sozinho e agora eu quero minha parte — teria dito um dos membros da quadrilha, segundo relato de Fernando Henrique. 

 

Extorsão

 

As ameaças continuaram.

 

— O outro que estava de boné falou que era do PCC [Primeiro Comando da Capital], que tinha vindo do morro, que se dependesse dele já tinha me matado. Disseram para eu buscar o dinheiro com o senador ou o prefeito. Na cabeça deles eu estava fazendo parte do esquema. Mas eu não estava — explica. 

 

Os membros conseguiram informações privilegiadas da vida do assessor.

 

— Eles falaram que sabiam da minha rotina, onde que eu estava no dia anterior, onde que eu morava, que se eu não mandasse o dinheiro eles iriam me pegar. Um disse que iria cancelar meu CPF — argumenta. 

 

Prisão

 

O assessor fez contato com a Polícia Federal, que já estava monitorando a situação. 

 

Depois das novas ameaças, os indivíduos disseram que voltariam para pegar o dinheiro. Antes de sair do Centro Administrativo, eles foram detidos pelas autoridades. 

 

Segurança

 

A situação acendeu um alerta para a segurança do Centro Administrativo. 

 

— O Gleidson decidiu fazer uma gestão aberta. Qualquer cidadão que for à Prefeitura, se o prefeito estiver lá, ele é atendido pelo próprio. No entanto, diante deste acontecimento, eu fomos notificados para realizar melhorias e aumentar a segurança — pontua. 

 

Críticas

 

Questionado sobre a ciência da Prefeitura sobre o caso, Fernando rebateu as críticas.

 

— Não querem entender que a gente tinha esse conhecimento. O prefeito decidiu fazer a denúncia para desmantelar a quadrilha — acrescenta.

 

O assessor deixou claro que o caso não é político. 

 

— Alguns até me perguntaram se eu iria ser candidato a vereador. Isso é mentira — finaliza.

 

Polícia Federal

 

O Agora entrou em contato com a Polícia Federal, mas não obteve resposta até o fechamento desta página.

 

 

 

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