Arrependimento, humildade e misericórdia

Arrependimento, humildade e misericórdia

Ômar Souki

“Pedro disse: ‘Senhor, por que não posso seguir-lhe agora? Eu darei a minha vida por você!’. Respondeu Jesus: ‘Você dará a sua vida por mim? Em verdade, em verdade lhe digo: o galo não cantará antes que você me tenha negado três vezes’” (João 13, 37-38). Algumas horas depois, Pedro negou o Mestre por três vezes, para depois arrepender-se amargamente.  Quando estava perto de Jesus, afirmou que seria capaz de dar a vida por ele. Mas, confrontado com a possibilidade de ser preso e torturado, fraquejou. Teve medo. Essa passagem mostra a humanidade do apóstolo. Em um momento cheio de si, em outro, fraco como qualquer ser humano.

Talvez fosse preciso que justamente ele – aquele sobre o qual disse Jesus que construiria sua Igreja – tivesse que passar por tal provação e falhasse. Algo parecido aconteceu com Paulo que – ao perseguir os cristãos – caiu do cavalo, mas depois transformou-se no maior evangelizador de Cristo. Para que Pedro reconhecesse o valor da misericórdia divina, era preciso que ele se tornasse dependente da piedade do Mestre, que não só o perdoou, mas lhe pediu que “apascentasse as suas ovelhas”. Quando Jesus, depois de ressuscitado, apareceu para os discípulos na praia, fez questão de perguntar a Pedro por três vezes se ele o amava – correspondendo com as três vezes que ele o havia negado. E, após cada uma das afirmativas do apóstolo, o Mestre repetia a sua solicitação: “apascenta as minhas ovelhas”.

Jesus transmitiu a Pedro uma nobre missão, que só poderia ser levada a cabo com profunda humildade e abundante misericórdia. A culpa de Pedro por suas negações não só foi perdoada, mas a ele foi entregue uma missão maior do que a dos outros apóstolos, isto é, a pesada tarefa de dar continuidade àquilo que o Senhor tinha iniciado. E, ao fim de sua trajetória, aí sim, enfrentaria com coragem uma morte semelhante à do Mestre: “‘Em verdade, em verdade eu lhe digo que quando você era mais jovem, colocava o cinto e ia para onde queria. Quando ficar mais velho, estenderá as suas mãos, e outro colocará o cinto em você e o levará para onde não quer’. Jesus falou isso aludindo ao tipo de morte com que Pedro iria glorificar a Deus. E Jesus acrescentou: ‘Siga-me’” (João 21, 18-19). 

Esse trecho das Escrituras nos mostra a necessidade fundamental que temos de arrependimento e de humildade para merecermos a misericórdia divina. Em momentos de euforia, quando estamos superconfiantes, somos capazes de promessas exuberantes, mas, quando encaramos os desafios da vida, fraquejamos. Jesus nos mostra com força que, não importa quão fundo tenhamos caído, ele sempre estará lá, pronto para nos resgatar e, quem sabe, até mesmo nos oferecer uma missão mais nobre. Desde que haja arrependimento e humildade, a misericórdia de Deus nos será derramada abundantemente.   

 

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