Aqueles que se medalham

CREPÚSCULO DA LEI – Ano IV – LXX

AQUELES QUE SE MEDALHAM

A pessoa que ainda ocupa a presidência agraciou-se (fez graça para si mesmo) e entregou-se (fez para si mesmo) a medalha do Mérito Indigenista. A cerimônia aconteceu no dia 18 de março deste ano.

Muito, mas muito merecida a medalha. Mesmo.

Não se tem notícia na história deste país de algum presidente que tenha protegido tanto as comunidades indígenas como essa pessoa que ainda ocupa a presidência. Os indígenas nunca foram tão bem protegidos na pandemia, socorridos prioritariamente com remédios em abundância. Nunca foram tão protegidos dos genocídios articulados por garimpeiros e agromafiosos. Nunca foram tão protegidos das madeireiras e das mineradoras, nunca tiveram suas terras tão devidamente respeitadas e seu “habitat” nunca se manteve tão intocável.

Parece que as comunidades indígenas gostariam muito que a pessoa que ainda ocupa a presidência se mantivesse no poder infinitamente

Como é possível uma tal pessoa ser tão boa, generosa e justa com os índios deste país? É de arrancar lágrimas dos olhos. Comovente mesmo. Assim, nessa esteira do “deixa que eu me homenageio”, outras medalhas poderiam ter sido (já) entregues, já começando pelo bondoso Leopoldo II da Bélgica, e suas benfeitorias no Congo. Os africanos ainda se recordam dele com uma gratidão espantosa. Como foi carinhoso com os africanos.

Hernán Cortés também tem que ser lembrado por sua grande tolerância aos nativos astecas do passado (os mexicanos de hoje). Comovente. Que pessoa iluminada.

Como não se lembrar das atitudes pacíficas de Nixon diante da guerra contra o Vietnã? Quanta humanidade. E seu compatriota Obama nos conflitos do Oriente Médio? Veja-se como ele cumpriu sua promessa de levar Bin Laden a julgamento, bem como determinou o fechamento da prisão de Guantánamo logo no início do seu governo. Que líderes.

E o comandante Sharon diante da Palestina? Quantas atitudes fraternas, quanta respeitabilidade.

E o presidente Lincoln diante dos indígenas americanos rebeldes? Que demonstração de clemência. 

Como não se lembrar de Domingos Jorge Velho no cerco ao Quilombo dos Palmares? Que demonstração de civilidade. Que criatura dócil.

E Floriano Peixoto que deu nome de “Florianópolis" à sua prisão em Santa Catarina? Todos presos ali tratados com dignidade incomparável. Que altivez. Que galhardia.

E o presidente Bush “júnior”, que descobriu armas de destruição em massa no Iraque e tomou as devidas providências para levar democracia, liberdade e direitos humanos para lá? É outro país. Livre, democrático, próspero. Um modelo.

Não se pode esquecer Robespierre, exemplo de jurista da revolução francesa. Ponderado, tranquilo, imparcial e preocupado com a dignidade dos cidadãos contrarrevolucionários. Lutou contra o terrorismo e contra os abusos policiais. Inesquecível.

Claro que não se pode deixar de falar de Ustra. Que general. Que exemplo de respeitabilidade. Medalha de Direitos Humanos já.

E o Delegado Paranhos Fleury? Quantos serviços relevantes, uma referência em operações policiais democráticas. Um protetor dos Carlos.

Tem também o deputado das Neves mineiro. Tamanha integridade não pode ser esquecida.

Todas as homenagens ao juiz com voz estranha. Aquele, sim, honrou o Judiciário como nunca. E o ajudante dele, o procurador surfista? Que dupla sensacional, que argúcia, que respeito à Ética e aos princípios processuais.

E a pastora? Não, não é aquela que mandou mandar o marido, mas a outra que viu Jesus em uma árvore. É uma Eva moderna. Referência para os casais e defensora das famílias alternativas. Medalha de amor ao próximo.

Tem também os filhos do pai e suas mansões. Medalhas do empreendimento imobiliário.

Medalhas não faltam. São tantos, são muitos os dignos de si mesmos para se medalharem. A mão da história é assim para eles: tão generosa em suas páginas brancas e ricas  que até ela (também) escreve para si mesma.

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