Após ataques, Lohanna volta a ser alvo depois de criticar manifestantes

Parlamentar registrou boletins de ocorrência por crimes cibernéticos e contra idosa que a xingou

 

Bruno Bueno

Vereadora e deputada estadual eleita, Lohanna França (PV) foi alvo de diversos ataques nos últimos dias. As investidas verbais, físicas, digitais e presenciais aconteceram após ela criticar as manifestações realizadas na porta do Tiro de Guerra (TG), que defendem a intervenção das Forças Armadas para reverter o resultado das eleições presidenciais deste ano. A parlamentar disse que os atos promovem baderna e atrapalham o sossego dos moradores do entorno.

Além dos ataques cibernéticos, Lohanna precisou ser escoltada pelos seguranças da Câmara na reunião desta semana. Ela foi insultada por manifestantes que estavam no local para acompanhar um pronunciamento em resposta às críticas da parlamentar.

A vereadora voltou a chamar os manifestantes de “baderneiros” em uma publicação nas redes sociais após o ocorrido. Lohanna também disse que registrou dois Boletins de Ocorrência.

Entenda

Após denúncias de perturbação do sossego, Lohanna usou a tribuna da Câmara no último dia 29 para criticar as manifestações.

— Essas pessoas têm que fazer o que todo derrotado faz: vai pra casa, lambe as feridas e na próxima eleição faz melhor — afirmou.

Logo depois da fala, comentários de baixo calão foram recorrentes em portais de notícia que divulgaram o pronunciamento, além das próprias postagens da vereadora. Os xingamentos incluem “vaca”, “vagabunda”, “ordinária” e “desgraçada”. 

Escoltada

A situação escalou para pior na reunião desta semana. Manifestantes compareceram na sede do Legislativo para acompanhar o pronunciamento do promotor de Justiça aposentado Expedito Lucas. Ao sair da reunião para registrar um Boletim de Ocorrência contra os crimes cibernéticos, a parlamentar foi alvo de novos ataques e precisou ser escoltada pelos seguranças da Câmara. 

A reportagem esteve no local e registrou imagens do ocorrido. Os vídeos estão disponíveis nas redes sociais do Agora. Uma idosa foi contida pelos seguranças após encostar na vereadora e chamá-la de “vagabunda”. 

Boletins

O Agora teve acesso aos boletins feitos pela vereadora. Um deles é contra a idosa que agrediu a vereadora verbalmente. O documento afirma que a senhora foi secretária da administração do governo de Galileu Machado (MDB) entre 1989 e 1992.

— Nesse momento de escolta, a vereadora foi abordada pela senhora (...) que lhe atacava com os dizeres "você é uma vagabunda", com gestos enérgicos e ameaçadores em direção à vereadora, inclusive dirigindo-se violentamente em sua direção, sendo contida pelos  seguranças da câmara dos vereadores — consta o relato de Lohanna no boletim.

O outro B.O. foi lavrado contra os crimes cibernéticos sofridos pela deputada estadual eleita. 

Lamentou

Em entrevista concedida à reportagem após o ocorrido, Lohanna lamentou os ataques e questionou se o mesmo teria acontecido com um homem.

— O clima de polarização de ódio na política atinge principalmente as mulheres parlamentares. Com frequência, as pessoas deixam críticas na internet e têm muito mais coragem de destilar ódio contra uma mulher — frisa.

Mesmo com a perturbação, ela garante que não se arrepende das críticas.

— Após visualizar os ataques bolsonaristas feitos contra o patrimônio público em Brasília, percebo que o termo baderneiros foi uma palavra gentil que usei (...) — afirma.

Lohanna acredita que a situação deve ser normalizada após a posse do presidente eleito Lula (PT). A parlamentar ressaltou que respeitar a democracia é essencial para uma sociedade civilizada.

— Se você ficou satisfeito com as eleições, celebre. Mas, se não ficou, prepare-se para as eleições de 2024 e eleja vereadores e prefeitos do seu campo político — pontua.

Visita

Expedito Lucas disse à reportagem que o intuito da visita foi apenas dar uma resposta para a vereadora.

— Ela chamou a gente de malucos e baderneiros. Somos cidadãos de bem. Estamos apenas na luta há mais de um mês pelo nosso país. É um direito nosso de manifestação e liberdade. Vamos continuar fazendo — ressalta.

O promotor de Justiça aposentado ressaltou acreditar no país e nas autoridades.

— Essa resposta precisava ser dada para que ninguém acreditasse que somos baderneiros e criminosos. Na verdade, nós somos cidadãos que lutam pelo direito de ter um país livre, onde possamos dar um futuro melhor para nossos, filhos, netos e famílias — finaliza. 

Apoio

A reportagem também conversou com o vereador Eduardo Azevedo (PSC). O parlamentar apoiou a presença dos manifestantes na Câmara.

— É uma expressão de revolta pela forma como eles foram tratados. A vereadora no seu pronunciamento os chamou de baderneiros. São pais, mães, avós e pessoas de respeito. (...) Eles estão exercendo um direito constitucional. O que mais me intriga é que várias outras manifestações que foram feitas na cidade, como a Marcha da Maconha, foram respeitadas — disse.

Em sua avaliação, Lohanna realizou uma manifestação que fechou parte da avenida Paraná e, mesmo assim, foi respeitada.

— Nós permanecemos em silêncio, porque isso é um direito constitucional. Agora, por que eles ganham esse adjetivo negativo [baderneiros] só por estarem lutando por algo que eles querem? — questiona.

Por fim, o deputado eleito preferiu não opinar sobre os motivos da manifestação.

— Questão de suposta fraude a gente não pode falar nada. Eles estão aqui para manifestar sobre algo que eles acreditam. A manifestação é garantida pela Constituição — concluiu.

Repercussão

Lohanna recebeu apoio de muitas pessoas nas redes sociais. 

— Essa senhora só cabe o processo. Obviamente seu jurídico já está tomando frente nisso, né? É preciso colocar esse povo no lugar deles. Intervenção psiquiátrica é necessária. Não é mais brincadeira — opinou uma internauta.

Outros comentários também manifestaram amparo à vereadora.

— O que esse povo está querendo? Mudar o resultado de uma eleição porque o candidato deles não ganhou? Me poupe, nos poupe de tamanha ignorância. Força, Lohana! E dá-lhe processo! — declarou outro internauta.

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